Medidas do governo podem ter afetado otimismo, diz Ipea

O impacto das medidas restritivas anunciadas pelo governo e uma redução da tradicional euforia em relação ao futuro que marca a virada de ano são os possíveis motivos para a queda das expectativas das famílias brasileiras em fevereiro, segundo o presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Marcio Pochmann. Apesar de ainda estar na faixa considerada otimista, o Índice de Expectativa das Famílias (IEF), anunciado hoje pelo Ipea, mostrou uma redução de 2,8% em fevereiro em relação a janeiro. A taxa ficou em 65,3 pontos no mês passado, contra 67,2 pontos do mês anterior, numa escala de zero a 100. A situação é considerada otimista entre 60 e 80 pontos. Acima de 80 pontos, muito otimista.

“Anúncios do governo como o corte de gastos no Orçamento (de R$ 50 bilhões), o aumento dos juros e a informação de que não vai haver concursos públicos podem ter contribuído para a queda do índice. Janeiro também é marcado por um sentimento de otimismo em relação ao ano que se inicia, e isso pode estar ficando para trás”, afirmou Pochmann. “Mas são hipóteses, precisaríamos de mais pesquisas para saber se esta é uma tendência ou apenas uma acomodação.”

Segundo ele, a perspectiva para os próximos 12 meses e a capacidade de pagamento de dívidas são dois indicadores da pesquisa que ilustram a queda registrada em fevereiro. Em relação à capacidade de pagamento, em janeiro, 19,2% das famílias declararam ter condições de pagar totalmente suas dívidas, número que encolheu para 15,4% em fevereiro. Enquanto isso, o porcentual das que informaram não terem capacidade de honrar os débitos subiu de 32,2% para 37,7% no mesmo período, o que Pochmann acredita estar relacionado ao aumento dos juros básicos da economia.

Para completar, em janeiro 58,2% das famílias disseram que aquele era um bom momento para compras e em fevereiro o índice recuou para 55,2%.

A percepção das famílias sobre o grau de endividamento relativo ao rendimento familiar mensal mostra uma grande diferença de comportamento de acordo com a região do País. Enquanto quase 80% das famílias no Centro-Oeste dizem não ter nenhuma dívida, no Norte o porcentual é de 24%. O Sudeste é a segunda região com nível menor de endividamento declarado (61,9%), seguido por Nordeste (40%) e Sul (38,6%).

Há queda também no indicador futuro. Em janeiro, 64% das famílias acreditava que a situação econômica do Brasil iria melhorar nos próximos 12 meses. Em fevereiro, a taxa caiu para 61,8%. Já a avaliação dentro do núcleo familiar teve uma queda menor, mostrando que embora estejam menos otimistas em relação à situação do País, as famílias acreditam que serão pouco impactadas diretamente por essa previsão de piora. Em fevereiro, 83,3% das famílias acreditavam que sua situação iria melhorar, contra 83,7% em janeiro, uma redução de 0,4 ponto porcentual.

“Há uma dissonância entre decisões governamentais e o comportamento econômico das famílias”, disse. “O mercado de trabalho está muito aquecido”. De acordo com Pochmann, essa visão mais otimista é especialmente percebida entre as famílias de menor renda, que podem ter sofrido um impacto positivo do aumento do salário mínimo.

O IEF é uma pesquisa mensal do Ipea iniciada em agosto do ano passado. Pochmann destaca que cerca de dois terços do Produto Interno Bruto (PIB) vêm dos gastos das famílias e as informações apontadas no estudo são importantes para amparar decisões de investimento por parte das empresas e consumo.

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