Renault recua e suspende seu plano de demissões

A Renault do Brasil recuou e decidiu ontem cancelar o PDV (Plano de Demissões Voluntárias) aberto na última segunda-feira com intenção de eliminar 140 empregos da fábrica de automóveis de passeio em São José dos Pinhais.

Segundo a Renault, esse PDV – rejeitado pelos metalúrgicos – foi adotado para ajustar a produção da montadora à queda das vendas. Em comunicado divulgado à imprensa às 19h de ontem, a empresa argumentou que o empréstimo do FMI (Fundo Monetário Internacional) ao Brasil e a redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para carros médios “podem trazer uma reação positiva da economia”.

A suspensão do PDV -ofertando seis meses de assistência médica e um a dois salários e meio de benefícios -não significa que a montadora vai manter seu quadro de pessoal inalterado. “A Renault vai observar o mercado nas próximas semanas e decidir os ajustes em sua organização de acordo com as evoluções do mercado. Para tanto, disponibilizará Programas de Incentivos Financeiros e de Assistência de Recolocação para os colaboradores que tenham interesse nesses programas”, diz o comunicado oficial.

Na nota, a montadora ressalta que, “por atuar em um mercado competitivo, deve, permanentemente, ajustar suas linhas de fabricação e modificar sua organização para acompanhar a demanda do mercado”. A Renault informa que vai parar a produção na próxima semana (12 a 16) nas fábricas de veículos de passeio e de utilitários. Só no pátio, há 16 mil carros estocados. Na última semana de agosto, haverá nova parada na montagem. Em relação ao aumento da nacionalização dos veículos, apontado como um dos meios de evitar desemprego, a montadora diz que “opera atualmente com um índice de nacionalização de componentes entre 75% e 80%”.

A decisão de suspender o PDV teve a intermediação do governador Jaime Lerner. Em contatos telefônicos realizados desde a semana passada com o presidente da Renault do Brasil, Pierre Poupel, o governador solicitou a busca de soluções que preservassem os empregos, como a redução da jornada de trabalho (atualmente de 42 horas semanais) ou utilização do banco de horas.

Protesto

Em assembléia realizada na porta da fábrica, às 5h da manhã, cerca de 2 mil funcionários da montadora decidiram parar as atividades em protesto contra as demissões e para abrir um canal de negociação com o governo do Estado. Com isso, 325 automóveis deixaram de ser produzidos ontem na planta. Após a assembléia, um grupo de 350 empregados da montadora se dirigiu em sete ônibus para uma manifestação em frente ao Palácio Iguaçu. “É um protesto contra a omissão do governo nas demissões”, disse o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba, Cláudio Gramm. Depois, os trabalhadores invadiram a Assembléia Legislativa.

Na hora do almoço, uma comissão de sindicalistas foi recebida pelo secretário do Emprego e Relações do Trabalho, Newton Grein. Falando em nome do governador Jaime Lerner, ele comunicou o cancelamento das demissões previstas pela Renault e informou a abertura de negociação tripartite (governo do Estado, empresa e sindicato) junto com o Conselho de Emprego e Trabalho de São José dos Pinhais. Esse grupo ficará encarregado de discutir formas de aproveitamento dos trabalhadores que não serão mais dispensados.

“A posição do governador foi no sentido de articular outras alternativas que evitassem a demissão de trabalhadores”, explicou o secretário do Emprego e Relações do Trabalho, Newton Grein. “A queda do dólar e o aporte de recursos do FMI mudam um pouco o panorama da economia brasileira e podem viabilizar a manutenção dos empregos”, citou.

Empresa quer multar grevista

A Renault marcou uma audiência no Tribunal Regional do Trabalho (TRT), às 16h30 da próxima segunda-feira (12), com pedido de julgamento para declaração de greve abusiva por parte do Sindicato dos Metalúrgicos. A empresa pediu ainda multa de R$ 30 mil diários em caso de manutenção do movimento paredista. Os sindicalistas disseram que não estão preocupados com a ação, já que os empregados retornam ao trabalho hoje. “Paramos hoje (ontem) para conseguir abrir um canal de negociação”, disse Núncio Mannala, diretor do Sindicato dos Metalúrgicos. (OP)

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