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Política monetária sozinha não vai conseguir gerar toda a recuperação, diz Ilan

O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, afirmou nesta terça-feira, 13, que a política monetária sozinha não vai conseguir promover toda a recuperação da economia brasileira. A declaração foi dada durante evento promovido pela Universidade de Columbia, em parceria com a FGV e a FecomércioSP.

Segundo Ilan, a política monetária pode trazer um alívio temporário, mas precisa ser acompanhada de outras reformas para garantir que a recuperação será sustentável. Ele comentou que agora que as expectativas de inflação estão ancoradas, o BC consegue levar em conta nas suas decisões o custo da desinflação.

O presidente do BC disse que nem tudo está ruim na economia brasileira. Além da inflação em queda, que permite uma redução mais sustentável dos juros, o sistema financeiro está bem provisionado e líquido, o déficit em conta corrente caiu muito – hoje está em cerca de 1% do PIB – e há um amplo nível de reservas internacionais, de quase 20% do PIB.

Incertezas

Ilan Goldfajn afirmou que o Brasil está vivendo “mais incertezas do que todos gostaríamos”. Questionado sobre o risco político, ele afirmou que isso obviamente tem impacto. “Deveríamos trabalhar para reduzir incertezas econômicas e ‘não econômicas'”, disse.

Ele também foi perguntado sobre o impacto da eleição de Donald Trump nos EUA. Ilan respondeu que o efeito observado até agora foi de acelerar a percepção de que os juros por lá vão subir mais rapidamente.

Comentou que a eleição gerou uma valorização do dólar e um aumento dos juros nos mercados, mas que mesmo assim os preços de algumas commodities avançaram. “Se conseguirmos passar pela turbulência, a maior economia do mundo crescendo mais não pode ser uma má notícia no médio a longo prazo. Não é amanhã, mas se isso pegar tração, vai acabar nos ajudando.”

Juro real

O presidente do Banco Central afirmou que existem dois fatores importantes – entre outros – que ajudam a explicar o alto nível do juro real no Brasil. Segundo ele, um dos motivos é que o juro real subiu juntamente com décadas de aceleração das despesas públicas. O outro é que metade do sistema financeiro opera hoje com taxas de juros subsidiadas, que não são de mercado. “Quase 50% do sistema financeira paga meia entrada, como disse o economista Marcos Lisboa, então quem paga inteira têm de compensar isso”, comentou.

Ilan avaliou que alguns dos subsídios têm seu mérito, pode haver uma discussão de que agora não é o momento de retirá-los, mas o grande volume de operações que não são feitas a taxas de mercado “é um fato”. Ele afirmou que a questão do juro estrutural elevado se resolve com reformas e que a PEC do Teto, aprovada nesta terça pelo Senado, é um passo importante nesse sentido.

O presidente do BC fez questão de ressaltar a diferença entre uma discussão de juro estrutural e de ajuste fino no atual ciclo de baixa da Selic. “A questão da calibragem, do ajuste fino, faz parte do debate, é válida. Mas o juro estrutural não depende da atual diretoria, do presidente do BC”, afirmou.

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