Operadoras de celular apostam em serviços

Aliocha Maurício/Arquivo
Telefone celular tem cada vez mais utilidades.

Rio (AE) – O crescimento da telefonia celular desacelerou este ano no país, depois de três anos de expansão mais forte. De janeiro a agosto, a expansão líquida de celulares foi de 8,7 milhões de unidades, volume 35% abaixo do crescimento de 13,3 milhões no mesmo período do ano passado, segundo a consultoria Teleco. A queda no ritmo se deve basicamente à menor agressividade do setor nas promoções comerciais e, em alguns casos, à forte redução dos subsídios para a venda de aparelhos celulares pré-pagos.

?Houve uma queda no crescimento, mas ainda assim o avanço é grande?, diz o presidente da Teleco, Eduardo Tude. Nos últimos anos, para ampliar rapidamente a base de clientes depois de fortes investimentos na expansão da rede, as teles jogaram pesado na venda de aparelhos de baixo valor, no formato pré-pago, principalmente para as classes de renda mais baixa. O chamado ?custo de aquisição? do cliente novo ficou caro demais e, agora, a estratégia se desloca para oferta de serviços.

Um levantamento do Instituto Ipsos mostra como se deu a evolução da posse de aparelhos celulares por classes econômicas entre os primeiros semestres de 2004 e de 2006. Neste período, o maior avanço relativo foi na classe E (renda média mensal de R$ 314,00), onde o número de pessoas com telefone celular passou de 13% para 30% – a maior parte especificamente em 2005. Na classe D (R$ 534,00), o avanço do acesso foi de 35% para 51%, e na classe C (R$ 1.028,00), de 60% para 74%. O levantamento foi feito com base em 26 mil entrevistas em cada semestre, nas nove maiores regiões metropolitanas do país.

Chama a atenção a diferença no acesso da maior e da menor classe de renda. Enquanto na classe A (renda média de R$ 5.882,00) 98% das pessoas com mais de 18 anos tinham celular, na classe E cerca de 70% não possui um aparelho. Já na classe D, quase 50% das pessoas não dispõem de celular.

De forma geral, as diferenças de penetração refletem o perfil de renda no país, avalia o chefe do departamento de telecomunicações do BNDES, Allan Fi-schler. Para ele, dificilmente a posse nas classes de menor renda se aproximará dos 90%.

Fischler explica que, principalmente até o primeiro semestre deste ano, as empresas vinham ?adquirindo? clientes novos com base em fortes subsídios, principalmente em datas como Natal e Dia das Mães. ?Aí você tinha aquela guerra de preços de aparelhos, cada vez mais baratos, e cada vez mais classes menos favorecidas com acessos a esses aparelhos, em geral pré-pagos?, diz Fischler. A estratégia agora muda, com empresas do setor evitando intermediar ou subsidiar a venda de aparelhos.

Os subsídios geram prejuízos e, de forma geral, a ordem é recuperar rentabilidade. Um levantamento feito pela Economática mostra que nos últimos doze meses encerrados em junho o setor de telecomunicações (incluindo as operadoras de telefonia fixa) fechou com uma rentabilidade sobre o patrimônio de -0,4%, primeiro resultado negativo nos últimos treze anos. O presidente da Economática, Fernando Exel, comenta que a receita do setor cresceu muito, à custa, contudo, de algum sacrifício da rentabilidade, além da forte concorrência.

A questão é que a busca da rentabilidade maior pode retardar a penetração do serviço nas classes D e E, reconhece o presidente da Teleco. Para o especialista do BNDES, as teles estão dando sinais de que ficou caro demais conseguir expandir nessas classes de menor renda, por isso a redução dos subsídios para os pré-pagos – ainda que esta parcela continue representando parte importante do negócio. Apesar das novas estratégias, as empresas indicam que os clientes pré-pagos garantem volume para a operação e o interesse permanece, indicam as empresas.

Com o avanço da telefonia no país, o uso do celular passou a funcionar como fator de produtividade para profissionais liberais. A cabeleireira Maria Amélia Mota conta que é freqüentemente chamada por clientes pelo celular, para agendar corte de cabelo.

Mesmo trabalhando durante o dia num salão da zona sul do Rio, ela conta que muitos clientes ligam durante o dia para o celular ou deixam para agendar à noite cortes para o dia seguinte. Em casa, chegou a cancelar o número fixo, mais usado pela filha, porque as contas vieram altas demais.

Voltar ao topo