Dólar vai continuar a subir, prevê economista

O governo conseguiu colocar no mercado financeiro doméstico preocupações até então inexistentes e esse ruído deve manter o dólar em alta por mais algum tempo. A avaliação é do economista-sênior do banco de investimentos Dresdner Kleinwort, em Nova York, Nuno Camara. "Pela primeira vez este ano, vemos o investidor preocupado em relação ao Brasil. Há dúvida se haverá uma guinada na condução da economia no País", afirmou ele, em entrevista à Agência Estado.

Segundo Camara, o movimento de alta da moeda norte-americana se deve ao aumento da remessa de lucros e dividendos, à realização de lucros e à uma grande aversão a risco. Essa aversão seria por causa das preocupações com a economia dos Estados Unidos e às notícias recentes no Brasil sobre a criação de um fundo soberano e a possibilidade de maior intervenção no câmbio. Em uma semana, a taxa de câmbio passou do nível de R$ 1,76 para a faixa de R$ 1 85. Em novembro, a alta acumulada está em torno de 6%.

Para Camara, a criação do fundo soberano "não é uma notícia boa" pois o fundo não está sendo criado a partir de superávit nominal. Ele ressaltou que também há muita incerteza de como será o fundo e se o Banco Central fará parte de todo o processo. "O fundo é uma mensagem negativa para as agências de risco e pode atrasar o grau de investimento", disse Camara. Segundo ele, até a notícia de criação do fundo soberano mudar o cenário, o Dresdner apostava que a elevação do Brasil para grau de investimento poderia vir ainda no final deste ano. Agora, segundo Camara, essa classificação deve ser adiada.

Camara disse que existe preocupação com a qualidade dos gastos no Brasil e que os sinais de que essas despesas vão continuar aumentando só pioram a percepção de risco. "É necessário que o governo pare de ser um grande tomador de recursos, um grande gastador. O problema não está na quantidade, mas na qualidade do gasto", observou.

O economista afirmou ainda que ao criar o fundo soberano o governo quer tentar conter a queda do dólar. "Esse seria o caminho mais rápido para intervir no câmbio. O caminho mais longo e mais eficaz será desonerar o setor produtivo", disse o economista, que também critica a possibilidade de anúncio de pacote de medidas cambiais pelo governo. "Medidas cambiais não funcionam. São medidas de curto prazo e ineficazes.

Ele ressaltou que os cerca de US$ 70 bilhões comprados pelo Banco Central nas atuações no mercado à vista ao longo deste ano até agora, não impediram que o dólar continuasse a cair. "Não há o que fazer. Melhor é mesmo desonerar o setor produtivo", reforçou.

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