Dólar na menor cotação desde dezembro

O dólar fechou ontem no menor valor desde o final de dezembro. A moeda recuou 0,89%, para R$ 2,665. A queda da cotação desagrada os exportadores e desafia o governo a adotar medidas para conter a valorização do real. Os leilões de compra de divisas pelo Banco Central, iniciados no dia 6 de dezembro, tentam impedir um tombo maior da cotação – além de reforçar as reservas em moeda estrangeira do país, que é o objetivo oficial das intervenções.

"Fica difícil o Banco Central, sozinho, tentar reverter uma tendência mundial da moeda americana", diz o vice-presidente executivo de tesouraria do banco alemão WestLB, Flávio Farah.

A valorização do real segue o movimento internacional de moedas como o euro, iene e libra, que se fortalecem frente ao dólar. Nesta quarta-feira, o euro voltou a subir frente a moeda dos EUA, um dia após ter sido cotado abaixo de US$ 1,30.

Ontem, no final da manhã, o BC comprou divisas pagando taxa de R$ 2,678. Mas o leilão foi insuficiente para impedir a forte queda da cotação. Segundo um operador, havia a expectativa de uma outra intervenção à tarde, que não ocorreu.

No horizonte do mercado, existe espaço para uma queda maior do dólar. Uma renovação do acordo do Brasil com o FMI (Fundo Monetária Internacional), atualmente em discussão, pode acentuar essa tendência. "Mas se não houver a renovação, o mercado não terá uma reação tão negativa", diz Farah.

Atualmente, o WestLB projeta o dólar a R$ 2,85 para o fim do ano. Esse valor está abaixo da média do mercado (R$ 2,90) apontada pelo boletim Focus na última segunda-feira.

O fluxo positivo de recursos também contribui para o real forte. Além dos dólares do comércio exterior, há as captações por meio de lançamento de bônus por bancos, empresas e pelo governo.

Na semana passada, o Tesouro captou 500 milhões (cerca de US$ 650 milhões) de euros com o lançamento de bônus de dez anos. A tomada de empréstimos é favorecida pelo nível baixo do risco-país, que hoje caiu para o nível mais baixo das últimas três semanas.

Os exportadores defendem o dólar perto de R$ 3, uma reivindicação que é encampada pelo ministro Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento).

Até o final deste trimestre, o governo promete elevar de seis meses para um ano o prazo para o exportador internalizar suas divisas. Ou seja, ele terá mais tempo para trocar seus dólares por reais.

Na avaliação dos exportadores, isso poderia reduzir a oferta de divisas no mercado e pressionar um pouco a cotação.

Risco Brasil cai

O risco Brasil atingiu ontem o menor patamar em três semanas. A queda de 2,14% levou para 410 pontos – nível mais baixo desde o último dia 4, quando estava em 402 pontos. Entre os emergentes, o Brasil tem o sexto maior risco, atrás da Argentina, Equador, Nigéria, Filipinas e Venezuela.

O indicador mede a confiança do investidor estrangeiro nos títulos da dívida externa do país. Quanto menor essa taxa, menor a aposta em calote.

Apesar da queda desta quarta-feira, o indicador acumula uma alta de 7% neste mês. No final de dezembro, o risco brasileiro indicava 383 pontos, o menor patamar desde outubro de 1997.

Uma queda do risco tende a baratear a captação de recursos no exterior. Na prática, um risco na casa de 400 pontos significa que os papéis oferecem taxa de retorno de 4% acima das pagas pelos títulos do Tesouro americano.

A melhora da percepção de risco também favorece uma queda do dólar, já que o fluxo de capital estrangeiro tende a ser maior nos países com menor chance de decretar moratória de sua dívida.

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