Reivindicações vão se intensificar na semana

São Paulo (AG) – As greves, que desde setembro paralisam bancários de todo o País e um bom número de metalúrgicos no ABC, devem se intensificar este mês. A partir de amanhã, os petroleiros iniciam protestos, com paralisações de 24 horas em diferentes refinarias e instalações da Petrobras. A categoria, que reúne 38 mil trabalhadores, reivindica 13,2% de aumento salarial, mas a Petrobras oferece a reposição da inflação, de 7,81%. O Sindicato dos Metalúrgicos do Rio, também, promete parar fábricas no estado por um reajuste maior de salários – eles pedem aumento de 15% e as empresas oferecem 6%, e em duas parcelas.

“Não está sendo priorizada a mesa de negociação e isso cria uma situação que leva à radicalização'”, diz o diretor do Sindicato dos Petroleiros do Estado de São Paulo, Antonio Carlos Spis.

Por trás do recrudescimento das greves, contudo, há razões objetivas. Depois de anos de perdas salariais, os trabalhadores buscam os maiores reajustes possíveis neste que é o melhor momento da economia do País em quase uma década. Além disso, a perspectiva de novas altas nos juros e a elevação da meta de superávit do governo trouxeram dúvidas sobre a expansão da economia no próximo ano.

“Estamos vivendo uma primavera sindical, que começou com os bons acordos obtidos pelo funcionalismo do setor público. Esse processo continua agora no setor privado”, diz o economista Márcio Pochmann, pesquisador da Unicamp.

Levantamento do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese) mostra que de 264 acordos salariais firmados por sindicatos no primeiro semestre deste ano, 79% conseguiram ao menos repor a inflação.

No serviço público, por exemplo, depois de anos com pequenos aumentos em gratificações, 369 mil servidores com Plano de Cargos e Classificação (PCCs) conseguiram reajuste de 10% a 33% este ano. Entre os servidores da Previdência Social e os técnicos administrativos das universidades federais, que somam 350 mil servidores, os ganhos variaram em percentuais semelhantes.

“O atual governo, diferente do anterior, concordou em negociar com as diferentes carreiras separadamente, mas os incrementos salariais ainda incidem sobre as gratificações, que são parte da remuneração”, ressalva o economista do Dieese no Distrito Federal, Max Leno.

Já no segundo semestre, os metalúrgicos das montadoras e do setor de autopeças do ABC paulista fecharam acordos que lhes garantiram aumento real (acima da inflação) de 3,9%. Desde o dia 20, porém, a categoria iniciou greves pontuais em indústrias menores do setor. Até sexta-feira, 51 empresas já haviam concordado em pagar o aumento de 9,57% dado pelas montadoras.

O movimento do ABC pode ser engrossado pelos 700 mil metalúrgicos da Força Sindical em todo o Estado de São Paulo, que começaram a negociar com os empresários semana passada. Ao contrário dos sindicatos do ABC, ligados à Central Única dos Trabalhadores (CUT), que anteciparam a data-base para setembro, os metalúrgicos da Força, que reúnem 51 sindicatos, têm data-base em novembro.

“Os quase 4% dos metalúrgicos da CUT são um parâmetro, queremos mais”, diz o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, Eleno José Bezerra, que na proposta levada a sindicatos patronais pede 15% de reajuste. “Se (as empresas) não apresentarem proposta aceitável até dia 19, vamos parar as fábricas.”

Referências

Clemente Ganz, diretor-técnico do Dieese, chama essa referência de acordos já fechados que exercem sobre negociações em curso “efeito farol” e diz que a fatia a ser abocanhada do atual ciclo de crescimento econômico é uma questão em aberto. “Com certeza há avanços em relação às negociações passadas, mas o ganho de cada um está em aberto.”

O presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), Claudio Vaz, chama a atenção para o fato de que, dentro de um mesmo setor, como o metalúrgico, a situação de empresas exportadoras é muito diferente da vivida pelas que vendem exclusivamente no mercado interno. Por isso, os ganhos dos trabalhadores tendem a ser diferenciados.

“Não dá para imaginar que os ganhos serão lineares porque há empresas do setor com 40% de capacidade ociosa ainda”, diz Vaz, acrescentando que o aumento dos juros e o arrocho fiscal tendem a afetar ainda mais quem vende internamente. “Não se sabe onde os juros vão parar e esses setores sabem que seu mercado será atingido.”

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