Importadores evitam repassar a alta do dólar

São Paulo

  – As recentes altas da moeda norte-americana frente ao real estão motivando a revisão da tabela de preços dos importadores de alimentos e bebidas. A estratégia da maior parte das empresas, porém, é evitar o repasse imediato e na mesma proporção da valorização. Como em geral trabalham com estoque, as correções tendem a ser inferiores à da variação da moeda.

O diretor-comercial da importadora de vinhos, massas, doces e atomatados La Pastina, Celso Fernandes, explicou que as mercadorias são pagas somente quando chegam ao Brasil, pela cotação do dólar do dia, o que torna o negócio vulnerável. “Não temos sistemas de hedge”, disse. O método de proteção mais eficaz, segundo Fernandes, seria a aplicação no mercado futuro de dólar na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F). Mas são operações de curto prazo e a rolagem a cada mês custa cerca de 2% a 3%, o que desestimula o investidor.

Na Casa Santa Luzia, tradicional loja paulistana de importados, há 20 dias os produtos tiveram um aumento de cerca de 10%. Segundo o diretor Jorge da Conceição Lopes, os estoques possibilitam uma manobra mais elástica de preços. “Não podemos tomar nenhuma medida que afugente o cliente”, argumentou. “Se o aumento for pequeno, é tolerável.”

A Expand, que trabalha sobretudo com vinhos, está conseguindo manter os preços dos seus produtos graças ao volume estocado. “Temos estoques que vão durar com folga até outubro” afirmou o diretor comercial, Luis Gastão.

As empresas importadoras de produtos eletroeletrônicos também já começaram a embutir o aumento do dólar. De acordo com o diretor-comercial da loja virtual Submarino, Peter Furukawa, as tabelas recentes das empresas com as quais trabalha estão embutindo reajustes de cerca de 10%.

Até agora, segundo ele, a Submarino ainda não foi obrigada a repassar a diferença, mas deve fazê-lo a partir de agora. Os produtos que podem subir são as câmeras e filmadoras digitais, laptops e palmtops e vários outros itens da linha de informática. Ele espera ainda um reajuste no curto prazo dos produtos nacionais que têm insumos importados.

O presidente da Eletros (Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos), Paulo Saab, afirma que, se o mercado não absorver os aumentos, as empresas serão obrigadas a reduzir a produção para manter margens. A Eletros já revisou duas vezes a projeção do desempenho do setor para 2002. No começo do ano, esperava crescer cerca de 6% para recuperar a perda de 2001, que foi de 6,8%. Depois, a previsão passou para 3 5% de crescimento. No momento, é de 1,5%.

Repasse nos supermercados

Nos supermercados, as pressões por aumentos de preços começaram assim que a alta do dólar afetou os produtos cujos preços são balizados pelo mercado internacional. Em geral, as redes estão repassando os reajustes que ocorreram comprovadamente por causa disto e recusam os que chamam de injustificados, sob o argumento de que o consumidor não vai absorvê-los.

De acordo com a Companhia Brasileira de Distribuição (CBD), controladora dos supermercados Extra, Barateiro e Pão de Açúcar, as negociações incluem até a análise das planilhas de custos dos fornecedores. Os aumentos de produtos que não têm relação com o dólar ou a tentativa de repassar a variação total da moeda, quando apenas um dos ingredientes tem relação com ela, são vetados, informou a assessoria de imprensa da empresa.

Wilson Tanaka, presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Gêneros Alimentícios do Estado de São Paulo (Sincovaga), que reúne supermercados independentes, informou que a retração do consumo vem desencorajando o repasse. Em julho, segundo ele, alguma s empresas do setor de massas e biscoitos até tentaram emplacar um aumento, mas acabaram voltando atrás diante da fraca demanda.

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