A queda do preço da arroba do boi, verificada desde o ano passado, não vem sendo repassada na mesma proporção para o consumidor final. Pelo menos é o que tem se verificado no Paraná. Enquanto o preço médio da arroba passou de R$ 50,08 em junho do ano passado para R$ 44,57 em junho último – queda, portanto, de 11% em um ano -, vários cortes de carne subiram nesse mesmo período.
?O varejo não está repassando a queda de preços ao consumidor?, afirmou o médico veterinário Fábio Mezzadri, técnico do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (Seab). Conforme levantamento do Deral, entre os cortes que subiram nesse período estão o acém sem osso – que passou de R$ 5,07 para R$ 5,59 o quilo -, a alcatra sem osso – de R$ 9,35 para R$ 9,89 -, o contrafilé com osso – de R$ 6,73 para R$ 6,79 -, a carne moída de primeira – de R$ 7,00 para R$ 7,49 – e o patinho sem osso – que custava R$ 7,47 e passou para R$ 7,80. Todos os preços se referem às vendas no varejo.
Por outro lado, cortes como o filé mignon sem osso tiveram redução no preço: o quilo passou de R$ 17,43, em média, em junho do ano passado para R$ 15,79 em junho último – queda de 9,8%. Outros cortes tiveram reduções, porém menores. É o caso da costela com osso, que passou de R$ 4,08 para R$ 4,00, e do coxão mole, que custava R$ 8,76 há um ano e agora R$ 8,47.
Em Curitiba
Conforme levantamento da Secretaria Municipal de Abastecimento na capital, dos 14 cortes de carne vermelha analisados, sete registraram aumento de preços e sete, queda, na comparação entre ontem e o último dia 12 (quarta-feira). As maiores quedas foram verificadas no corte agulha/acém – que passou de R$ 4,41 para R$ 3,86, ou seja, queda de 12,47% – e paleta com osso – que caiu de R$ 5,25 para R$ 5,05, representando redução de 4,38%.
Na outra ponta, os maiores aumentos foram verificados na costela ripa – que passou, em média, de R$ 3,74 para R$ 4,02 (alta de 7,49%) – e coxão mole sem osso (de R$ 8,35 para R$ 8,91, ou seja, aumento de 6,71%). Os preços são pesquisados diariamente em 14 estabelecimentos (supermercados), dentro do projeto Disque-Economia.
Superoferta
De acordo com o coordenador estadual de Pecuária de Corte da Emater, Luiz Fernando Brondane, a situação da pecuária é uma das piores dos últimos 30 anos. ?Existem duas dificuldades principais: a primeira é que até setembro o Paraná não vai exportar carne (devido às restrições impostas pelo mercado internacional, com o aparecimento dos focos de febre aftosa) e a segunda é a seca, que está dificultando a engorda dos animais e fazendo com que muitos produtores se desfaçam do gado?, explicou.
O resultado é a superoferta de carne no mercado interno, que vem empurrando o preço da arroba para baixo, apesar do período considerado entressafra. ?Existe uma grande demanda de vendas, enquanto a procura está estagnada. Com isso, o preço tende a baixar ou ficar como está?, comentou. Para Brondane, a expectativa é que o preço da arroba melhore a partir de setembro.
Outro fator que vem pressionando o preço do gado para baixo é a desvalorização do dólar frente ao real. Segundo Brondane, o preço da arroba no mercado externo varia de US$ 21 a US$ 23. ?Em dólar o preço é bom. O problema é que o câmbio está ruim?, criticou. Mesmo no mercado interno, o câmbio é relevante. ?O frigorífico exportador é quem dá o tom do preço no mercado interno. E os frigoríficos que não exportam vão na sombra de quem exporta?, apontou.
Preços deprimidos
Para o assessor econômico do Sindicato da Indústria de Carne no Paraná (Sindicarne-PR), Gustavo Fanaya, o preço da arroba do boi deve continuar deprimido até que o Paraná retome as vendas tanto para o mercado interno como externo, o que não deve ocorrer antes de dezembro, acredita.
Sobre a falta de repasse integral da queda do preço do boi ao consumidor, Fanaya explicou que é natural o varejo aguardar e repassar a diferença apenas mais tarde. ?Eles se apropriam dessa diferença, até mesmo para fazer as promoções. É algo natural?, explicou.