Pólo cerâmico protesta contra reajustes de gás

O pólo cerâmico de Campo Largo está buscando alternativas para enfrentar a alta acumulada de 73,62% no preço do gás natural nos últimos doze meses. “Várias indústrias fizeram investimentos e adaptaram suas instalações para usar o gás e agora estão em dificuldades, tentando sair do buraco”, relata o presidente em exercício do Sindicato da Indústria de Cerâmica de Louças e Porcelana do Paraná, José Canisso. “O reajuste do gás nos últimos doze meses foi maior que o da Selic (32,12%), IGP-M (31,53%) e dólar (4,30%)”, compara. Dos 36 fabricantes de louça do município, a elevação do preço do gás prejudicou dez que queimam 90% da porcelana do País (cerca de 400 mil peças por mês). Somente esse grupo de empresas consome mensalmente 60 milhões de metros cúbicos de gás.

O gás é o principal custo da planilha das indústrias de cerâmica, representando em média 30% das despesas, enquanto a mão de obra tem peso de 24%. “Empresas de outros setores não sentiram tanto o aumento porque a queima é pouca”, observa Canisso. A Incepa, maior empresa do pólo de Campo Largo, queima cerca de 2 milhões de metros cúbicos de gás por mês, e passou a tirar gás do xisto. As tradicionais indústrias Germer e Schmitt voltaram a usar lenha. “Elas fizeram investimento pesado para queimar 50 mil metros cúbicos de gás por mês. Como tinham forno a lenha, voltaram a queimar. Só que o consumo de 5 mil metros cúbicos de lenha significa 40 hectares abatidos por mês”, comenta Canisso.

A Lorezentti voltou a queimar pixe. Mas nem todas as empresas mantiveram os fornos. É o caso da Tirolesa, que opera somente com gás natural.

“Alternativa temos, mas o custo social é caro, porque desemprega gente e deixa de recolher impostos”, lamenta Canisso. O pólo cerâmico de Campo Largo gera 14 mil empregos diretos, número que salta para 25 mil somando os indiretos. “Estamos tentando sensibilizar o governo; ele tem que trabalhar para a gente, mas a Petrobras não está dando importância para isso”, afirma o empresário. Segundo ele, os empregos ainda estão mantidos. “Mas se não houver uma solução, a corda vai arrebentar do lado mais fraco”.

Repassar o reajuste para o cliente, nem pensar. “O prato é um componente básico. Se aumentarmos o preço, não vendemos. As pessoas compram de vidro, plásticou ou nem compram nada”, observa. Entre as alternativas para contornar o problema, as empresas estão fazendo promoções de venda. “Vendemos algumas peças no prejuízo e outras com lucratividade para cobrir os custos, mas se continuar assim, chegará uma hora que dará prejuízo em tudo”, prevê o empresário.

O metro cúbico do gás natural industrial varia de R$ 0,68 a R$ 1,70, dependendo do consumo. “A Petrobras reajusta o gás junto com o dólar. Mas mesmo com a queda do câmbio, continua reajustando”, protesta Canisso. Não bastasse a questão do gás, as empresas do Paraná também perdem no ICMS do produto, que tem alíquota de 17%, enquanto em Santa Catarina e São Paulo é de 12%.

Redução em negociação

A Compagas informou, através da assessoria de imprensa, que o reflexo da queda do dólar não é imediato no preço do gás. O valor do combustível importado da Bolívia é reavaliado a cada três meses, de acordo com as oscilações do dólar e de uma cesta de óleos no mercado internacional no período. O próximo índice será anunciado no final de julho. De acordo com a Compagas, as três distribuidoras do Sul, os governadores da região e o governo federal já iniciaram negociações com a Bolívia buscando redução do preço do gás.

A distribuidora também alega que não é possível comparar o custo do gás natural com a lenha, por serem produtos de características diferenciadas. O mais próximo seria o GLP (gás liqüefeito de petróleo). Conforme informações da Compagas, no período de janeiro de 2002 a abril de 2003, o reajuste repassado aos consumidores foi de 73,6% (menos que a alta de 83,5% que pagou à Petrobras). No mesmo intervalo de tempo, o GLP subiu 177% e o óleo combustível 121%.

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