Fraga critica política externa do Brasil

Rio (AE) – O ex-presidente do Banco Central (BC) Armínio Fraga defendeu que o governo precisa atacar o problema do gasto público e a questão tributária para que o País consiga crescer mais e não fique à mercê do avanço global. Fraga também criticou a política externa brasileira, que precisa ser ?um pouco menos preconceituosa, às vezes até terceiro-mundista?. E afirmou que caso o presidente Lula seja reeleito não haverá ?mudança radical? na economia.

?O Brasil tem crescido muito, em parte porque o mundo está crescendo também, estamos sendo rebocados. Para mudarmos de patamar e sustentarmos crescimento mais rápido, mesmo este de 3,5% que está aí, vamos precisar trabalhar. Trabalhar na questão do gasto público, da educação, melhorar e reduzir a tributação, e a regulação?, afirmou em entrevista depois de apresentação no Wharton Forum Alumini Global, no Rio, ontem.

Fraga comentou que a redução do risco-país pode ser sustentada e ajudar a atrair mais investimento, mas indica que apenas isso não basta. ?Se a questão do gasto público for abordada, acho que ela é sustentável. Mas essa é uma questão cabeluda e nós não temos conseguido?, afirmou, destacando que ?é preciso segurar o gasto público e da carga tributária, que é hoje ao meu ver o maior obstáculo macroeconômico ao crescimento aqui do Brasil?.

Durante a apresentação, Fraga afirmou que trabalha com o cenário de vitória de Lula nas eleições. ?Ele está liderando as pesquisas, estou falando com base nisso?, explicou depois, em entrevista, confirmando que votará no candidato do PSDB Geraldo Alckmin. Questionado se num segundo mandato de Lula poderia haver avanços da ala desenvolvimentista ou de programas assistencialistas, disse que não prevê mudanças radicais e que Lula ?tem sido pragmático?.

Ele ponderou que houve redução da pobreza no País e citou que programas sociais, como o Bolsa Família, funcionam bem no curto prazo, mas é preciso ver os efeitos a longo prazo. Sobre as políticas sociais atuais, afirmou: ?Não tenho nada contra. Foi um trabalho que o presidente Fernando Henrique iniciou, que o presidente Lula deu continuidade. Acho fundamental trabalhar para reduzir a pobreza. Isso posto, acho que para desenvolver realmente o País temos de fazer muito mais e muito melhor na área de educação?.

Negociações internacionais

Ao ser perguntado durante a apresentação sobre o Mercosul, afirmou que era difícil entender a entrada da Venezuela no bloco. ?Não sei, eu não gosto. A Venezuela é um país que não está indo bem, é um governo populista, dá a impressão de que tem um viés autoritário, e nada disso me cheira bem?, explicou. Indicou ainda que discorda, de forma geral, das linha adotada na política externa do País.

?Acho que o Brasil podia ter uma atitude mais voltada para a integração internacional, pouco menos preconceituosa, um pouco menos às vezes até terceiro-mundista. Acho que os nossos interesses são múltiplos e é do interesse nacional ter boas relações comerciais com o mundo inteiro, buscar caminhos. E às vezes sinto que não estamos atingindo esse objetivo?, afirmou.

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