Produtores rurais reclamam da crise

Produtores rurais de vários estados realizam manifestações hoje para pedir a renegociação das dívidas contraídas com a última safra, que passam de R$ 20 bilhões, e garantias para o plantio da safra 2005/06. Estão previstos bloqueios de rodovias. ?Não se trata apenas de uma crise passageira, mas de um problema de longo prazo que afeta toda a sociedade brasileira, principalmente a do interior, pelo inevitável aumento no desemprego no campo e nas cidades a curto prazo?, disse ontem o presidente da Federação da Agricultura do Paraná (Faep), Ágide Meneguette, ao mesmo tempo que anunciava o protesto no Paraná, que reúne milhares de produtores rurais hoje, às 11h, no Parque de Exposições de Londrina.

A mobilização servirá para alertar o governo federal sobre a situação em que se encontra a agropecuária estadual, em razão da quebra de safra, dos baixos preços e da falta de recursos para financiamento. Segundo Meneguette, os agricultores querem sensibilizar as autoridades federais a liberar recursos para o refinanciamento das dívidas junto aos fornecedores de insumos. Elas foram feitas por causa da escassez do crédito oficial.

?Se não houver o socorro financeiro, os produtores, que já contabilizam prejuízos históricos, ficarão inadimplentes e não terão condições de plantar a próxima safra?, adverte. Os fornecedores de insumos, por sua vez, não poderão financiar a sua parte, que complementa o escasso crédito rural.

Causas

Entre as causas da crise na agricultura e que motivaram os produtores a se mobilizar em caravanas que sairão do pedágio Rolândia/Cambé, por volta das 10h, dirigindo-se em seguida ao parque de exposições de Londrina, onde haverá grande concentração, estão o aumento superior a 25% nos custos de produção das lavouras brasileiras implantadas na safra 2004/2005, provocado pelo acréscimo nos preços das matérias-primas nacionais e importadas; a forte retração dos preços no mercado internacional da soja, milho, trigo e algodão, alcançando 35%, 29%, 25% e 31%, respectivamente; valorização do real frente ao dólar em cerca de 25% quando comparado com maio de 2004 (R$ 3,10 em maio/04 e R$ 2,46 maio/05) e condições climáticas adversas em várias regiões do País, com perdas da ordem de R$ 10 bilhões devido à falta de chuvas.

Propostas

As principais propostas do setor agrícola para uma alternativa aos problemas apresentados são: crédito emergencial na modalidade de capital de giro para produtores e cooperativas com recursos de crédito e poupança rural, com encargos de 8,75% ao ano, com prazo de pagamento de 3 anos e carência de 1 ano; renegociação das dívidas dos produtores e cooperativas (Pesa, Recoop e securitização); agilização na aprovação das operações de pré-custeio da safra 2005/06 e ação junto ao Banco do Brasil e agentes financeiros privados na operacionalização das medidas aprovadas para prorrogação dos débitos de custeio e investimento devido a dificuldade que as cooperativas e produtores estão enfrentando.

O setor agrícola pede, ainda, que o governo restabeleça a política de garantia de preço mínimo, pelo mecanismo de AGF/EGF para fortalecer a comercialização da safra e permita a prorrogação automática dos financiamentos de repasse feitos pelas cooperativas agropecuárias aos seus associados conforme previsto no MCR 6.2 e MCR 6.4, bem como a prorrogação dos financiamentos obtidos pelas cooperativas junto aos fornecedores de insumos, em regiões afetadas pela estiagem. Por último, pedem os produtores que o governo ?desconsidere os débitos prorrogados para efeito do cômputo dos limites de crédito para as cooperativas e produtores rurais junto aos agentes financeiros?.

Perda de grãos no Paraná chega a 21%

Levantamentos e análises concluídos pelos técnicos do Deral – Departamento de Economia Rural da Secretaria da Agricultura, indicam que as perdas na colheita de grãos passaram de 18,76% em abril, para 21,14% em maio. Com esta nova avaliação, estima-se que a produção da safra 2004/05 ficará em torno de 22,22 milhões de toneladas, ou seja, 5,95 milhões a menos que a previsão inicial (que era de 28,17 milhões ). Só com a soja o Paraná perdeu 3,3 milhões de toneladas, e com o milho normal, 891 mil toneladas.

Os produtos agrícolas que mais sofreram com a estiagem são soja, responsável por 54% dessa quebra; milho da primeira safra, com 15%; e milho da segunda safra, que representa mais 24%. O restante, 7%, é proveniente das demais culturas, como arroz sequeiro, 42%; algodão, 40,18%; feijão da seca, 35,95%.

Segundo o secretário da Agricultura, Orlando Pessuti, os prejuízos chegam a R$ 2,42 bilhões, valor que os produtores deixaram de receber caso tivessem vendido suas produções no mês de maio.

As regiões mais prejudicadas com a seca foram as do Oeste e Sudoeste do Estado. Nos municípios que compõem o Núcleo Regional/Seab de Francisco Beltrão as perdas chegaram a 713 mil toneladas, enquanto que na região de Toledo foram 638 mil toneladas. Os municípios do Núcleo de Campo Mourão perderam 522 mil toneladas, os de Ponta Grossa, 494 mil toneladas, e os que integram o Núcleo Regional de Londrina, 486 mil toneladas. Os agricultores da região de Cascavel tiveram quebra de 444 mil toneladas, enquanto que os de Cornélio Procópio, 398 mil toneladas.

Colheita

A colheita de grãos de verão desta safra atinge 98,4% das áreas plantadas, contra 97,5% da safra 2003/04, neste mesmo período no ano passado. Algumas culturas deverão encerrar a colheita nos próximos dias, como a soja (99,6% já foram colhidos), mas o milho da primeira safra deverá se estender até meados de julho.

A safra passada apresentava, no mês de maio/2004, uma comercialização de 56,6% dos grãos de verão. Na atual safra o volume desses grãos comercializados é de 37,4%. ?A principal causa da retenção da produção por parte dos agricultores ainda são os baixos preços praticados no momento?, explicou Dirlei Antônio Manfio, responsável pelo Setor de Previsão de Safras da Secretaria da Agricultura.

Culturas de inverno

O Deral também reavaliou a área a ser plantada com as culturas de inverno, que é estimada agora em 1.647.928 hectares, ou seja, 2,7% menor que a estimada em abril, quando se previa uma semeadura de 1.694.924 hectares. A área que deve ser plantada nessa safra é 6,2% inferior à registrada na safra passada, e sua produção atualmente prevista é de 3,7% inferior (3,57 milhões de toneladas contra os 3,71 obtidos na safra 2004).

A semeadura dos grãos de inverno já atinge 58,4% da área atualmente prevista. O trigo, responsável por 73,4% da área ocupada com estes cereais, está com 62% plantado.

Voltar ao topo