Redes buscam franqueados que tenham perfil pró-ativo

Foto: Aliocha Maurício/O Estado

Feiras são oportunidades para os investidores conhecerem melhor os requisitos do setor.

O poupador tem mais motivos para pensar em se tornar empreendedor – e franquias podem ser o caminho. Nada melhor do que ser dono do próprio negócio. Quem nunca pensou nisso – mesmo que uma única vez – atire a primeira pedra. A idéia seduz com mais força quando as aplicações financeiras apontam rentabilidade decrescente. É exatamente isso o que está ocorrendo neste ano, que promete fechar com taxas de juros tão baixas quanto aquelas dos anos 70s, o que reduz a atratividade dos investimentos de quem busca lucros mais altos. Mas, antes de zerar a poupança para abrir um negócio e vestir a pele de empresário, o investidor deve pensar duas ou, melhor, várias vezes.

Para o pequeno ou médio investidor, essa opção significa enfrentar a concorrência dos que já tiveram a mesma idéia antes e ainda uma elevada carga tributária. É uma alternativa para destemidos que, na hipótese de sucesso, poderão ter rentabilidade de até 45% ao ano -retorno bem superior à taxa básica de juros média, projetada abaixo de 15%, no final de 2006 Mas consultores especializados em pequenos negócios e franquias alertam: assumir o papel de empreendedor exige um perfil profissional agressivo, comprometimento com o negócio, inovação e criatividade contínua.

?Não dá para estabelecer um vínculo rígido entre a rentabilidade do investimento financeiro e a de um empreendimento. Um negócio real pode oferecer retorno muito maior ou mesmo nenhum retorno. A essência é o risco?, avisa o consultor em franchising Marcelo Cherto, presidente do Grupo Cherto. ?Existem grandes redes nos Estados Unidos que, por essa razão, não vendem franquias para analistas financeiros, por causa dessa comparação inevitável – e inapropriada – entre investimento financeiro e negócio real.?

É preciso desconfiar de promessas rígidas de rentabilidade. Os consultores ponderam que as médias são muito enganosas, mesmo quando se considera apenas um setor. No segmento de alimentação, o retorno pode variar de 5% a 45%. A distância entre pisos e tetos pode ser gigantesca mesmo considerando-se apenas uma única empresa franqueadora ou uma cidade de atuação.

Até poucos anos atrás, as redes buscavam franqueados com perfil meramente operacional – alguém capaz de gerir bem um negócio e, dali, tirar um bom sustento. Hoje, o perfil pretendido é o de gestores com visão empresarial ambiciosa: pessoas capazes de, a partir de um primeiro negócio, impulsionar o crescimento da rede.

Sintonia

Uma pesquisa do Sebrae indica que 80% dos pequenos negócios fecham nos cinco primeiros anos de funcionamento. Mas, quando se consideram apenas as franquias, o percentual cai para 15%. Já no primeiro ano, 30% dos pequenos negócios desaparecem, enquanto o percentual de franquias que naufraga, nesse período, é de apenas 3%. Essa é uma conseqüência do know-how e experiência acumulada pelos franqueadores, segundo a especialista Ana Vecchi, da Vecchi e Ancona Consulting.

O candidato a uma franquia deve estar atento ao fato de que não basta ter afinidade, como consumidor, com um determinado nicho de mercado para abraçá-lo como empreendedor. É essencial que o investidor tenha sintonia com o empreendimento. Para isso, é preciso levantar informações junto a franqueadores e franqueados para entender bem o modelo e a natureza do negócio.

Quatro questões são essenciais ao interessado

Antes de se lançar a um negócio, o gerente de Consultoria e Educação do Sebrae-SP, Antônio Carlos de Matos, recomenda que o interessado procure responder, com detalhes, um check list com quatro questões essenciais. ?Quem responde convenientemente a essas perguntas, e leva em conta as respostas no dia-a-dia do negócio, é bem-sucedido. Quem as ignora, pode fracassar até em setores muito favoráveis?, adverte o gerente. ?Muitos pequenos empresários, com negócios já em operação, chegam ao Sebrae em busca de orientação para superar dificuldades financeiras. São problemas que costumam ter origem em modelos mal-estruturados. Quase 100% deles buscam soluções para melhorar o retorno?, acrescenta.

Uma dificuldade comum é a falta de capital de giro: pequenos empreendedores que não conseguem receita na velocidade das despesas. Há situações em que o empresário espera de 60 a 90 dias para receber do cliente, mas precisa pagar o fornecedor à vista.

Outra queixa muito freqüente, apresentada ao Sebrae, é a de que faltam clientes. ?Talvez esta seja a campeã de reclamações?, diz Matos. Mesmo em pontos de venda considerados bem localizados, não basta abrir as portas e apenas esperar o freguês entrar. Este é um modelo ultrapassado. ?É preciso ter uma política de vendas bem-estruturada; saber agradar o cliente em pequenos detalhes, como a qualidade do atendimento, sem que seja preciso uma política agressiva de preços?.

O gerente do Sebrae destaca uma regra: trabalhe para o seu negócio – e não no seu negócio. O empreendedor não deve se preocupar em ficar no caixa ou em vender diretamente aos clientes.

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