Para Mantega, decisão do Fed tem resultado duvidoso

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, criticou hoje duramente a decisão do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) de injetar US$ 600 bilhões na economia. O ministro alertou para o risco dessa decisão criar uma “bolha” no mercado internacional. Para ele, a medida pode agravar o desequilíbrio da economia global. Ao voltar da reunião ministerial com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Mantega classificou a decisão dos Estados Unidos como de “resultado duvidoso” e disse que vai criticar a medida americana na próxima reunião do G-20 (grupo das 20 maiores economias do mundo), em Seul, na Coreia do Sul.

Para o ministro, “não adianta os EUA jogarem dólares pelo helicóptero”, porque não farão “brotar” o crescimento na sua economia. “Esse é um problema que pode se agravar se os Estados Unidos persistirem nessa política. Isso vai ser um tema importante para discutir em Seul. Vamos insistir para que os EUA modifiquem essa política e tenham outras alternativas”, disse Mantega.

Ele disse que esse excesso de crédito que os EUA estão colocando na economia desvaloriza o dólar e traz problemas para os outros países. Ele disse que os EUA precisam estimular com medidas fiscais o consumo interno e o emprego.

Bolha

O ministro da Fazenda disse ainda que, no Brasil, não há “perigo” de bolha no mercado financeiro. Isso porque, segundo ele, o governo tomou as medidas que impedem o fluxo exagerado de recursos externos para o Brasil. “No Brasil, não tem perigo de bolha. Agora, se persistir nessa política (do banco central dos Estados Unidos, de injetar recursos no mercado), teremos excesso de crédito que não está sendo canalizado para a produção. Esse crédito acabará sendo canalizado para a especulação”, alertou o ministro.

Questionado se novas medidas cambiais serão adotadas no Brasil em resposta ao Fed, o ministro respondeu: “Não, porque no Brasil felizmente nós estamos conseguindo controlar a valorização do câmbio. Não está havendo a valorização do real pelas medidas que nós tomamos. Mas esse é um problema que pode se agravar”.

Emergentes

Ao criticar as economias avançadas, o ministro da Fazenda disse que os países emergentes estão colaborando ao estimular o seu mercado interno. “As economias avançadas não conseguiram uma recuperação adequada. Elas não podem se recuperar às custas dos nossos mercados. Os países emergentes estão colaborando”, disse Mantega.

“Nós estimulamos o mercado, inclusive a China, a Índia, todos nós estimulamos o mercado. É preciso que eles estimulem o mercado interno e não é só com política monetária que se resolve”, completou.

Para Mantega, a decisão dos Estados Unidos de injetar recursos na economia pode agravar o desequilíbrio global à medida que desvaloriza o dólar, que é a moeda mais importante no mercado internacional, porque regula todas as transações internacionais. “Quando essa moeda se desvaloriza, o que acontece? Valoriza o euro, atrapalha os países europeus, atrapalha os países latino americanos, atrapalha o Brasil, atrapalha a própria China”, ponderou.

Para o ministro, a China reage à ação dos EUA fazendo a mesma coisa: desvalorizando sua moeda. “Então, nós temos que conversar com os americanos, conversar com os outros países para que a gente possa influir e modificar o curso das coisas no mundo”.

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