Mantega critica regime de câmbio administrado

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou hoje que a situação atual do câmbio no Brasil não é a ideal por questões basicamente internacionais. Ele destacou que, a despeito do País adotar o regime de câmbio flutuante e assumir medidas que evitem a volatilidade da cotação do real em relação ao dólar, outros países do mundo utilizam um regime administrado com rigor por seus respectivos governos.

“Há um desnível na questão cambial. Se com muito esforço de melhoria de competitividade e redução de custos conseguimos um esforço de 10%, há países que apresentam uma diferença no câmbio de 30%, 40% em relação ao real, o que é uma vantagem artificial”, comentou. Segundo Mantega, alguns países utilizam a “intervenção suja” ou “sujíssima”, o que indica que os seus governos gerenciam a cotação de suas moedas em relação a outras divisas conversíveis com muita força, como se fosse uma questão de Estado.

Mantega citou o caso da China, onde apesar do volume expressivo de reservas internacionais e do forte desempenho do nível de atividade o câmbio continua depreciado em relação ao dólar, em vez de seguir uma tendência natural de valorização devido ao ingresso de capital estrangeiro.

O ministro defendeu o regime de câmbio flutuante adotado no Brasil, que para ele é o mais adequado, já que corrige distorções com maior rapidez. Mantega também mencionou que o governo adotou medidas corretas para evitar, recentemente, uma valorização excessiva da cotação do real em relação ao dólar.

Ele destacou, por exemplo, a adoção, em outubro do ano passado, da alíquota de 2% do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre investimentos estrangeiros no País em renda fixa e em ações negociadas em Bolsa. “Essa foi uma ação suave, que evitou a volatilidade excessiva do câmbio. Antes dessa medida, o câmbio só valorizava para baixo e poderia ficar em um patamar inferior a R$ 1,70 com grande rapidez”, comentou.

“Com a implementação do IOF ocorreu uma nova realidade, pois o câmbio também passou a variar para cima. Até recentemente ele atingiu a cotação de R$ 1,80”, afirmou.

Bretton Woods

Mantega disse que a questão cambial internacional precisa de maior esforço dos países do G-20 (que reúne as 20 maiores economias do mundo) para homogeneizar regras relativas a este mercado. O ministro lembrou que já levou esse tema aos encontros internacionais do G-20. “É preciso um novo Bretton Woods”, afirmou Mantega, referindo-se à reunião realizada na cidade de mesmo nome nos EUA, em 1944, que visava assegurar a estabilidade monetária internacional e que criou o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial.

Mantega mencionou que os EUA, de certa forma, veem com bons olhos o dólar fraco, o que possibilitou uma melhora da economia norte-americana, em função da recuperação dos saldos comerciais. “Os EUA já registraram saldo positivo da balança comercial com o Brasil, quando normalmente ocorria o oposto”, comentou o ministro.

No entanto, ele ressaltou que dificilmente o dólar continuará com pouca força, pois a política monetária nos EUA, em algum momento, será alterada, já que a taxa básica de juro no país varia hoje entre zero e 0,25% ao ano. “Tais taxas de juros baixas não devem permanecer no longo prazo”, disse. O ministro fez os comentários durante palestra no seminário “Perspectivas da taxa de câmbio 2010”, realizado hoje na Fundação Getúlio Vargas (FGV).

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