Investidores mantêm apetite por Brasil

A entrada do grupo alemão Fresenius Kabi no Brasil, com a compra do laboratório goiano Novafarma, especializado em medicamentos genéricos injetáveis, operação confirmada pela multinacional nesta semana, reforça o interesse de grupos estrangeiros em ativos no Brasil e dá mostras de que, mesmo com cenário de desaceleração da economia, as operações de fusões e aquisições continuam superaquecidas este ano.

Nos primeiros quatro meses do ano, foram realizadas 235 operações de fusões e aquisições no País, 21% acima do mesmo período do ano passado. Em receita, essas transações somaram R$ 46 bilhões, em comparação a R$ 16,6 bilhões no mesmo período de 2013, segundo levantamento do banco de investimento Greenhill, com base em dados da Capital IQ. Deste total, os negócios envolvendo investidores estrangeiros (“cross border”) aumentaram quase seis vezes, saltando de R$ 2,3 bilhões, nos primeiros quatro meses de 2013, para R$ 14,1 bilhões no mesmo período deste ano. Considerando os movimentos de fundos de private equity (que compram participações em empresas), as operações saltaram de R$ 600 milhões de janeiro a abril passado para R$ 4,5 bilhões no mesmo período deste ano.

Daniel Wainstein, presidente da Greenhill no Brasil, destaca a expansão das operações secundárias – nas quais um fundo private equity vende ativos para outro fundo. “A transação mais interessante em abril foi a aquisição da Aceco TI, companhia que constrói data centers, pelo fundo KKR”, diz. Neste caso, o fundo General Atlantic vendeu sua participação para a KKR, que fez sua estreia no Brasil, depois de avaliar mais de 100 negócios no País.

De acordo com Wainstein, esse movimento secundário intensifica-se, em geral, quando o mercado de capitais não está aquecido. “No caso brasileiro, reflete ainda um amadurecimento do mercado com a participação cada vez maior dos fundos.”

Diante de um cenário desafiador para 2014 no País, o mercado de capitais deixou de ser uma alternativa para as empresas instaladas no Brasil. Nenhuma operação de abertura de capital foi registrada este ano. No entanto, bancos de investimentos e escritórios de advocacia estão trabalhando dia e noite desde o início deste ano em operações de fusões e aquisições. A expectativa é de que as transações neste primeiro semestre mantenham-se aquecidas, segundo fontes ouvidas pelo Estado. O segundo semestre ainda é uma incógnita e, no balanço geral, as operações devem repetir o desempenho de 2013.

Para Alexandre Bertoldi, sócio do Pinheiro Neto Advogados, o aumento das operações de private equity é positivo, uma vez que ajuda na gestão das empresas, com a imposição de práticas de governança. “A primeira onda do efeito negativo Eike (empresário Eike Batista) parece ter passado. Com a melhora da China e das condições globais, o interesse pelo Brasil está aumentando”, diz. Bertoldi reforça o coro do mercado ao afirmar que os ativos do Brasil estão mais baratos, com a valorização do dólar.

Marcos Flesch, sócio da Souza, Cescon, Barrieu & Flesh, que assessorou a Aceco na transação com o KKR, concorda que a entrada de fundos no Brasil tem sido intensa. Mas, parte desses fundos também está saindo de negócios pela maturação do investimento. Para Maria Cristina Cescon, sócia e responsável por fusões e aquisições do escritório, cresce o número de empresas de pequeno e médio porte que buscam “arrumar a casa” para se estruturarem para fazer mais aquisições e abrir o capital no futuro. A contar por esses intensos movimentos já realizados, o ano 2014 promete ser bem agitado. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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