Megaprotesto do campo promete parar o Paraná

Os produtores rurais prometem parar o Paraná hoje, durante o megaprotesto que ocorre em nível nacional. Denominado ?Grito do Ipiranga?, o movimento pretende chamar a atenção do governo federal e pressioná-lo a atender as reivindicações do setor, que atravessa uma de suas piores crises. Durante o dia todo, rodovias e ferrovias devem ser bloqueadas e cooperativas ficam fechadas. Algumas prefeituras municipais já manifestaram apoio ao movimento e devem funcionar apenas parcialmente. O comércio também promete fechar as portas por algumas horas, em solidariedade aos agricultores.

?Vamos ter protestos em mais de cem municípios do Paraná?, anunciou o presidente do Sistema Ocepar (Organização das Cooperativas no Paraná), João Paulo Koslovski. A expectativa é que as 78 cooperativas agropecuárias associadas à Ocepar, que congregam 110 mil produtores rurais, não abram as portas hoje. ?É um movimento espontâneo. A Faep (Federação da Agricultura no Estado do Paraná) está dando as orientações, e o movimento conta com o apoio da Federação do Comércio, Federação das Indústrias?, explicou.

Enquanto os produtores realizam carreatas e bloqueios nas rodovias, Koslovski segue hoje a Brasília, juntamente com outras lideranças, como o presidente da Faep, Ágide Meneguette, e o vice-governador Orlando Pessuti. Koslovski deve participar, ainda pela manhã, de reunião com a Comissão de Crise da OCB (Organização das Cooperativas do Brasil). Estão programadas ainda reuniões com a Comissão da Agricultura da Câmara Federal.

Às 14h, está agendada reunião com governadores de doze estados – entre eles o Paraná, que estará representado pelo vice Pessuti – e ministros, no Palácio do Planalto. Para o presidente da Ocepar, o principal ponto neste momento é o alongamento de dívidas para médio e longo prazos – cerca de vinte anos. ?O Paraná perdeu nas duas últimas safras cerca de 10,3 milhões de toneladas de produtos só com a seca. Essa perda, aliada ao dólar baixo, queda dos preços internacionais e aumento dos insumos, está tirando a renda do produtor e a capacidade de pagar sequer o custo operacional?, afirmou.

Diante do cenário negativo, Koslovski acredita que a área cultivada do Paraná deva reduzir cerca de 20% na safra 2006/2007. Para ele, caso o governo federal não apresente uma proposta que amenize a crise do setor, os protestos devem continuar. ?Os agricultores estão num desespero total. Hoje, existe sensibilidade maior por parte do governo, mas é preciso que ele tome medidas, principalmente na questão do alongamento da dívida?, salientou.

Bloqueios

Ontem, os bloqueios seguiram em vários pontos do Paraná. Em Guaíra, no entroncamento das BRs 272 e 163, houve um tratoraço durante todo o dia de ontem. Segundo a Polícia Rodoviária Estadual, os produtores fizeram panfletagem pacífica para a manifestação de hoje.

Na região de Maringá, tratores e caminhões devem bloquear hoje cinco rodovias que interligam as regiões norte e noroeste, afetando também ligações rodoviárias com São Paulo e Mato Grosso do Sul. Das 8h às 9h, a interdição de veículos promete ser total, com exceção para ambulâncias e aqueles em comprovada situação de emergência. Depois das 9 horas, o bloqueio continuará somente para caminhões. O bloqueio está previsto para as rodovias: PR-317, Itambé-Floresta; PR-218, Maringá-Astorga; BR-376, Marialva-Sarandi; BR-376, Maringá-Paranavaí e PR-323, Paiçandu-Doutor Camargo.

À tarde, os manifestantes -com tratores e caminhões – sairão de seus pontos de bloqueio e participarão de carreata pelas principais ruas de Maringá. O comércio anunciou que vai fechar as portas em apoio aos produtores. A Cocamar mantém fechadas as suas seis unidades industriais.

Em Cascavel, a adesão também promete ser grande. De acordo com o presidente do Sindicato Rural do município, Nelson Menegatti, a partir das 8h30 tratores e caminhões vão partir da Praça do Imigrante, centro da cidade, em carreata até o Trevo das Cataratas, onde haverá o enterro simbólico da agricultura. Todas as rodovias estaduais e federais, que dão acesso a Curitiba, Maringá, Toledo, ficarão totalmente fechadas durante cerca de uma hora. A expectativa, segundo Menegatti, é reunir cerca de 3 mil produtores rurais. 

Protesto terá mais de 80 pontos de concentração

Mais de 80 locais de piquetes deverão ser montados hoje no Paraná durante o protesto nacional contra a crise na agricultura, segundo informações da Federação da Agricultura no Estado do Paraná (Faep). A expectativa é que centenas de agricultores estejam nas passeatas e tratoraços e que novos trechos de ferrovias e rodovias sejam bloqueados. No total, as frentes regionais de protesto no Paraná apontam que um em cada quatro municípios centralizará uma manifestação. O objetivo é sensibilizar o governo federal a adotar uma política de soluções definitivas para a crise agropecuária.

Segundo a Faep, o protesto não tem data para terminar. Até as eleições, os agricultores permanecem mobilizados, podendo promover novas manifestações regionais para não deixar que as reivindicações caiam no esquecimento da classe política. O movimento nacional de 16 de maio foi decidido numa reunião em Goiânia com representantes dos produtores do Paraná, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul.

Quem pára

A América Latina Logística (ALL) informou ontem, em nota à imprensa, que a circulação de trens no norte do Paraná estará paralisada hoje, das 8h às 16h, depois de um acordo fechado com a categoria. Até ontem, continuavam obstruídos os trechos da via férrea em Ibiporã e Arapongas.

A Alcopar (Associação de Produtores de Álcool e Açúcar do Estado do Paraná) também manifestou apoio ao movimentos e algumas das 27 unidades produtoras do Paraná devem deixar de operar durante o dia.

No sudoeste, a Amsop (Associação dos Municípios do Sudoeste do Paraná) decretou ponto facultativo nas 42 prefeituras da região, nesta terça-feira. As prefeituras devem fechar suas portas hoje e suspender inclusive o transporte escolar dos alunos da rede pública de ensino.

Em apoio à manifestação, o presidente da AMP (Associação dos Municípios do Paraná) e prefeito de Nova Olímpia, Luiz Sorvos, também decretou ponto facultativo em seu município e pediu o apoio ostensivo e a adesão de todos os prefeitos à manifestação. A Federação do Comércio do Paraná também está apoiando o movimento.

O prefeito de Campo Mourão, Nelson Tureck, também está solidário à causa. Em acordo com todos os prefeitos da Comcam (Comunidade dos Municípios da Região de Campo Mourão), feito na última sexta-feira, Tureck determinou o fechamento da Prefeitura e paralisação dos serviços, com exceção dos essenciais, nesta terça-feira.

Em Maringá, o Sindicato Rural informou que a Prefeitura Municipal não terá expediente no período da tarde e a Câmara Municipal suspendeu a sessão de hoje. (LS)

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