Dívida e dúvidas fazem cotação recorde do dólar

Os especuladores com o dólar – os bancos – mostraram a cara, ontem, ao forçar a elevação da cotação da moeda americana para um patamar histórico: R$ 3,78 para cada US$ 1. Mas durante a tarde, a cotação da moeda “caminhou” por patamar mais elevado, tendo chegado a R$ 3,83. A alta do fechamento foi de 5,8% na comparação com a cotação do dia anterior, fazendo que com a moeda brasileira passasse a valer, desde ontem, menos que o peso argentino -país que (sobre) vive uma crise sem precedentes há quase um ano (ontem, cada dólar custava 3,70 pesos, em Buenos Aires). O Banco Central bem que tentou entrar no mercado para forçar a queda na cotação. Mas encontrou adversários de peso e a tentativa não obteve sucesso.

“Os bancos estão comprando e vendendo [dólares] entre si apenas para inflar a cotação e o volume. O volume de negócios fora do câmbio interbancário é ridículo”, afirmou um operador. O risco-Brasil (taxa de insegurança do mercado internacional para investimentos no país) subiu 1,05%, a 2.198 pontos.

O motivo era bem claro para todos os que convivem diariamente com o mercado financeiro. Instituições que detém contratos de câmbio e têm uma dívida de US$ 1,52 bilhão com o Banco Central a receber hoje, estavam inflando artificialmente as cotações para maximizar seu lucro. A dívida será paga em reais de acordo com a Ptax (cotação média compilada pelo Banco Central) de ontem.

Também circulam pelo mercado rumores sobre a nova pesquisa eleitoral do Ibope, que dão conta de avanços das candidaturas de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que pode vencer as eleições já no primeiro turno, e de Anthony Garotinho (PSB), que teria se aproximado do governista José Serra, o segundo colocado. Serra é o preferido do mercado por defender a continuidade da atual política econômica.

A situação fora do país, com a iminência de uma nova guerra no Golfo pérsico, que pode detonar uma crise do petróleo, também não ajuda. Com isso, tanto as Bolsas de Valores européias quanto o principal índice acionário norte-americano, o Dow Jones, registraram fortes baixas hoje.

Ibovespa fecha em queda de 1,24%

O índice Bovespa fechou em queda de 1,24%, aos 9.148 pontos, menor nível desde 2 de março de 1999 (pós-desvalorização do real), quando finalizou aos 9.078 pontos. Nos dois pregões desta semana, a perda acumulada já atinge 4,5%. No mês, o índice acumula baixa de 11,8% e de 32,6% no ano. O principal movimento do mercado acionário ontem foi a venda de ações de companhias endividadas em dólar e a compra de papéis de empresas exportadoras. Isso mostra que há uma aposta na tendência de alta da moeda americana, que hoje subiu 5,88%, vendida a R$ 3,78, novo recorde do real.

Mantega diz que mercado estabiliza após eleições

São Paulo

(AE) – O economista Guido Mantega, principal assessor econômico do candidato do PT à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, garantiu que o dólar deverá recuar ao patamar de R$ 3 após o processo eleitoral. “Assim que se restabelecer a confiança, o dólar vai recuar”, disse. E reiterou: “Quem apostou na alta do dólar (citando as cotações de R$ 3,60 e R$ 3,70 como exemplo) vai quebrar a cara”.

Ao falar da alta do dólar, o economista disse que a decisão do Banco Central de não intervir no mercado para baixar a cotação da moeda americana está correta. “O governo não pode torrar reservas com isso”. Mantega disse que, da mesma forma que o BC, também não interviria neste momento no mercado para reduzir a taxa do dólar: “O câmbio precisa flutuar para encontrar o seu ponto de equilíbrio.” E disse mais uma vez: “O preço vai recuar”.

Internacional

Guido Mantega afirmou que a alta do dólar está mais relacionada com a instabilidade do cenário internacional do que com o processo eleitoral no País. “Essa história de terrorismo eleitoral não está dando certo e eu acredito que, neste momento, as eleições contribuem apenas com uma pequena parcela para o aumento do dólar”, disse ele.

Segundo o economista, o fator de maior peso nas taxas da moeda americana é “a conturbada situação do mercado internacional, principalmente com as Bolsas em queda”. Para ele, o cenário internacional cria uma situação conservadora, reforçada pela posição do presidente dos EUA, George Bush, de querer atacar o Iraque.

Mantega assegurou que, “assim que o mercado acordar” para a situação do Brasil, que segundo ele vai fechar suas contas este ano e também no ano que vem, “o humor vai mudar”. Para ele, o superávit comercial brasileiro pode chegar aos US$ 10 bilhões, a necessidade de recursos externos tende a diminuir e, além disso, as contas internas e externas serão fechadas, este ano e em 2003, sem nenhum problema.

Juros

Uma equipe do PT, liderada por Mantega, está discutindo há cerca de um mês a questão dos juros e do acesso ao crédito com integrantes da Federação Brasileira de Bancos (Febraban). Entre as medidas que a comissão estabeleceu e que serão colocadas em prática, caso o presidenciável petista Lula, estão o restabelecimento dos créditos imobiliário e rural e a redução das taxas de juros.

Ele disse que ficou “surpreendido” com o fato de os representantes dos bancos considerarem a taxa Selic alta. “Estamos discutindo, por exemplo, que os bancos podem conceder mais empréstimos e não ganhar dinheiro apenas na Selic, com a dívida pública.”

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