Gasolina sobe e já tem novo aumento previsto

Desde a meia-noite de ontem, o preço da gasolina está 4% mais caro e o do óleo diesel 6%, nas refinarias da Petrobras em todo o País – o que deverá elevar o preço para o consumidor final, nas bombas de combustíveis, em 1,6%, no caso da gasolina, e de 3,8%, no do óleo diesel. Com a Cide e o PIS/Confins (impostos federais), o aumento no preço de faturamento nas refinarias é de 2,4% para o caso da gasolina e de 4,8% para o óleo diesel.

No Paraná, o aumento deverá ser de R$ 0,05 a R$ 0,06 por litro, tanto da gasolina como do diesel, segundo estimativa do presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis (Sindicombustíveis-PR), Roberto Fregonese. “Não tem como definir um valor único, porque o preço é livre e depende da realidade de cada revendedor”, ponderou.

Para Fregonese, o reflexo do reajuste deve ser imediato, nos postos do Paraná. “Os preços devem mudar à meia-noite (de ontem), já que as companhias distribuidoras já estão vendendo mais caro para os revendedores”, afirmou. “O dono de posto que compra de uma das distribuidoras, por exemplo, já está pagando R$ 1,90 por litro e não mais R$ 1,85”, disse ontem, em nota. Ele lembrou ainda que o aumento anunciado pela Petrobras é uma média em todo Brasil, por isso as porcentagens podem variar de um estado para outro.

Já o diretor do Sindicombustíveis-PR, Marcelo Karam, disse ontem não acreditar que o litro da gasolina, em Curitiba, fique abaixo de R$ 2,23. Já o óleo diesel, segundo ele, deve passar de R$ 1,49 para R$ 1,60, em média. “É só uma estimativa. O preço mesmo a gente vai ver só amanhã (hoje)”, afirmou. Segundo ele, além das altas anunciadas pela Petrobras, outro agravante é o aumento do álcool. De acordo com Karam, o custo do álcool subiu mais de R$ 0,20 nas duas últimas semanas.

Em Curitiba, os preços até ontem variavam bastante. Era possível encontrar o litro da gasolina por R$ 1,99, R$ 2,03, R$ 2,07 e até R$ 2,19 – ou seja, diferença de 10% entre o mais caro e o mais barato.

Em junho

O último aumento anunciado pela Petrobras ocorreu em junho deste ano, quando os dois produtos subiram nas refinarias, em média, 10%. Desde então, o preço no barril do petróleo no mercado externo vem batendo recorde em cima de recorde, em decorrência da conjuntura internacional: aumento do consumo, nível baixo dos estoques de alguns dos principais países produtores e conflitos em regiões onde a atividade tem importância no contexto mundial.

Ainda assim, a empresa vinha mantendo os preços desde junho, alegando que não iria repassar para os consumidores a “oscilação” do preço do barril do petróleo no mercado internacional – o que só aconteceria quando se configurasse um novo patamar de preços.

Hoje, com uma produção superior a 1,5 milhão de barris de petróleo por dia e se aproximando da autosuficiência, a Petrobras segurou o preço dos dois derivados no mercado interno, o que vinha causando reflexos negativos no preço das ações da empresa, negociadas nas bolsas de valores do Brasil e do exterior.

Como o petróleo é uma commodity e tem o seu preço cotado internacionalmente, a empresa, uma companhia de capital aberto, vinha sendo pressionada pelos acionistas a adequar seus preços às contingências internacionais, uma vez que, para o mercado, a manutenção da atual margem de comercialização vinha influindo negativamente na lucratividade.

Nas últimas três semanas, no entanto, pelo menos dois importantes diretores da estatal, Nestor Cerveró, da Área Internacional, e Guilherme Estrela, diretor de Exploração e Produção, já admitiam a configuração do novo patamar de preços. Este último, durante a realização da Rio Oil&Gas, na semana passada, ao admitir o novo patamar concordava também, pela primeira vez, com a preocupação da Petrobras para com o impacto de um possível reajuste – que acabou acontecendo – sobre a economia brasileira.

“Temos que agir com tranqüilidade porque sabemos que qualquer movimento de preços dos derivados impacta na economia do País”, justificava, na ocasião, o diretor.

