Governo vende US$ 1,5 bilhão de títulos em reais

O governo federal conseguiu vender ontem R$ 3,4 bilhões (US$ 1,5 bilhão) em sua primeira captação com títulos de dívida externa atrelados ao real, segundo divulgou o Tesouro Nacional. O dinheiro será utilizado para honrar a dívida do governo brasileiro no exterior. A operação é inédita porque até então o investidor estrangeiro só comprava papéis brasileiros no exterior em moedas fortes – como dólar, euro e ienes. Ou seja, não assumia o risco cambial brasileiro se não estivesse dentro do País.

Os investidores que adquiriram os papéis brasileiros na emissão realizada ontem terão uma taxa de retorno de 12,75% ao ano até 2016, data do vencimento do título. Os pagamentos de juros acontecerão nos dias 5 de janeiro e 5 de julho de cada ano.

A taxa ficou acima da média das últimas operações realizadas pelo Brasil por conta do risco cambial – para compensar as prováveis variações da moeda nos próximos anos. Na última captação feita pelo governo neste ano, no dia 6 de setembro, o governo emitiu US$ 1 bilhão em títulos Global 2025 com taxa de 8,52% ao ano.

Essas duas operações antecipam a programação do Tesouro para 2006. O objetivo do governo é captar US$ 9 bilhões nos próximos dois anos.

Para o Brasil, a emissão atrelada ao real permite o endividamento sem se associar ao risco das moedas estrangeiras, cuja administração foge a seu controle interno.

Para o investidor estrangeiro, a operação também é interessante porque o dólar e o euro estão fracos no mercado internacional – e o real não. Empresas privadas, como o Banco Votorantim, já realizaram emissão de títulos em reais, mas isso nunca foi feito pelo governo.

A emissão de títulos denominados em reais não significa que os investidores estrangeiros terão que comprar reais para adquirir os papéis. No dia da liquidação da operação eles pagarão em dólares o equivalente em reais ao valor dos títulos comprados. O mesmo irá ocorrer no vencimento dos títulos – receberão em moeda estrangeira convertida pela cotação do dia.

A operação começou a ser estruturada na semana passada, quando o Tesouro decidiu que os bancos JP Morgan e Goldman Sachs iriam liderar a emissão. Além disso, o Itaú foi escolhido como ?co-manager?.

O governo decidiu fazer essa captação agora para aproveitar o bom momento que vive no mercado internacional. O risco-país brasileiro está em torno de 370 pontos, patamar similar ao de 1997.

Esses recursos ajudarão o governo a se precaver de um possível contágio na economia da crise política, iniciada em junho, com a denúncia de suposto pagamento de ?mensalão? a deputados da base aliada.

Quanto mais o governo emite títulos, mais cresce sua dívida externa. No entanto, ao trazer dólares do exterior para pagar sua dívida, o governo também protege as reservas internacionais do Banco Central, que servem como garantia aos investidores de que o País pagará sua dívida em momentos de turbulência econômica internacional.

O dinheiro da captação entrará nas reservas brasileiras no dia 26 de setembro.

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