Ultimato

Mercado tem 60 dias para ajustar preço do etanol

O ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes (PMDB), disse ontem em São José dos Pinhais, região metropolitana de Curitiba, que o governo só adotará alguma medida para reduzir o preço do álcool combustível se, em 60 dias, o próprio mercado não o regularizar.

Stephanes, que participou da inauguração do sistema de aproveitamento de resíduos do frigorífico Argus, culpou as chuvas pela alta do preço nas bombas, mas disse acreditar que, até o final do ano, o preço se normalizará.

“Tivemos o problema de excesso de chuva, que prejudicou a colheita e atrasou a moagem da cana, derrubando a produtividade. Começou uma escassez e o mercado regulou e puxou o preço pra cima. Mas acredito que, em 60 dias, isso vai se regularizar. Só se depois desses 60 dias não regularizar, vamos mexer na mistura. Mas o sol está voltando, já vai normalizar”, previu, sinalizando que a diminuição do percentual de álcool na gasolina seria a primeira medida adotada pelo governo, caso precise intervir no preço.

Stephanes também rebateu as insinuações de que pretende anistiar produtores que desmatem áreas ilegalmente no País. “Jamais falei em anistiar desmatadores ilegais e quem atribuiu a mim essas declarações, no mínimo, não foi profissional. A única coisa que defendo, e que todos com bom senso também devem defender, é que nossos avós, pequenos produtores que, no passado, desmataram dentro da lei para plantar seu sustento, não sejam, hoje, tratados como criminosos”, explicou.

“Não adianta agora o fiscal chegar a uma propriedade e querer multar quem não tem reserva de mata nativa de 20% porque há 100 anos planta naquele local e não tinha lei que o fazia preservar. Isso é loucura”, afirmou. “Enquanto o governo não decide essa questão, não se pode punir essas pessoas. Mas não estamos falando de desmatadores. Quem faz desmatamento ilegal tem que estar na cadeia”, concluiu.

O ministro também reafirmou sua posição sobre o Código Florestal, que, segundo ele, foi proposto por ambientalistas que não entendem de agricultura e nem de meio ambiente.

“Não quero flexibilização alguma do Código Florestal, quero que se corrijam os erros que cometeram, como a proibição de se plantar em várzea, por exemplo. O arroz que se come no Brasil é plantado em várzea há séculos. O ambientalista que fez isso não tinha esse conhecimento e errou. Precisa ser corrigido”, disse.

Sobre o novo sistema do frigorífico paranaense (veja box), Stephanes elogiou a iniciativa e disse que o reaproveitamento dos resíduos é uma orientação do ministério.

“As vantagens estão nas duas pontas. É mais uma atividade econômica que vai utilizar exatamente o que sobra, uma iniciativa que ajuda do ponto de vista econômico e ecológico, pois evita que esses resíduos venham a contaminar o ambiente. Essa é uma recomendação do Ministério da Agricultura: sustentabilidade. Tudo tem que ser aproveitado”, afirmou.

Frigorífico aproveita resíduos

Cintia Végas

O frigorífico Argus, em São José dos Pinhais, lançou ontem um novo sistema de aproveitamento de resíduos de carne. O modelo tecnológico, proveniente da Itália e também utilizado na Alemanha, permite maior utilização do subproduto da carne, a chamada graxa, que até então era descartada.

“Com o novo sistema, o subproduto serve de matéria-prima para outras empresas, deixando de ser descartado no meio ambiente”, comentou o diretor-geral do Grupo Argus, Angelo Setim. “O sistema envolve tratamento de gases e efluentes. É informatizado e correto do ponto de vista ambiental.”

Os subprodutos da carne são ossos, resíduos cárneo,s e material gorduroso de origem animal.Eles podem dar origem a produtos como farinha de carne e ossos, farinha de sangue (usada na fabricação de ração) e sebo (bastante aproveitado pela indústria de cosméticos e biodisel). O frigorífico investiu R$ 8 milhões na instalação do novo sistema tecnológico.

“Já em 2003, o Ministério da Agricultura exigia dos frigoríficos um sistema independente e próprio de higienização dos subprodutos. A instalação do novo sistema garante a produção de algo seguro para utilização na alimentação de animais, além de vantagens ao Paraná. Hoje, o Estado é um dos maiores importadores de proteína animal”, afirmou o superintendente Federal de Agricultura, Daniel Gonçalves Filho, que compareceu ao evento representando o Ministério da Agricultura. Antes do lançamento, o novo sistema ficou em testes durante o período de um ano.

Através dele, as impurezas do sebo são retiradas e a torta da farinha é levada a um digestor, passando pelo processo de esterilização. Ao final, segue para moagem. Tudo é realizado de forma automatizada.