Definição sobre aftosa no Paraná pode sair hoje

Uma audiência pública, prevista para ser realizada hoje à tarde (às 14h) na Assembléia Legislativa do Paraná, que vai reunir técnicos do Ministério da Agricultura e da Secretaria de Estado da Agricultura, além de todos os segmentos interessados na solução do problema relacionado à aftosa no Paraná, presidida pelo deputado federal Abelardo Lupion (PFL-PR), pode pôr fim ao drama do foco da doença anunciado no Estado e que já perdura há quase 50 dias. O objetivo é confrontar informações e apurar responsabilidades que possam esclarecer se existe ou não aftosa no Estado, uma vez que muita informação contraditória envolve o assunto.

Foram convidados, além do secretário de Estado da Agricultura e do Abastecimento, Orlando Pessuti, os presidentes da Ocepar, Faep, Sindicarne, Sociedade Rural do Paraná, Sindicato dos Produtores de Gado de Corte e Leite do Paraná, o delegado federal da Agricultura, Valmir Kowalewski de Souza e da Associação Paranaense de Suinocultura, Irineu Wessler, e as bancadas federal e estadual do Paraná.

Ontem a Comissão de Agricultura, Pecuária e Abastecimento da Câmara dos Deputados realizou reunião para discutir o assunto, à qual esteve presente o professor Amauri Alfieri, diretor de Virologia Animal da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Ele se disse ?impressionado? com a intransigência dos técnicos do Ministério da Agricultura. Foram mais de sete horas de discussão sobre se existe de fato a febre aftosa ou não no Paraná, sem qualquer resultado.

Outro insatisfeito com o resultado da reunião foi o professor Raimundo Tostes, coordenador do curso de Medicina Veterinária do Centro Universitário de Maringá (Cesumar/PR). Para ele há um grave erro, por parte do governo federal, que não investe em laboratórios. ?Se o País possui o maior rebanho bovino do mundo e somos o maior exportador de carne do mundo, temos que ter laboratórios decentes?, disse.

Ele também lembrou que os animais que deram origem ao alerta de aftosa no Estado não apresentavam os sintomas da doença. ?Convido os senhores a verem o caso mais atípico de febre aftosa que já vimos na literatura médica nacional: o de animais que engordam duas arrobas (30 quilos) em duas semanas?, ironizou.

Excesso de cautela

Para Maria do Carmo Pessoa, chefe da Seção de Epidemiologia do Departamento de Fiscalização e Defesa Agropecuária do Paraná, não houve nenhum tipo de erro na tomada de decisões do departamento. ?Podem nos acusar de agir com excesso de cautela, mas jamais com ineficiência?, afirmou.

Ela lembrou que o Paraná está à frente de outros estados brasileiros no que diz respeito ao controle sanitário do rebanho. ?Sempre que há um alerta adotamos o procedimento de primeiro interditar o local, depois realizamos os testes e depois então é que liberamos para consumo. Nossa cautela é a máxima?.

O coordenador-geral de Combate às Doenças do Ministério da Agricultura, Jamil Gomes de Souza, confirmou que o ministério adotou as regras estabelecidas pela Organização Mundial de Sanidade Animal (OIE) quando recebeu o alerta sanitário da febre aftosa no Paraná. Ele ressaltou que os níveis de resultados positivos no testes sorológicos apresentados pelo País para a OIE são sempre inferiores a 1%. De acordo com estas regras, níveis superiores a esse, mesmo sem a incidência de focos, já não seriam aceitos pela organização para que uma determinada área fosse considerada livre da aftosa.

Felisberto Batista, chefe do Departamento de Fiscalização e Defesa Agropecuária do Paraná, falou que o Estado foi um dos primeiros a unir o governo à iniciativa privada para combater a doença. Confirmou que em nenhuma das amostras do gado do Paraná o vírus da febre aftosa foi isolado, e pediu que os casos de focos de aftosa no Mato Grosso do Sul e do Paraná sejam estudados com mais cuidado.

Crédito

A Câmara dos Deputados aprovou ontem a Medida Provisória 265/05, que concede crédito extraordinário de R$ 33 milhões ao Ministério da Agricultura para combater a febre aftosa no Mato Grosso do Sul e, segundo Gabriel Alves Maciel, secretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, mais R$ 37 milhões foram liberados, nesta semana, para a modernização dos laboratórios do ministério. Maciel fez o anúncio durante a audiência na comissão.

Missão técnica vai à Europa

O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, informou ontem que uma missão técnica do Brasil se reunirá com técnicos europeus no dia 19 em Bruxelas. Eles discutirão o embargo da União Européia à carne de Mato Grosso do Sul, Paraná e São Paulo. A suspensão está em vigor desde o dia 12 de outubro.

Na terça-feira, o secretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Gabriel Alves Maciel, havia dito que a Rússia e a União Européia cancelaram reuniões que teriam nesta semana com técnicos brasileiros para discutir o embargo a carne. Ele atribuiu os cancelamentos a ?problemas de agenda?, mas o presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS), Rubens Valentini, disse que as reuniões foram canceladas porque o Brasil ainda discute se há ou não febre aftosa no Paraná. Para ele, o recado foi claro: que o País se entendesse primeiro sobre onde há focos, e só depois inicie as negociações para suspender os embargos.

Rodrigues também comentou a questão do Paraná. A existência ou não de aftosa no Estado divide opiniões até mesmo dentro de sua equipe. Anteontem a diretora de programas da área animal da Secretaria de Defesa Agropecuária, Tânia de Paula Lyra, revelou que a alta potência das vacinas produzidas no País pode induzir a erro no resultado dos exames sorológicos da doença. Outros técnicos do ministério saíram em defesa do governo federal e confirmaram o foco no Paraná.

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