Produção de café terá redução de 16% no Paraná

A produção paranaense de café em 2003 será 16,6% inferior à do ano passado, de acordo com estimativa do Deral (Departamento de Economia Rural). Segundo a projeção, o Estado deve colher 2 milhões de sacas, contra 2,4 milhões em 2002. Na produção brasileira, espera-se uma queda ainda maior, de -36,1%. Depois da safra recorde de 47 milhões de sacas no último ano, o volume dessa safra está calculado em 30 milhões de sacas.

A redução na produção de café no Brasil está relacionada à bianulidade da cultura. “Por ser uma cultura perene, oscila ciclos de alta produção com ciclos de baixa. Por mais que se maneje adequadamente, há um esgotamento”, explica a engenheira agrônoma Margorete Demarchi, do Deral. No Paraná, a redução é menor que a média brasileira por causa da maior área de cultivo no sistema adensado, que apresenta maior estabilidade na produção. “A área de adensado representa 40% da área total e mais de 50% da produção”, informa a engenheira agrônoma, acrescentando que a produtividade desse sistema chega a ser cinco vezes superior ao rendimento obtido com o plantio convencional. No ano passado, a produtividade média do café adensado no Paraná foi de 30 sacas por hectare, contra 13 do sistema tradicional.

A conjuntura econômica internacional também está prejudicando a atividade. “Nesses dois últimos anos, os preços recebidos pelo produtor foram muito baixos”, relata Margorete. “A alta do dólar no ano passado e o aumento do custo dos insumos, se refletiram diretamente nos investimentos. Sem dinheiro, o produtor não faz a adubação adequada, a poda, o manejo… O que ajudou foi o clima”. Em junho do ano passado, o preço do café atingiu o menor valor desde 92 (R$ 72,60 a saca beneficiada de 60 quilos).

“Apesar da safra menor, os preços estão em recuperação, mas ainda longe do ideal”, aponta a técnica do Deral. O valor da saca passou para R$ 133,20, um crescimento de 83% em relação a junho do ano passado, porém o melhor preço obtido nesse mês desde 94, foi registrado em 97: R$ 173,00 a saca. Em janeiro de 98, a cotação alcançou seu maior valor na série histórica, passando de R$ 200. Nesse ano, o preço já caiu 11%. Em fevereiro, o produtor paranaense recebia R$ 150 por saca. “Estamos em período de plena colheita. A pressão da oferta acaba afetando os preços”, comenta Margorete.

Emprego e renda

A área em produção no Paraná encolheu 1,5% nessa safra, de 130 mil hectares para 128 mil hectares. A colheita começou em abril e vai até setembro, com pico no mês de julho. O Paraná, que na década de 60 era o maior produtor nacional de café, hoje está atrás de Minas Gerais, Espírito Santo e São Paulo, dividindo a quarta colocação com Bahia e Rondônia. A maior parte da produção paranaense está concentrada nas regiões Norte (70%) e Noroeste (19%). O restante está nas regiões Centro e Oeste. O número de cafeicultores no Estado tem caído; atualmente, a atividade envolve cerca de 17 mil pessoas.

Porém o café continua com importante papel na economia local, por estar presente em 210 dos 399 municípios paranaenses. “É uma cultura geradora de empregos no campo, diferente do que ocorre com soja e milho. Mesmo com preços baixos, é uma alternativa de fonte de renda para pequenas propriedades”, salienta Margorete. 83% das propriedades que cultivam café no Estado tem área inferior a 50 hectares, representando 65% da área cultivada no Estado. “Ainda existem grandes fazendas de café no Estado, mas em menor número”, comenta a engenheira agrônoma.

Apoio

Na semana passada, o governo federal anunciou medidas de apoio à atividade cafeeira: inclusão do café na política de garantia de preços mínimos, que permitirá financiamento de estoque com recursos a juros de 8,75% ao ano; redução da taxa de juros de 13% para 9,5% na linha de crédito de R$ 300 milhões para a colheita e estocagem da safra atual; nova linha de crédito de custeio de R$.200 milhões, com taxa de juros de 9,5% ao ano; e leilões de contratos de opções de venda para até 3 milhões de sacas. “O café se insere na agricultura familiar, que é o mote do novo governo. Tomara que os produtores tenham acesso aos recursos do Plano Safra via Pronaf”, enfatiza Margorete.

Mercado tem potencial, apesar de desigual

Embora o Brasil seja o maior produtor mundial e o segundo maior consumidor de café, os especialistas dizem que há bastante espaço para ampliar tanto o mercado interno quanto as exportações. No ano passado, o País exportou 27 milhões de sacas, enquanto o consumo brasileiro foi de 14 milhões de sacas. Em 65, o consumo per capita por habitante era de 4,72 quilos/ano. Esse número caiu quase 28%, passando para 3,4 quilos/habitante/ano. Na Finlândia, por exemplo, cada pessoa consome, em média, 11 quilos de café por ano.

Só que para ampliar o consumo é preciso rever a estrutura da cadeia do café, que é muito desigual na distribuição das riquezas, conforme mostra um estudo feito pela ONG Oxfam International para a CUT e a Contag. O levantamento revela que de cada 100 xícaras de café vendidas em países desenvolvidos, menos de duas correspondem à remuneração dos cafeicultores, por causa da elevada margem de lucro obtida por quatro traders que controlam o mercado. A xícara de café que no Brasil sai por menos de R$ 1, na Europa custa em torno de R$ 5.

“O objetivo do estudo é sensibilizar os europeus que, ao pagar mais caro pelo café do que pelo vinho, consomem um produto que gera escravidão na origem. Na África e no interior do Brasil, os produtores ganham muito pouco”, destaca a engenheira agrônoma. Se os ganhos da indústria fossem reduzidos, o público consumidor seria maior e os produtores aumentariam a renda com a elevação da produção. Uma das formas de reduzir essa desproporcionalidade é a certificação. “O café não pode mais ser vendido como commoditie, mas beneficiado, embalado e vendido como bebida brasileira, com maior valor agregado”, indica Margorete. (OP)

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