Remessa de lucros cresceu 11,7% este ano

São Paulo (AG) – O forte ritmo da atividade econômica brasileira, puxada pela retomada da demanda interna e pela vigorosa expansão das exportações, proporcionará lucros históricos às empresas em 2004 e também um novo recorde para o país na área externa. As remessas de lucros e dividendos feitas por companhias multinacionais e por empresas brasileiras que têm ações negociadas em bolsas internacionais somavam US$ 7,154 bilhões de janeiro até novembro deste ano, cifra 32,57% maior que a do mesmo período de 2003.

O valor nos 11 primeiros meses de 2004 já é, inclusive, 11,7% maior que os US$ 6,4 bilhões em lucros e dividendos remetidos ao exterior pelas empresas instaladas no país em todo o ano passado.

Desde agora, trata-se do maior volume de transferências de lucros e dividendos do país desde a adoção do regime de câmbio flutuante, em janeiro de 1999. A tendência é que essa cifra suba ainda mais até o fechamento do ano, já que dezembro é tradicionalmente um mês com elevados volumes desse tipo de operação.

"Esse aumento de remessas é fruto de um conjunto de fatores. O ano de 2003 já foi melhor para as empresas, que continuaram expandindo seus ganhos este ano. Mas o dólar mais barato explica em boa parte esse salto agora nas remessas", diz Nélio Weiss, sócio da consultoria PricewaterhouseCoopers (PWC).

A conta é simples: uma empresa multinacional que tenha lucrado R$ 1 milhão em 2003 e remeteu o dinheiro ao longo do mesmo ano, quando o dólar médio ficou em R$ 3,50, engordou os cofres de sua matriz com US$ 285 mil. Se em vez disso a subsidiária no Brasil programou a distribuição dos ganhos para este ano, seus acionistas lá fora receberam US$ 370 mil.

Depois de arrematar em 1998 ? durante o leilão de privatização do Sistema Telebrás ? a operadora de telefonia fixa Telesp, de São Paulo, e algumas companhias de telefonia móvel em outros estados, o grupo espanhol Telefónica passou três anos sem distribuir os lucros auferidos no Brasil. Até 2001, além dos US$ 18 bilhões que desembolsou pelo controle das empresas que comprou aqui, o grupo investiu no país R$ 12,58 bilhões na ampliação e em modernizações de sua rede de telecomunicações. Somente a partir de 2002, a matriz espanhola, que detém 85% do capital das empresas do grupo no Brasil, começou a ver a cor dos resultados das subsidiárias.

Naquele ano, a Telefônica/Telesp registrou um lucro líquido de R$ 1,07 bilhão e distribuiu R$ 1,8 bilhão (valor bruto, ou seja, antes dos impostos) aos seus acionistas. Em 2003, foram R$ 3,38 bilhões na forma de juros sobre o capital próprio e dividendos. Este ano, o grupo distribuiu R$ 4,198 bilhões até o último dia 16.

O lucro da Telesp ? o principal negócio do grupo no Brasil ? nos nove primeiros meses deste ano foi de R$ 1,47 bilhão, o melhor resultado em 17 anos, segundo estudo da consultoria Economática.

Com a internacionalização dos negócios, grandes companhias nacionais também têm contribuído para engordar as remessas de lucros e dividendos ao exterior. Com ações negociadas em bolsas internacionais, empresas como Embraer, Companhia Vale do Rio Doce, Gerdau, AmBev e, mais recentemente, até a novata Gol têm de remunerar seus investidores lá fora e para isso precisam ir ao guichê do Banco Central (BC). Oficialmente, a autoridade monetária é quem faz a troca de reais pelos dólares que as empresas vão mandar para o exterior.

Para os especialistas, entretanto, a generosa safra de distribuição de dividendos deste ano pode não se repetir em 2005. As boas perspectivas para a economia brasileira, a maior clareza sobre os marcos regulatórios setoriais e a aprovação de instrumentos como as Parcerias Público-Privadas (PPP) podem fazer com que as empresas direcionem uma parcela maior dos resultados a novos investimentos no País.

Voltar ao topo