Produto do lixo para as vitrines das lojas

O que antes iria para o lixo agora está virando artigo de luxo. O couro de peixe, produto que era dispensado na hora da venda do produto, está virando uma alternativa de fonte de renda para quem trabalha com artesanato. O programa “Couro de peixe”, projeto que faz parte do programa Universidade Sem Fronteira, da Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti), ensina moradores do litoral paranaense a trabalhar com o couro e produzir materiais para sua comercialização. Além do aspecto social, por gerar empregos e uma fonte de renda, o programa também aborda uma questão ambiental, pois evita que quilos do couro de peixe sejam despejados no meio ambiente.

Uma das bolsistas do programa, a recém-graduada no curso de Administração, Gisele Cristina de Julio Pucci, conta que o trabalho para o couro de peixe existe desde 2004, mas só no ano passado ele foi incorporado ao Universidade Sem Fronteira. “A ação começou em Guaratuba. No início, eram apenas quatro mulheres envolvidas com esse projeto. Felizmente, ele foi ganhando força e, no momento, esse grupo de Guaratuba conta com 16 pessoas.

Elas receberam orientação de como curtir o couro, como fazer artesanato, produzindo bijuterias, cintos, bolsas, entre outros, e já estão mostrando sua produção em diversas feiras, inclusive em outros estados”, revela. Pucci diz também que esse grupo recebeu equipamentos para poder trabalhar com a matéria-prima, o que auxiliou as mulheres a formar uma associação e para seguir em frente com as próprias pernas.

O programa volta agora suas atenções para a localidade de Pontal do Paraná e também para a comunidade da Ilha do Mel. Segundo uma das orientadoras do programa e professora de artesanato, Zilca Maria de Souza Andrade, a escolha por Pontal deve-se ao seu Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que não é muito favorável.

“Acreditamos que esse programa seria mais interessante para a população pontalense. A prefeitura local se interessou e tem nos ajudado bastante. Esperamos poder gerar uma frente de trabalho a mais para os moradores daqui e, quem sabe, fazer de Pontal do Paraná um expoente na produção do couro de peixe”, avalia. Ela diz ainda que a expectativa é de abrir o curso na primeira quinzena de maio.

Outro integrante do projeto, Anderson de Almeida, explica que a ideia é pegar pessoas que não tenham experiência nessa área para ministrar o curso, que tem duração de quatro a cinco dias. “Já estamos cadastrando as pessoas e, felizmente, a procura tem sido grande. Contudo, o curso é para 20 pessoas, mas há a possibilidade de abrir uma nova turma conforme for a demanda”, encerra.

Daniel Caron
Zilca Maria Andrade, Gisele Cristina Pucci e Anderson de Almeida. Grupo acompanha o projeto do programa Universidade Sem Fronteira, que está sendo desenvolvido no litoral paranaense.

Um processo de sete fases

Uma das preocupações do projeto de couro de peixe está no processo de curtição do material. Para fazer isso, a matéria-prima passa por sete processos: a retirada da pele do peixe, o congelamento, a limpeza, um processo químico para transformar a pele em couro, o tingimento por meio de outro processo químico, a fixação da cor e, por fim, o couro é cortado para ser comercializado. Após isso, o couro é vendido para artesãos e até para estilistas de moda.

O interesse em ter esse cuidado deve-se porque para fazer o curtimento é necessário a utilização do elemento químico, cromo, um metal pesado altamente poluente e cancerígeno, cujo uso necessita de uma licença do Exército Brasileiro e de um controle especial feito pela Polícia Federal (PF). No curso, eles esperam reduzir o uso desse produto e criar o chamado “couro ecológico”. Segundo a bolsista do programa, Gisele Cristina de Julio Pucci, eles pretendem usar produtos biodegradáveis.

Localidades

Na Ilha do Mel, o projeto de uso do couro do peixe em artesanato será enviado em breve para a Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e do Ensino Superior (Seti). Orientado pelo oceanógrafo Euler Batista Erse, o projeto, intitulado Uma Alternativa de Trabalho e Renda para o Litoral Paranaense, prevê a qualificação ambiental e a rotulagem do produto.

No outro lado do Estado, no município de Boa Vista da Aparecida, região oeste, um projeto da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) pretende ensinar aos moradores da localidade a trabalhar e confeccionar o couro de peixe de rios, como a tilápia e o pacu, espécies fáceis de serem encontradas na região.

Daniel Caron
Primeiramente a pele do peixe é retirada, logo depois congelada, limpa e passa por um processo químico para transformar a pele em couro. A carne é aproveitada e a nova alternativa vira lucro para as famílias de pescadores.
Daniel Caron
A partir daí o couro é tingido e cortado, para depois ser utilizado na fabricação de artesanato. Pequenos grupos de mulheres artesãs já desenvolvem o trabalho e ganham com as vendas dos seus produtos.
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