Dólar sobe 2,83% e risco Brasil vai a 2023 pontos

São Paulo

(das agências) – Após registrar cotação máxima de R$ 3,46 durante a tarde, o dólar comercial fechou ontem a R$ 3,450 para venda e R$ 3,445 para compra – 2,83% mais caro do que anteontem e apenas 0,5% mais barato do que seu recorde de fechamento em relação ao real, R$ 3,47, registrado em 31 de julho. Foi a sexta alta consecutiva do dólar, que só nesta semana valorizou 9,2%. Enquanto isso, o risco Brasil sobe 4,32% e opera a 2.023 pontos, maior patamar desde os 2.091 pontos registrados em 16 de agosto.

Segundo operadores, o Banco Central teria intervindo no mercado vendendo dólares à vista, mas a operação não havia sido confirmada oficialmente até o final da tarde. Além disso, foram vendidos US$ 50 milhões ao mercado em um leilão de linha externa, modalidade na qual o BC recompra os dólares depois de um determinado prazo, e outros US$ 38,5 milhões em linhas condicionadas ao financiamento de exportações.

A alta de ontem foi mais uma vez alimentada por pressões políticas. Dentro do país, a chance de um candidato que se opõe à atual política econômica vencer as eleições presidenciais no primeiro turno deixa o mercado inseguro, com medo de uma ruptura brusca na atual política econômica. Hoje, será divulgado novo levantamento do Ibope para a CNI (Confederação Nacional das Indústrias).

No início desta semana, o petista Luiz Inácio Lula da Silva apareceu pela primeira vez nas pesquisas com chances reais de ganhar a eleição já no primeiro turno.

Fora do país, assusta a possibilidade de uma guerra no Golfo Pérsico, que faria disparar os preços do petróleo, com a crescente pressão norte-americana.

Movimento especulativo

“Eu percebo um movimento bastante especulativo no mercado”, afirmou Miriam Tavares, diretora da corretora AGK, lembrando que o quadro eleitoral, a 16 dias do pleito, ainda não está consolidado.

Já sobre a possibilidade de guerra no Iraque, diz Miriam, mesmo que se concretize demoraria meses até que transcorram todas as tentativas de solução diplomática para o conflito com os EUA, que acusam o governo de Saddam Hussein de manter armas de destruição em massa.

“O problema é que o mercado costuma embutir as coisas no preço bem antes da hora, e aí, mesmo que elas não se concretizem, as cotações não recuam”, afirmou Miriam.

O volume de negócios tem sido baixo, e o movimento tem se restringido às operações entre bancos, o que leva cada operação isolada a ter maior efeito sobre a cotação.

Ontem, o Banco Central anunciou que não vai rolar integralmente três vencimentos da dívida cambial em ?swaps? (contratos com retorno atrelado ao dólar) marcados para hoje (US$ 150 milhões), para o dia 25 (US$ 1,5 bilhão) e dia 1.º de outubro (US$ 1,25 bilhão). Segundo o BC, será rolado, no máximo, 50% do segundo vencimento e 70% do terceiro.

Köhler vê mais riscos sobre a economia

O diretor-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional), Horst Köhler, afirmou ontem que os riscos sobre as perspectivas econômicas globais aumentaram nos últimos meses, mas ainda assim a recuperação deverá continuar. Sobre o Brasil, que recentemente recebeu um pacote de ajuda de US$ 30 bilhões do Fundo, Köhler disse estar “confiante de que o país manterá políticas saudáveis no futuro, retomará a confiança completa dos mercados financeiros internacionais e retornará a um ritmo forte de crescimento??.

??O principal problema na América Latina não tem sido reformas de mais, mas sim reformas de menos. Temos visto na Argentina que é perigoso parar no meio do caminho.??

Em um discurso antes da reunião anual do FMI na próxima semana, Köhler disse que os Estados Unidos devem evitar retornar ao gasto excessivo, enquanto Europa e Japão devem fazer mais para alavancar suas perspectivas de crescimento.

??A economia global tem mostrado uma resistência considerável ante os múltiplos choques dos últimos dois anos??, afirmou Köhler.

O diretor acrescentou ser necessário preocupar-se com a força e durabilidade da recuperação econômica e com a estabilidade do sistema financeiro internacional.

??Os riscos sobre as perspectivas econômicas globais hoje estão claramente maiores do que há alguns meses, mas no geral ainda acreditamos que a recuperação continuará.??

Koehler disse que os riscos incluem os contínuos efeitos negativos do colapso da bolha do setor financeiro, os escândalos corporativos que prejudicaram a confiança do consumidor, as crises em países emergentes como o Brasil e a Argentina, tensões políticas regionais e a volatilidade dos preços de petróleo no mercado internacional.

Para ele, é essencial que as maiores economias do mundo adotem medidas para impulsionar a confiança. ??Os Estados Unidos devem ficar cautelosos para não retornar a déficits crônicos do gasto público.??

??A Europa e o Japão devem ser mais duros na implementação de reformas estruturais??, afirmou.

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