G-20 inicia negociações na OMC

Genebra (AE) – Os países que fazem parte do G-20, grupo de economias emergentes criado pelo Brasil, Índia e China, poderiam ter um incremento de até 40% em suas exportações agrícolas caso as negociações na Organização Mundial do Comércio (OMC) resultassem, de fato, em uma queda ambiciosa das tarifas de importação no setor de alimentos. A avaliação foi feita pela ONU e será com esses ganhos em mente que os diplomatas brasileiros participam desde ontem, em Genebra, da primeira etapa das reuniões na OMC para a liberalização da agricultura em 2005.

A retomada do diálogo ocorre pouco mais de uma semana depois que ministros do comércio dos principais atores nas negociações se reuniram em Davos, na Suíça, para garantir que avanços devem ser feitos no processo até a próxima conferência ministerial da OMC em Hong Kong, no final do ano. "Agora, precisamos traduzir essa vontade política em iniciativas concretas", afirma o embaixador brasileiro Clodoaldo Hugueney, que irá liderar a delegação brasileira.

Usando uma fórmula matemática elaborada pela FAO (Organização da ONU para a Agricultura) e pela Conferência da ONU para o Desenvolvimento e Comércio (Unctad), o estudo indica que o G-20 seria responsável por metade do aumento mundial nas exportações agrícolas diante de uma abertura de mercados. Mas a liberalização também significaria um aumento dos preços internos dos alimentos nesses países emergentes.

Juntos, os consumidores brasileiros, argentinos ou sul-africanos teriam perdas de até US$ 8 bilhões com a elevação dos preços. Mesmo assim, o resultado final para a economia desses países do G-20 é positivo, já que os ganhos obtidos pelos produtores, US$ 11,1 bilhões, serão superiores às perdas para os consumidores.

Uma situação inversa é identificada na protecionista Europa, onde os consumidores ganharão com a abertura de mercados e o acesso a produtos mais baratos. As estimativas apontam que os consumidores teriam ganhos de até US$ 21 bilhões, contra prejuízos dos produtores de US$ 20,7 bilhões. Nos Estados Unidos os produtores também ganhariam com a liberalização dos mercados em US$ 6,4 bilhões.

Nesta semana, em Genebra, a questão do acesso ao mercado será reiniciada e o objetivo do Brasil é de que a reunião ministerial em Hong Kong aprove fórmulas sobre como reduzir as tarifas de importação.

Nova classificação

Outro tema que será debatido a partir desta semana será como criar uma fórmula para regulamentar a queda dos subsídios domésticos. O Brasil, ao lado do G-20, apresenta uma proposta de classificar os países em quatro categorias. A primeira seria para os europeus, que seriam obrigados a realizar cortes mais profundos, já que são os maiores responsáveis pelo volume de subsídios internos. Na segundo nível estariam os Estados Unidos e Japão. Já o terceiro patamar seria o dos países do G-10, grupo de economias relativamente menores e com altos níveis de subsídios, como Suíça, Noruega e Taiwan. A última categoria seria a dos países emergentes, que seriam menos exigidos nos cortes de subsídios.

Na avaliação do Brasil, as séries de negociações que se iniciam amanhã são "fundamentais" para conferir se os países ricos estão de fato dispostos a traduzir em ações concretas seus discursos políticos. Nesta semana, o Brasil ainda realiza reuniões paralelas com os Estados Unidos e Europa. Já em março, o G-20 realizará uma reunião ministerial na Índia com o objetivo de formular sua "plataforma negociadora" para 2005.

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