Economia não pode se pautar por situação transitória

Brasília (AE) – O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, disse ontem, em audiência na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, que os movimentos dos mercados verificados ontem – a Bolsa de Xangai caiu 9% – devem ser encarados como um aviso de que não se pode pautar uma política econômica em uma situação transitória. ?Temos que ter prudência, nas palavras do Banco Central: parcimônia?, disse Meirelles.

Segundo Meirelles, as moedas dos principais países emergentes também foram afetadas pela queda da bolsa chinesa. Também disse que a queda da Bolsa de Xangai provocou um aumento da aversão ao risco. Ele afirmou ainda que o comportamento do câmbio ontem é uma boa lembrança ao mercado de que a taxa de câmbio se move em duas direções, seja para cima ou para baixo. ?Não existem movimentos unilaterais na taxa de câmbio?, frisou.

Meirelles comentou que essa oscilação do câmbio pode mostrar que algumas apostas (sobre o dólar abaixo de R$ 2,00) podem estar erradas e gerarem prejuízos. Ele afirmou que a idéia de se tentar controlar a taxa de câmbio é algo que tem um custo muito elevado e que ele considera que é praticamente inviável.

Ele também explicou aos parlamentares que as intervenções do Banco Central na taxa de câmbio tem como objetivo tentar corrigir distorções de mercado.

Juros

O presidente do BC afirmou aos senadores da CAE que a redução do ritmo de queda da taxa básica (Selic) de juros, estabelecida na mais recente reunião do Copom (Comitê de Política Monetária, do BC), aumenta a probabilidade de crescimento da magnitude dos cortes futuros. O Copom volta a se reunir na próxima semana, nos dias 6 e 7 de março.

Para Meirelles, essa mensagem estaria clara na ata mais recente divulgada pelo Banco Central. Em resposta a uma intervenção do senador Aloizio Mercadante (PT-SP), presidente da CAE, Meirelles afirmou que o problema do Brasil não é a inflação e, muito menos a inflação baixa.

O senador, momentos antes, havia defendido a necessidade de a inflação no Brasil não ficar tanto tempo abaixo da meta central, para que o País não fique vulnerável à arbitragem de juros e possa aumentar o ritmo de queda dos juros. Meirelles disse que em 55% do tempo os países emergentes industrializados ficam com a inflação abaixo da meta central e que, portanto, o Brasil estaria dentro desse perfil.

O presidente do BC respondeu a uma outra crítica de Mercadante, que havia lido trecho de uma carta aberta do BC enviada ao CMN (Conselho Monetário Nacional). No trecho, o BC afirma que uma desinflação muito rápida provocaria uma queda do PIB (Produto Interno Bruto).

Meirelles explicou que a carta foi elaborada em um momento distinto do atual. Lembrou que, em maio de 2003, a inflação era de 17%, e a meta de inflação era de 4%. ?Era uma desinflação muito agressiva, e, então, propusemos ao CMN uma trajetória mais suave?, relatou.

Assembléia analisa privatizações

Pequim (AE e redação) – A queda de mais de nove pontos na Bolsa de Xangai, verificada ontem, não ocorreu por causa de busca de lucros, mas por temor do que possa ocorrer na Assembléia Popular Nacional, na próxima semana, em relação ao programa de privatização na China e a outros problemas da economia doméstica chinesa.

Na avaliação de Chen Xiaoyang, analista do Shanghai Securities News, o mercado retornou tenso do feriado prolongado de Ano Novo com a perspectiva de a Assembléia Popular Nacional (APN) – o parlamento chinês – ceder às pressões de significativos setores do governo e do Partido Comunista da China (PCCh) em prol da diminuição do ritmo e da concessão de mais transparência ao processo de privatização das empresas estatais durante a sua reunião anual, a partir da próxima semana. ?O cenário tende a persistir até os meados de março, quando o novo quadro do processo de privatizações tomar corpo?, declarou Chen.

Segundo o Legal Times, as ?apropriações indébitas e fraudulentas? dos ativos das empresas estatais estão provocando uma perda anual de US$ 12 bilhões aos cofres públicos e podem ter ultrapassado a casa de US$ 45 bilhões apenas em 2004. A reportagem levou mais de 3 mil intelectuais e militantes de alto coturno do PCCh a se articularem contra a aprovação na íntegra do anteprojeto da lei de propriedade privada pelos parlamentares chineses. ?Tememos que alguns aspectos da lei acabem determinando a consolidação da corrupção?, afirmam os líderes do lobby.

Brasil deve continuar acumulando reservas

Brasília (AE) – O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, disse ontem, na CAE do Senado Federal, que a política de acumulação de reservas internacionais é importante para o Brasil e deve continuar. Ele destacou que as reservas hoje correspondem a cerca de 10% do PIB. Em outro países, ele disse que as reservas variam entre 15% e 30% do PIB.

O processo de acumulação de reservas, de acordo com o presidente do BC, começou a ganhar importância no mundo em 1997, após a crise da Ásia. Desde então, para vários países tornou-se importante ter reservas internacionais e melhorar a situação fiscal.

Sobre o custo de acumulação dessas reservas, ele admitiu que hoje o nível de remuneração de suas aplicações é menor do que o custo de captação de recursos pelo Banco Central. Ele lembrou, entretanto, que a elevação de reservas tem propiciado uma redução dos custos de captação não só do Banco Central como também de empresas privadas e do próprio Tesouro Nacional.

Compulsórios

Meirelles admitiu que o nível dos compulsórios no Brasil é alto. De acordo com ele, os compulsórios estão acima dos padrões internacionais. O presidente do Banco Central ressaltou que o BC vem priorizando nos últimos meses a redução dos juros. Mas destacou que, na medida em que a inflação convergir para as metas, será possível que os compulsórios façam a convergência no longo prazo para os níveis internacionais, assim como a taxa de juros.

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