Curitiba

Megaempreendimentos estão mudando lugares tradicionais de Curitiba

Sabe aquele restaurante que você cresceu frequentando ou a bela casa que identificava uma determinada rua da cidade? Pois bem, esses podem ser os próximos a desaparecerem em meio à imensidão de projetos imobiliários que estão transformando o perfil de bairros e avenidas inteiras de Curitiba. E pelo Sindicato da Indústria da Construção Civil no Paraná (Sinduscon-PR), o centro-sul da capital e o norte vêm passando por mudanças substanciais na paisagem.

“As áreas que apresentam uma verdadeira modificação de cenário estão em bairros do sul como: Água Verde, Portão, Pinheirinho e Xaxim. Mas há o mesmo movimentos no norte em lugares do Boa Vista e Santa Cândida”, enumera o vice-presidente de Indústria Imobiliária do Sinduscon-PR, Luiz Gustavo Salvático. “Também não se pode desconsiderar as significativas alterações em Santa Felicidade, com novos empreendimentos imobiliários bem adequados ao bairro, mas que alteram a paisagem tradicional com a proliferação de condomínios fechados”, acrescenta.

A concentração nessas áreas, na análise de Salvático, deve-se a relativa oferta de terrenos disponíveis e com bons potenciais de construção em conformidade com o zoneamento. “Os projetos como o metrô de Curitiba e a Linha Verde influem, mas em segundo plano. A conta em um empreendimento é sempre igual, custo de construção mais custo de terreno. E o preço do terreno vai ser determinado em torno do que ele pode gerar em construção”, explica.

Mas em meio a tantos negócios gerados há espaços da cidade que vão sendo literalmente deixados para trás e, nem sempre, pelo vontade de quem ocupa o imóvel. O tradicional restaurante árabe Patrício, há 24 anos funcionando na Rua Francisco Rocha, n° 222, no bairro Batel, tem até o dia 31 de ano deste ano para encontrar um novo endereço. “Não faz um ano que fizemos uma grande reforma no telhado e no piso do Patrício, mas agora teremos que mudar de endereço”, conta a proprietária Jamile Abboud. O proprietário do imóvel chegou a ofertar o ponto, conforme determina o contrato de locação, mas com a condição dela comprar os outros dois imóveis da mesma quadra. “Era um montante que eu não disponho, então tive que abrir mão do ponto”.

Em seguida, em novembro do ano passado, a negociação entre o proprietário e a Partilha Empreendimentos Imobiliários de Alto Padrão foi fechada e com ela, aquela bela casa que abriga o Patrício irá desaparecer para dar lugar a um edifício residencial. “Mas vamos para um novo endereço. O local pode mudar, mas o sabor da nossa culinária seguirá o mesmo”, avisa Jamile.

Avenida da transformação

A Avenida República Argentina consegue sintetizar em uma reta os reflexos da expansão imobiliária. Um dos endereços contemplados pelo Plano Massa (de adensamento populacional) possui estabelecimentos com mais de meio século de história como a fábrica de escadas Forplas. “Chega a ser curioso. A fábrica que, no início do bairro, era bem vinda para atrair população, agora, não consegue expandir mais devido a urbanização”, constata o diretor Giancarlo Stahlke.

A negociação já está na reta final e foi motivada pela limitação que o endereço impõe à expansão do negócio. “Do tamanho que estamos hoje, já enfrento dificuldade no recebimento da matéria-prima e escoamento da produção. Além disso, hoje não exporto pela impossibilidade de abastecer um contêiner neste endereço”, conta. O novo endereço da Forplas será no municípios de Fazenda Rio Grande, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC). Dos atuais 2,2 mil metros quadrados ocupados pela fábrica, a Forplas passará para uma área de aproximadamente 8 mil metros quadrados do bairro Iguaçu. “Lá é um distrito industrial, ou seja, não teremos mais limitações logísticas”, afirma Stahlke.

Quanto aos valores da negociação, ele não revela o tamnho da bolada, mas diz que nos últimos dez anos foi constantemente assediado pelas incorporadoras. Entretanto, desde 2008, as ofertas sofreram um reajuste da ordem de 50%.

Na mesma quadra ocupada pela Forplas está o Bar Era Só o que Faltava. Ambos estabelecimentos foram comprados pela construtora Tecnisa que pretende construir edifícios. Na esquina da mesma quadra, a madeireira que ali ficava já entrou para a memória dos antigos moradores da região. “Outros pontos tradicionais como a Sapataria Faria também estão sucumbindo às propostas das incorporadoras e construtoras. É um caminho sem volta”, conclui Stahke.

Negociação

Para quem possui um terreno em áreas disputadas no mercado imobiliário, a boa notícia é que é o vendedor que dá as cartas nessa negociação. “Há ofertas em permutas e em dinheiro, mas o proprietário do terreno é quem pode escolher qual o melhor negócio”, recomenda o vice-presidente de Indústria Imobiliária do Sinduscon-PR, Luiz Gustavo Salvático.  “Se a pessoa tiver necessidade de retorno imediato, o melhor é optar por dinheiro. Quem pode esperar, pode ter boas vantagens com a permuta, só que precisa avaliar bem se a estratégia de negócio da construtora ou incorporadora está alinhada às suas pretensões de ganhos”, conta.

Um bom exemplo de permuta bem rentável é o empreendimento da VCG, o Batel Diamond, na Rua Dom Pedro II, 735, no Batel. A área era um estacionamento que deu origem ao edifício residencial com um dos metros quadrados mais caros da capital. Com área privativa de exatos 120 metros quadrados, cada apartamento está sendo comercializado na faixa dos R$ 1,2 milhão. “Agregamos valor aos nossos empreendimentos e a percepção do cliente é que o apartamento não é caro, ou seja, que oferece uma estrutura compatível ao valor”, comenta o diretor da VCG, Guilherme Vialle. Prova disso, é que das 18 unidades do Batel Diamond, apenas seis ainda não foram comercializadas, sendo que a previsão de entrega do imóvel é só para abril de 2013.