Pecuaristas do Paraná demonstram otimismo

A volta do Paraná à lista de estados aptos a exportar carnes para a União Européia (UE) deixou o setor bastante otimista. A decisão da Comissão Técnica Científica da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), divulgada há duas semanas, reconhecendo o Estado como área livre de febre aftosa com vacinação, era aguardada há mais de dois anos – período no qual, estima-se, toda a cadeia produtiva acumulou prejuízos de mais de R$ 600 milhões.

Agora, o setor espera trabalhar para saltar dos atuais 4% para 15% no volume de exportações de carne bovina produzida no Estado, e de 12% para 20% nas de carne suína. Meta, esta, que pretende atingir em dois anos.

Estes números, afirma o presidente do Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados do Paraná (Sindicarnes), Péricles Salazar, são estimativas do potencial de crescimento do setor. ?Nesse período em que o Estado foi penalizado com a suspensão das exportações, duas plantas frigoríficas com viés exportador vieram para o Paraná?, diz.

Em 2005, a JBS S.A., que controla a marca Friboi, adquiriu o frigorífico Garantia, em Maringá, noroeste do Estado, por R$ 80 milhões. Já em 2006, o frigorífico Mercosul investiu aproximadamente R$ 5 milhões para assumir o frigorífico Margen, em Paiçandu, também na região de Maringá. O Garantia e o Margen haviam paralisado as atividades devido à crise econômica provocada pelo embargo ao Paraná em virtude das suspeitas de focos de febre aftosa.

Para o presidente da Sociedade Rural do Paraná, Alexandre Kireeff, é muito importante ter a chancela da União Européia. ?Isso demonstra que estamos aptos a atender a uma das comunidades mais exigentes do mundo, e, como conseqüência, isso vai abrir muitas outras portas.? Apesar da fatia das exportações ainda ser pequena em comparação ao mercado interno, Kireeff acrescenta que, em alguns mercados internacionais, consegue-se uma remuneração 100% maior que no Brasil para cortes nobres.

Compradores

Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior apontam que os quatro maiores compradores de carne bovina do Paraná são Hong Kong, na China, Arábia Saudita, Cazaquistão e Costa do Marfim. Já de carne suína são Hong Kong, Albânia, Uruguai e Haiti. Segundo o Sindicarnes, o Estado abate uma média de 1,2 milhão de bovinos por ano, o que representa 264 mil toneladas.

Desse total, exportou no ano passado 10.442 toneladas, 4% do volume total. Apesar de 96% da produção ficar no mercado interno, Péricles Salazar aponta que é importante brigar pela imagem do Estado. ?Não podemos ser produtores e não ser exportadores. Temos que lutar pela imagem institucional para aumentar nossa participação?, pondera.

Menos otimista está o presidente da Associação Nacional dos Produtores de Bovinos de Corte, André Carioba. ?Esse processo foi muito penoso para o setor, e acho que demorou demais para o Estado ter o reconhecimento da OIE.? Ele comenta que, com a Argentina, que passou por processo semelhante, em menos de um ano as exportações já haviam sido restabelecidas. Carioba foi um dos pecuaristas do Estado que teve de abater 1,8 mil cabeças pela suspeita de febre aftosa.

Preço não cai

Para o consumidor, o reconhecimento do Paraná como área livre de febre aftosa com vacinação não irá representar queda nos preços. Pelo contrário. O preço do boi gordo vem atingido preços recordes. Esta semana, a arroba seguiu cotada em média a R$ 80,89, enquanto em maio de 2007 o preço era de R$ 43,97.

O consultor da Intertrading Agentes Autônomos de Investimento, Raphael Ferreira, acredita que a escassez do produto é um dos fatores que refletem no preço. Muitos produtores acabaram migrando para outros setores, como a cana-de-açúcar. ?Hoje, o produtor só vende quando encontra bezerro para reposição?, afirma. Segundo ele, a curto prazo, a chegado do frio e possíveis geadas podem interferir na oferta do produto, mas não no preço.

O presidente da Sociedade Rural do Paraná, Alexandre Kireeff, complementa que o preço do bovino ainda é um reflexo da crise vivida durante o embargo. ?O ciclo da pecuária é de cinco anos?, lembra, acrescentando que só a partir de agora é que o setor poderá retomar os ganhos. (RO)

Reflexos positivos aparecem e mercado interno começa a mudar

Não foi só no mercado externo que a carne e seus derivados produzidos no Paraná encontraram restrições com o episódio da aftosa.

Alguns estados, como Santa Catarina, Rio Grande do Sul e São Paulo, bloquearam a compra de produtos. Mas, com a decisão da OIE, o cenário começou a mudar. Santa Catarina já restabeleceu o transporte de animais, carnes e derivados do Paraná.

A Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina emitiu instrução de serviço liberando o ingresso de suínos, ovinos, caprinos, bovinos e bubalinos para abate imediato, assim como carnes frescas com e sem osso desses animais.

A medida é extensiva ao leite in natura e a todos os suínos de granjas de reprodutores certificados.

O diretor do Departamento de Fiscalização da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Paraná (Seab), Silmar Bürer, vê ainda outro benefício decorrente da abertura das fronteiras: o pleno restabelecimento do trânsito de suínos de alta genética, comum entre os dois estados. Santa Catarina é o terceiro maior centro comprador do Paraná, depois do Rio de Janeiro e São Paulo. (RO)

A trajetória de uma doença até hoje não confirmada

Roberto Corradini/Secs
Suspeitas resultaram no abate de mais de 6,7 mil animais em 2006.

O Paraná obteve o reconhecimento internacional da OIE em 2000, mas perdeu essa condição em outubro de 2005, diante dos focos de febre aftosa ocorridos no vizinho Mato Grosso do Sul e da entrada de animais vindos daquele estado ao Paraná.

Por meio de provas sorológicas e do vínculo epidemiológico, sete propriedades paranaenses foram reconhecidas pela OIE como focos de febre aftosa. Para o Estado recuperar o status perdido junto à OIE e ao Ministério da Agricultura, foi necessário o sacrifício de 6.781 animais, abatidos durante o ano de 2006.

Quando o Paraná perdeu a classificação de área livre de febre aftosa com vacinação, em 2005, exportava 38.321 toneladas de carne bovina, o que rendia um faturamento da ordem de US$ 82 milhões ao ano. No ano seguinte, as exportações despencaram para 12.510 toneladas, com faturamento de US$ 21 milhões.

Apesar dos milhares de abates no Estado, até hoje, nenhum caso da doença foi de fato confirmado. (RO)

Voltar ao topo