Exportações cairão 20% com aftosa, diz Kirchner

Buenos Aires (AE) – O governo do presidente Néstor Kirchner mostrou-se otimista ontem, ao avaliar que o surgimento de um foco de febre aftosa na província de Corrientes só causaria uma queda de 20% nas exportações argentinas de carne bovina. Desde o anúncio oficial da descoberta do foco, na quarta-feira passada, no município de San Luis del Palmar (a 25 quilômetros da fronteira com o Paraguai e a 200 quilômetros da divisa com o Brasil), 11 países anunciaram que suspendiam total ou parcialmente a compra de carne argentina.

Em 2001, quando o país foi assolado por centenas de focos de aftosa na área agrícola mais ?nobre? da Argentina – as províncias de Buenos Aires e La Pampa -, a queda nas exportações foi de 90%, o que implicou em um duro golpe ao setor pecuário nativo, que só se salvou do colapso graças ao grande consumo interno. Em 2003, quando a Argentina voltou a ser declarado país ?livre de aftosa com vacinação?, empreendeu a reconquista dos mercados perdidos.

O secretário de Agricultura, Pesca e Alimentos, Miguel Campos, rejeita a possibilidade de que a catástrofe de cinco anos atrás se repita. Ele calcula perdas de US$ 280 milhões nas exportações ?Esperava-se um impacto maior?, argumentou Campos. ?Não será tão grave como se esperava?, disse.

Segundo o secretário, um sinal de que o cenário não é tão complicado é que a Rússia (que importa 36% da carne argentina exportada) só fechou as compras de carne argentina da província de Corrientes. A expectativa em Buenos Aires é que as autoridades sanitárias da União Européia aplicarão as mesmas medidas da Rússia, continuando, desta forma, a importar carne das restantes províncias argentinas.

Ontem, o porta-voz de Sanidade e Saúde da Comissão Européia, Philip Tod, indicou que os técnicos, que tomarão a decisão final na quarta ou quinta-feira, optariam por um embargo específico para a província de Corrientes. Na sexta-feira, Kirchner tentou minimizar a gravidade da situação, afirmando que a aftosa ?é um problema que às vezes acontece…?.

Lideranças ruralistas, entre eles a poderosa Confederação de Associações Rurais de Buenos Aires e La Pampa (Carbap), divergem do governo, e calculam que as perdas seriam muito mais significativas, podendo ficar entre US$ 500 milhões e US$ 700 milhões. Estas perdas também contabilizam os mercados potenciais que estavam a ponto de serem abertos para a carne argentina, como os Estados Unidos e o Canadá, que, somados, comprariam a partir do ano que vem quase US$ 300 milhões. Longe da calma exibida pelo governo, os produtores definem o ressurgimento da aftosa na Argentina como ?uma tragédia?.

Eliminação

O Serviço Nacional de Sanidade e Qualidade Agroalimentícia (Senasa), continuou ontem eliminando cabeças de gado contaminadas pela aftosa na Fazenda San Juan, no município de San Luis del Palmar, a 25 quilômetros da fronteira com o Paraguai e 200 quilômetros da fronteira com o Brasil, na altura do Rio Grande do Sul. No total, desde a semana passada, mais de 800 animais foram mortos para evitar a expansão da aftosa.

O foco original da aftosa em Corrientes era composto por 70 cabeças de gado infectadas. No entanto, considera-se que até 3 mil animais na Fazenda San Juan e nas propriedades vizinhas poderiam estar contagiados com a aftosa, e que por isso, eram potenciais candidatos ao sacrifício. O governo determinou a suspensão do movimento de gado em San Luis del Palmar e em sete municípios vizinhos.

O presidente da Carbap, Javier Jayo Ordoqui, declarou que as autoridades sanitárias argentinas ?agiram de forma rápida? após a detecção do foco de Corrientes.

No entanto, Ordoqui sustentou que Senasa e a Gendarmería, força especial de segurança das fronteiras, deveriam contar com mais meios para fiscalizar as fronteiras do país, de modo a impedir a entrada de gado contaminado com aftosa.

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