Negociações em dólar no País tiveram em abril menor movimentação em 6 meses

As negociações em dólar no País registraram em abril a menor movimentação dos últimos seis meses. O período coincidiu com o fim das intervenções diárias do Banco Central por meio dos leilões de swap, mas foi justamente quando o fluxo cambial explodiu, trazendo ao Brasil um volume superior a US$ 13 bilhões – nos primeiros dias deste mês, o volume de saídas superou o de entradas em US$ 2,5 bilhões.

Nas pouco mais de 650 mil operações feitas no mês passado em território nacional, as instituições autorizadas a negociar com a moeda americana transacionaram US$ 236,5 bilhões, um volume menor do que o de março (US$ 277,9 bilhões) e bem menos expressivo do que os US$ 436,8 bilhões de fevereiro.

Essa quantia é a mais baixa desde novembro do ano passado, quando o total de negócios em divisa estrangeira ficou em US$ 191,9 bilhões. O resultado de abril também é inferior à média das transações mensais do ano passado, de US$ 253,08 bilhões. Em 2014, mudaram de mãos no Brasil US$ 3,037 trilhões. Os dados são do Banco Central.

De molho

Analistas de mercado e o próprio governo têm uma avaliação semelhante sobre o que ocorreu no mês passado: a indecisão sobre as próximas ações do Federal Reserve, o Banco Central americano, deixaram os investidores na retranca. O economista da RC Consultores, Marcel Caparoz, salientou, dentro desse quadro, a elevação das taxas soberanas de países desenvolvidos. Alemanha, Estados Unidos e Japão, entre outros, que sempre tiveram taxas baixas e estáveis por muito tempo, agora passaram a ter de pagar mais a seus investidores.

“A situação ainda é complicada na Europa e os Estados Unidos estão dando indicação, de fato, de que o programa de aumento de liquidez chegou ao fim e que a tendência é de alta dos juros, ainda que não se saiba quando”, comentou. Segundo o economista da RC, quando o portfólio de investimentos é ampliado e se chega a países emergentes como o Brasil, ainda se enxerga problemas de ajuste fiscal, inflação alta, aperto monetário, volatilidade no câmbio e risco de downgrade. “Esse movimento é ainda mais forte aqui dentro. O risco no Brasil está elevado, e não só por causa do dólar, mas por um comportamento que é mundial. É um período de molho dos investimentos”, considerou.

Por isso, na opinião de Caparoz, os primeiros dados do fluxo de maio também devem ter vindo negativos. “Já diminuiu o ímpeto, mas não vai ser um movimento muito forte também porque há ainda liquidez no mundo e os juros estão altos aqui. Quando passar o momento turbulento, talvez volte a ter um fluxo mais forte na conta de renda fixa”, previu. Atualmente, a Selic está em 13,25% ao ano e a expectativa do mercado é de que o ciclo de alta, iniciado em outubro do ano passado, ainda não terminou.

O sócio-diretor da Global Financial Advisor, Miguel Daoud, lembrou que, no passado recente, o mercado futuro de câmbio teve momentos de negociações de US$ 70 bilhões por dia, numa clara transição de dólares para juros. Sobre o forte fluxo cambial de abril, ele salientou que o mercado passou a acreditar que o plano de ajuste econômico seria eficaz e, como o real se desvalorizou, as ações brasileiras ficaram baratas, assim como no caso da renda fixa. “Houve uma mudança de humor, mas o espaço está se exaurindo. Até porque o custo das empresas aumentou muito, o que pode significar um lucro menor lá na frente”, destacou.

Ranking

Pelos dados de abril do BC, o Santander foi o que apresentou maior negociação de dólares (US$ 43,3 bilhões), seguido por Itaú (US$ 22,1 bilhões), HSBC (US$ 20,7 bilhões) e Citibank (US$ 20,6 bilhões). De janeiro a abril, o saldo das operações em dólar feitas no mercado doméstico foi de US$ 951 bilhões.

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