FGV: inflação da baixa renda foi a menor em 3 anos

Graças a um cenário de alimentos mais baratos, a inflação sentida por famílias de baixa renda em 2009 foi a menor dos últimos três anos. A informação partiu do economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV) André Braz. Hoje, a FGV anunciou o Índice de Preços ao Consumidor – Classe 1 (IPC-C1) de 2009, que mede o impacto da movimentação de preços entre famílias com renda mensal entre 1 e 2,5 salários mínimos, e subiu 3,69% no ano passado, quase a metade da inflação apurada por este índice em 2008 (7,37%). Na série histórica do índice, iniciada em 2004, o resultado só não é menor do que a taxa anual de 2006 (1,65%).

De acordo com Braz, os alimentos subiram 1,52% em 2009, também a elevação mais fraca desde 2006, quando os preços dos alimentos caíram 1,26%. Em uma listagem das cinco principais quedas de preço em 2009, no âmbito do IPC-C1, todas são do setor de alimentação. É o caso das deflações registradas nos preços de tomate (-27,88%), feijão preto (-44,33%), feijão carioca (-30,89%), arroz branco (-17,02%) e carne moída (-8,80%). Braz lembrou que os preços dos alimentos se mostraram comportados no ano passado, e isso influenciou fortemente o desempenho anual do IPC-C1 – visto que as famílias pesquisadas para cálculo do índice gastam 40% de seu orçamento mensal com alimentos. “Podemos dizer que os alimentos foram a grande âncora do IPC-C1 em 2009”, afirmou.

A taxa do indicador poderia ter sido mais baixa, não fosse a pressão exercida, em 2009, por aumentos de tarifas e preços administrados, principalmente. Na lista das cinco mais expressivas elevações de preço em 2009 estão as altas de preço registradas em aluguel residencial (6,69%), gás de botijão (11,57%), cigarros (21,11%), ônibus urbano (2,97%) e batata inglesa (41,92%).

Para 2010, um cenário de alimentos baratos semelhante ao que ocorreu em 2009 não deve se repetir. Braz lembrou as previsões são de recuperação e crescimento econômico para este ano, com projeções apostando em altas em torno de 5% do PIB. Com a economia aquecida, o mercado de trabalho deve apresentar novos sinais de melhora, aumentando o poder aquisitivo da população, e elevando a demanda. Isso deve puxar para cima a procura por alimentos, o que pode reduzir oferta e, por consequência, elevar preços. “Não estou dizendo que vai ocorrer uma explosão de aumentos de preços. Creio que os preços dos alimentos vão aumentar, mas de forma gradual”, afirmou.

Para janeiro deste ano, o cenário de elevação de preços é mais previsível. O economista alertou que o recente anúncio do aumento em torno de 17% na tarifa de ônibus urbano em São Paulo vai gerar uma influência de 0,40 ponto porcentual na taxa do IPC-C1 de janeiro. Além disso, normalmente nesta época do ano, os preços de hortaliças, legumes e frutas aumentam devido à redução de oferta causada por problemas climáticos, característicos desta época do ano – como fortes chuvas. “O mês de janeiro vai apresentar uma taxa elevada para o IPC-C1, mas por fatores sazonais, desta época do ano. Mesmo que o índice apresente uma taxa muito elevada no primeiro mês do ano, esta não deve se repetir nos meses subsequentes, em igual magnitude”, explicou.