“Volatilidade não influenciou”

O diretor financeiro da Petrobras, Sérgio Gabrielli, afirmou que a empresa optou por não traduzir para o mercado doméstico a volatilidade das variações do preço internacional do petróleo. Ele não especificou os cálculos que levaram a companhia a reajustar o preço da gasolina em 2,4% e do óleo diesel em 4,8%.

Gabrielli disse que foram consideradas algumas variáveis para a determinação do reajuste. Segundo ele, apesar da continuada elevação do preço do petróleo no mercado internacional, o volume de contratos no mercado futuro se manteve estável nas últimas três semanas. Isso refletiria “um cansaço do potencial de alta do preço do barril, por razões especulativas”.

Outra variável foi a redução na pressão de demanda por produtos no mercado americano. Além disso, desde o último reajuste de combustível, em 15 de junho, o real sofreu apreciação de 7%. Segundo ele, essas variáveis, somadas à demanda dos produtos da Petrobras no mercado interno, levaram a companhia a escolher esse nível de reajuste. “A decisão foi da Petrobras, a partir da análise da demanda sobre os nossos preços e os nossos mercados. Neste momento, é o reajuste que poderíamos fazer”, afirmou.

Palocci não descarta novo aumento

O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, disse, após o anúncio do reajuste no preço dos combustíveis, que a Petrobras talvez não tenha feito todo o ajuste que imagina. Lembrou que esse tem sido o comportamento de todos os países diante do elevado custo do barril do petróleo, ultimamente. Segundo Palocci, “ainda há muita incerteza sobre o futuro do preço do produto, mas é certo que por um período razoável haverá um valor acima da média dos últimos anos”.

“Não sei quais foram os elementos que a diretoria da Petrobras utilizou, mas se olharmos em outros paises do mundo, como há incerteza sobre o comportamento dos preços no médio prazo, nenhum país está fazendo o ajuste exato com o alinhamento do preço do petróleo atual”, justificou Palocci.

De acordo com o ministro, o governo mantém uma “tranqüilidade real e não aparente” em relação à alta do preço do barril do petróleo no mercado internacional. Para ele, se a tranqüilidade fosse aparente, estaria refletindo em números piores para o Brasil.

Para Palocci, o reajuste não terá impacto no segundo turno das eleições. “Nós sabemos que no passado a adaptação de políticas a períodos eleitorais custou muito caro ao País e esse governo jamais fará isso. Não tem feito isso e, portanto, acho que o resultado para as eleições é nenhum”, afirmou. Palocci disse, ainda, que agora o País precisa olhar para a frente e não pelo retrovisor.

Mercado considerou alta tímida

Segundo analistas, os reajustes anunciados ontem não são suficientes para compensar os efeitos das recentes altas do petróleo nas contas da estatal. Ontem, o barril bateu novos recordes. O próprio mercado considerou “tímido” o reajuste anunciado e as ações da Petrobras recuaram na Bovespa.

Na avaliação do diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE), Adriano Pires, os preços da gasolina nas refinarias da Petrobras sem impostos, após o reajuste que vigora a partir da meia-noite desta quinta-feira, ainda ficarão 18% abaixo das cotações internacionais do combustível. Já no caso do diesel, a defasagem será de 26%.

De acordo com Pires, antes do aumento, os preços praticados pela Petrobras, comparados com as cotações internacionais, estavam com defasagem de 21%, na gasolina, e 31%, no diesel. “Era melhor ter esperado o segundo turno das eleições e ter dado um aumento pra valer”, avaliou Pires.

O estrategista da Global Invest, Paulo Gomes, diz que o barril do tipo Brent, usado como referência na Europa e Oriente Médio, já teve uma alta de 37% em dólar desde o último reajuste da Petrobras, anunciado em meados de junho. Desta forma, defende, a estatal deveria ter corrigido o valor da gasolina brasileira em ao menos 25,8%. “O reajuste anunciado nesta quinta-feira ficou muito abaixo das expectativas. É possível que a estatal tenha que promover uma nova alta ainda neste ano, caso os preços continuem subindo”, defende.

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