Divergências no Mercosul não vão destruir o bloco

São Paulo  – O Mercosul está vivo e ninguém disputa um cachorro morto, disse ontem, em São Paulo, o assessor de Assuntos Internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia. Para ele, a força do bloco se afirma no momento em que a Venezuela e o Peru decidem ingressar como membros associados e o México solicitou oficialmente abrir negociações para se integrar, embora “alguns setores queiram desconhecer” esses fatos.

“Reconheço que estamos enfrentando dificuldades. Mas, para isso, temos diplomatas e negociadores”, ponderou o assessor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pouco antes de participar do encontro internacional sobre “Democracia, Governabilidade e Partidos Políticos na América Latina”, que termina hoje no Parlamento Latino-Americano (Parlatino), em São Paulo.

Sobre as conseqüências e os impactos da guerra comercial deflagrada pela Argentina há pouco mais de duas semanas na imagem do Mercosul, Garcia disse que o Brasil tem sido enfático ao insistir em que não quer crescimento econômico às custas da desindustrialização de qualquer um dos países da região. “Seria uma estupidez, porque isso estaria, entre outras coisas, liquidando o mercado. Da mesma forma em que queremos e buscamos o desenvolvimento interno, queremos o mesmo para a região, porque apostamos fortemente no Mercosul”, respondeu o assessor.

Protecionismo argentino

Indagado sobre as acusações do setor privado de condescendência de parte do governo em relação ao desrespeito argentino às regras do Mercosul, o assessor de Lula fez questão de afirmar que não se trata de uma atitude exclusivamente protecionista.

“Se abriu uma discussão em torno de dois setores (linha branca e marrom) importantes. Mas sempre haverá a possibilidade de que outros setores abram a mesma discussão por uma razão muito simples: todos que se sentirem prejudicados, num processo de abertura comercial, evidentemente vão pedir proteção ao governo. Seria estranho que não o fizessem”, explicou.

Garcia pediu ainda compreensão do setor privado brasileiro, já que, de acordo com ele, existe, no bloco, uma lógica maior que precisa ser preservada. Para Garcia, os empresários pensam pela lógica do êxito de suas empresas e o governo nunca pediu o contrário. Ele também acredita que a lógica do Estado, dos governos, compatibiliza duas dimensões. “Primeiro, proteger o seu parque produtivo e de serviços e, ao mesmo tempo, precisa pensar nos interesses estratégicos de um processo de integração que exige certos sacrifícios.” Ele frisou, entretanto, que esses sacrifícios precisam ser compensados de alguma forma.

Cauteloso, Garcia disse que certas questões tributárias, por exemplo, permitiriam tal compensação, mas disse que isso precisaria ser, antes, muito bem pensado e discutido. Para ele, o Mercosul esteve paralisado nos últimos anos e o surgimento desses conflitos é sinal de que o bloco está em movimento e saiu de um estado de letargia.

Garcia criticou a posição de alguns setores da sociedade com a deflagração de mais um conflito com a Argentina. “O que incomoda um pouco é que houve, de parte de setores da opinião pública, felizmente muito minoritários, uma tentativa de, por meio desse incidente, desqualificar o projeto (Mercosul) como um todo. E mais do que isso, de tentar empurrar na direção do velho projeto da Alca (Área de Livre Comércio das Américas), com o qual estamos comprometidos.”

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