São Paulo (AE) – Instituições financeiras, ainda que em número reduzido, iniciaram nos últimos dias, segundo informações levantadas nos bastidores do mercado, um movimento incipiente de hedge (seguro) de câmbio e juros. Embora no começo e sem força suficiente para ser considerada como uma tendência, a busca por proteção, acusada por analistas do próprio mercado, estaria sendo estimulada pela crise que se instalou no cenário político nos últimos dias em decorrência do escândalo do dossiê Vedoin, que envolveria políticos tucanos no esquema de compras de ambulâncias superfaturadas, na chamada ?máfia das sanguessugas?.
De segunda-feira para anteontem, o DI de janeiro de 2008, o mais negociado na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), saiu de uma taxa de 13,58% para 13,88%. Segundo apurou a editora Lucinda Pinto da Broadcast com fontes do mercado, o movimento não deixa de configurar-se como uma busca por hedge em algumas casas, mas não se pode dizer que esteja ocorrendo uma migração da posição vendida para a de comprada.
Dados disponíveis no site da BM&F informavam que o número de contratos de DI em aberto saiu de 1.877.838 na segunda-feira para 219.137, na ponta vendida, e de 1.770.524 para 212.053 na ponta compradora, até quinta-feira. ?O que está ocorrendo é uma zeragem de posição, que não deixa de ser vista como proteção, uma vez que as instituições estão reduzindo a exposição?, afirma o economista-chefe de um banco consultado pela Agência Estado.
Movimento semelhante tem sido registrado no mercado de câmbio. Anteontem, o dólar fechou com alta de 1,47% no mercado interbancário de balcão negociado a R$ 2,209, a maior cotação desde 14 de julho. O estresse do mercado, segundo um economista que trabalha na asset management de um grande banco, pelo desconforto em relação a um segundo mandato do presidente Lula, principalmente pelas incertezas sobre como o governo, irá conduzir a política fiscal do País. ?Outros consideram até a possibilidade de o presidente Lula, se reeleito, não conseguir cumprir todo o mandato, já que começam a incorporar a probabilidade de o registro da candidatura do presidente ser impugnado mesmo depois da eleição?, diz o economista.
Outro economista-chefe de banco afirma estar observando algum movimento de formação de hedge no mercado a partir da própria instituição em que trabalha. Mas ele ressalta que o movimento é pouco significativo e os fundamentos econômicos são bons. Citou o superávit de US$ 2,095 bilhões na conta corrente de agosto depois de ter sido superavitária em US$ 3,043 bi no mês anterior e a própria balança comercial, que fechou agosto positiva em US$ 4,5 bilhões.