Insumos naturais são alternativa para produção na lavoura

“Utilizar fertilizantes e defensivos agrícolas naturais tem se mostrado uma alternativa muito interessante para o produtor rural. Além de geralmente garantir uma produtividade maior, elimina qualquer risco de intoxicar tanto o agricultor quanto o consumidor.” A constatação é do engenheiro agrônomo e gerente da assessoria de Pesquisa e Desenvolvimento da Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar), Cleverson Andreoli. Ele é um dos responsáveis pela pesquisa de uso agrícola do lodo de esgoto, um programa que vem sendo utilizado há quatro anos e que em 2007 recebeu o prêmio Finep (Financiadora de Estudos e Projetos, do governo federal) de inovação tecnológica na categoria Processo.

O lodo de esgoto é utilizado hoje por aproximadamente cem agricultores paranaenses. Para poder ser aplicado no solo, ele passa por um processo para retirar impurezas e metais pesados danosos à saúde. “Não basta apenas separar o lodo de esgoto e aplicá-lo diretamente no solo. Há todo um processo de limpeza e ainda resta ver se o produto é de qualidade boa, tanto economicamente como ambientalmente”, ressalva Andreoli. Quando está apto para aplicação, o material se mostra rico em nitrogênio e em fósforo, elementos de extrema importância para o solo, e possui ainda um pouco de potássio e micronutrientes, como o zinco.

O pesquisador diz também que é necessário obter licença expedida pelo Instituto Ambiental do Paraná (IAP) e pela delegacia estadual do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para cada lote de lodo de esgoto, para atestar a qualidade do material. O produto é, então, dividido nas classes A e B, sendo o primeiro de melhor qualidade e o segundo, com restrições ao uso. O Paraná, por meio da Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema), só permite o uso do lodo classe A.

Vantagens

Arquivo
Milho, soja (acima) e feijão: culturas recomendadas para uso do lodo.

Além de ser um produto orgânico, o lodo de esgoto traz uma série de benefícios para o agricultor. “O produtor que aplica o lodo no seu solo terá redução no consumo de insumos como nitrogênio e fósforo. Em muitas áreas, houve um aumento na produtividade, que varia entre 30% a 40%”, destaca o engenheiro agrônomo e coordenador estadual de Meio Ambiente do Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), Benno Henrique Weigert Doetzer. O lodo também facilita a infiltração de água no solo, reduzindo o problema de erosão, melhora a qualidade ambiental, faz um efeito corretivo da terra e é disponibilizado gratuitamente para o produtores.

As culturas mais recomendadas para a utilização do lodo são, segundo Doetzer, as de grãos, como milho, soja e feijão, de reflorestamento, fruticultura e café. Porém, o produto não é indicado para holiricultura (cultivo de hortaliças) e plantações que tenham contato com o solo, como a batata e o morango, por exemplo. Quem tiver interesse em usar o lodo de esgoto deve procurar o Emater. Os técnicos do instituto vão avaliar se a área e a cultura podem receber o fertilizante.

Alimentos orgânicos são opção

O consumidor que quiser fugir de produtos com agrotóxicos tem uma opção: os alimentos orgânicos. Utilizando apenas defensivos e fertilizantes naturais, a produção cerca-se de todos os cuidados para que não haja intoxicação por agentes químicos presentes nas culturas convencionais. Para garantir a fertilidade do solo e o controle de eventuais doenças, os produtores rurais tomam algumas medidas preventivas. Para começar, a propriedade precisa passar por um proc,esso de desintoxicação, que pode chegar a até 18 meses.

Quando a lavoura vai ser instalada, o solo é preparado com adubos orgânicos, como esterco, e adubos verdes, como aveia e a leguminosa feijão de porco. É realizada também a calagem, com aplicação de fosfato no solo, e, em alguns casos, com a borra do café, desde que esteja misturada a algum outro elemento. “Isso vai tornar o solo bem fértil e saudável para a plantação”, garante o coordenador de Holericultura do Emater, Iniberto Hamerschmidt. O produtor gasta menos utilizando produtos naturais e garante maior rentabilidade, segundo ele. No Paraná existem empresas que já constataram nessa alternativa um bom nicho de mercado. A Ipirapar é uma delas.

A empresa fabrica um fertilizante a base de material orgânico, como farinha de rochas intemperizadas e sais minerais. O produto, segundo o fabricante, enriquece a fração inorgânica do solo e libera nutrientes para a planta de maneira gradativa, sem causar dano ao meio ambiente.

Produtor brasileiro abusa dos agrotóxicos

Apesar das alternativas para utilização de adubos e defensivos agrícolas naturais, o produtor rural brasileiro ainda é adepto dos agrotóxicos. De acordo com o engenheiro agrônomo e coordenador de Holericultura do Emater, Iniberto Hamerschimidt, o Brasil é o terceiro maior consumidor mundial desses produtos e a utilização tem aumentado. Hamerschimidt mostra-se preocupado com o uso em excesso desses venenos e as conseqüências dos abusos para os agricultores. “Por ano, o País registra em média 300 mil produtores rurais intoxicados pelo uso dos agrotóxicos e cinco mil mortes. No Paraná, a média é de três mil intoxicações e cem óbitos. O veneno atinge tanto quem produz como quem consome”, alerta.

Para o engenheiro, o motivo desses incidentes é principalmente a falta de observação. A contaminação pelo uso excessivo de veneno aconteceria porque os agricultores não respeitam o período de carência, que é o espaço entre a última pulverização e a colheita. “Em 2007, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) avaliou 1.198 amostras de produtos de holericultura e fruticultura. O resultado foi que 207 (17%) estavam contaminados por agrotóxicos. O tomate, com 44%, o morango, com 43%, e a alface, com 40%, foram os campeões em toxicidade”, revela. As culturas perenes são as que mais sofrem com o excesso de agrotóxicos. A goiaba, por exemplo, chega a receber 65 pulverizações por ciclo. Outros alimentos que também recebem uma carga grande de agrotóxicos são a batata e o tomate (30 pulverizações), o pêssego (28) e a maçã (26).

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