Renda cai e desemprego fica estável

A taxa de desemprego nas seis maiores regiões metropolitanas do País ficou estável em abril, em 10,8%, segundo dados divulgados ontem pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). A renda do trabalhador, no entanto, apresentou queda de 1,8%, após três meses consecutivos de crescimento.

Em abril, o rendimento médio real do trabalhador ficou em R$ 938,70, ante R$ 945,20 em março. Segundo o coordenador da pesquisa, Cimar Azeredo, o trabalhador não conseguiu repor as perdas com a inflação no período.

A redução de 100 mil postos de trabalho na indústria também influenciou negativamente a renda do trabalhador. Isto porque a indústria concentra um grande número de trabalhadores com carteira de trabalho assinada, que tradicionalmente apresentam rendimento superior. Somente em São Paulo, região metropolitana de maior peso na indústria, a queda chegou a 97 mil vagas.

?O quadro que vinha se desenhando no cenário do mercado de trabalho era mais favorável em março. Fatores de origem macroeconômica, como o aumento dos juros e os problemas com a taxa de câmbio também afetaram o desempenho do mercado de trabalho?, afirmou Azeredo.

Segundo o técnico do IBGE, havia uma expectativa de que a taxa de desemprego começasse a cair mais cedo este ano. De acordo com a série histórica da pesquisa, o desemprego cresce até meados do ano e então entra em trajetória de queda. Com a mudança no cenário do mercado de trabalho em abril, Azeredo afirma que as chances desse adiantamento acontecer diminuíram.

?A situação é preocupante quando se compara com a evolução que vinha se dando no mercado de trabalho. Há queda no rendimento, perda no contingente da indústria na região metropolitana de São Paulo e redução no número de trabalhadores com carteira de trabalho assinada?, disse.

Para Azeredo, a mudança de perfil pode estar relacionada até mesmo ao início do processo de aumento da informalidade. ?Numa primeira leitura, isso pode mostrar o início desse processo. Quando há crise no mercado de trabalho, o primeiro item afetado é o trabalho formal?, afirmou.

Em abril, o número de trabalhadores com carteira de trabalho assinada registrou queda de 3.000 pessoas, uma variação que não é considerada estatisticamente significativa segundo a metodologia da pesquisa, após dois meses de alta.

Regiões

Segundo o IBGE, a única região metropolitana a registrar aumento do desemprego foi Salvador, onde a taxa passou de 15,7% para 17%. Em compensação, houve queda em Belo Horizonte, de 10,7% para 9,5%. O desemprego ficou estável em São Paulo (11,4%), Rio de Janeiro (8,6%), Porto Alegre (8%) e Recife (13%).

O número de pessoas desocupadas ficou em 2,4 milhões, o que representa estabilidade de março para abril.

Maioria não utiliza intermediários para colocação

Quase 70% dos desempregados no País que tomaram a iniciativa de buscar trabalho recorrem diretamente ao empregador, revela levantamento realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). De acordo com a pesquisa, 68,8% dos desempregados no País bateram à porta de empregadores para tentar arrumar trabalho. Entre as seis regiões metropolitanas analisadas, Belo Horizonte apresentou o maior percentual, de 81%.

A segunda providência mais freqüente entre os que procuram emprego foi recorrer a parentes, amigos ou colegas. Esta foi a última medida adotada por 14% dos desempregados consultados. Em Salvador, este percentual sobe para 29,6%.

Consultas a agências e sindicatos aparecem em terceiro lugar, com a opção de 10,7% dos desempregados no País. Porto Alegre e São Paulo foram as regiões metropolitanas onde esta opção foi mais freqüente, com 15,4% e 14,8%, respectivamente.

Os pesquisadores verificaram a última medida tomada pelas pessoas em busca de emprego, ou seja, mesmo os que recorreram diretamente ao trabalhador podem já ter procurado anteriormente agências ou ter respondido anúncios de jornais. As outras opções de respostas incluídas no questionário eram realização de concursos, consultas ao Sine (Sistema Nacional de Emprego), responder anúncios e iniciar empreendimento próprio.

A pesquisa mostrou que 80,7% dos entrevistados procuraram trabalho nos sete dias anteriores à pesquisa e que 19,3% procuraram nos 23 dias anteriores. Segundo Azeredo, o resultado mostra que ?a busca por trabalho no Brasil é constante?.

Segundo o coordenador da Pesquisa Mensal de Emprego, Cimar Azeredo, o resultado traduz a urgência da maioria dos brasileiros em busca de trabalho. ?Na prática, isso mostra o imediatismo, a tentativa de arranjar trabalho na hora?, disse.

Segundo Azeredo, uma parte do desemprego fica escondida sob a informalidade. ?A maior parte da população desocupada tem 11 anos ou mais de estudo. Essas pessoas podem se dar ao luxo de ficar mais tempo na desocupação (do que as pessoas de menor escolaridade e renda)?, disse.

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