Décimo-terceiro injeta R$ 2,3 bilhões no Paraná

O pagamento do 13.º salário aos trabalhadores formais, informais e beneficiários da Previdência injetará R$ 2,3 bilhões na economia do Paraná até o final do ano, 7% mais que no ano passado, segundo estimativa divulgada ontem pelo escritório regional do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos). Isso significa um valor médio de R$ 556,29 para 4,141 milhões de beneficiados no Estado – 78% da População Economicamente Ativa, que é de 5,308 milhões de pessoas. Em todo o País, o pagamento do 13.º salário a 49,966 milhões de trabalhadores da economia formal e beneficiários da Previdência Social chega a R$ 35,8 bilhões, o equivalente a 2,7% do Produto Interno Bruto (PIB).

Legalmente, têm direito a receber o salário extra os empregados com carteira assinada, servidores públicos e aposentados. No Paraná, de acordo com o Dieese, serão beneficiados 1,198 milhão de aposentados, que receberão valor médio de R$ 383,19, perfazendo R$ 459,4 milhões, além de 1,789 milhão de assalariados – que com salário médio de R$ 820,77 totalizam R$ 1,468 bilhão. O Dieese estima ainda 1,152 milhão de trabalhadores informais (sem carteira, trabalhadores domésticos e taxistas de Curitiba – que trabalham em dezembro com bandeira 2 durante 24 horas) recebendo média de R$ 325,60 e total de R$ 375,2 milhões.

Como algumas empresas adiantam a primeira parcela do 13.º durante o ano, nas férias dos empregados ou em negociações coletivas, o Dieese projeta que 70% do montante será colocado no mercado no final do ano. Instituído em julho de 1962, desde agosto de 1965, foi assegurado em lei o pagamento de 50% do 13.º até o dia 30 de novembro. Nesse ano, como o dia 30 cai num domingo, os beneficiados receberão no dia 28 ou 29.

Reflexos

Apesar de ser um grande estimulante para aquecer as vendas de final de ano, “infelizmente em torno de 50% do dinheiro vai para pagamento de dívidas”, comenta o presidente do Sindicato dos Empregados no Comércio de Curitiba, Ariosvaldo Rocha. Estima-se que 25 a 35% seja direcionado ao consumo e o restante para poupança, turismo ou aplicações financeiras. “Por causa da queda da renda muito acentuada, as pessoas devem destinar uma parcela maior para pagamento de dívidas do que no ano passado, o que não significa ausência de consumo”, avalia o economista Cid Cordeiro, supervisor técnico do Dieese no Paraná. “Limpando o nome na praça, a pessoa volta a ter crédito, ou zera a dívida para fazer novo endividamento.”

Segundo ele, embora a situação de renda do trabalhador tenha piorado – já que nem todas as categorias conseguiram reposição integral da inflação, que deve fechar o ano em 11% – a conjuntura melhorou. “A queda da taxa de juros e a expectativa otimista para 2004 apontam para um Natal melhor que 2002”, afirma Cordeiro. Depois de dois Natais com desempenho negativo nas vendas (-3,86% em 2001 e -2,96% em 2002), a expectativa do Dieese é de crescimento de até 5% nas vendas do varejo do Paraná nesse ano, comparado ao ano passado. Até setembro, o IBGE aponta recuo de -0,62%, porém o economista considera possível fechar o ano com alta de 3%, considerando a expectativa positiva para esse final de ano.

Os comerciantes falam em aquecimento de até 10% nas vendas em dezembro. Se esse percentual se concretizasse, poderia haver a geração de até 8 mil empregos temporários na Grande Curitiba e até 15 mil no Estado, de acordo com o presidente do Sindicato dos Comerciários. Porém Rocha avalia que o número não deve passar de 5,5 mil em Curitiba e Região Metropolitana e de 11 mil no Estado. “A grande maioria faz as contratações a partir da segunda quinzena de novembro”, informa. No ano passado, foram geradas 10 mil vagas temporárias.

Queda nas vendas já é menor

O volume de vendas do comércio varejista brasileiro continuou em queda no mês de setembro, porém, de forma menos acentuada do que em agosto. De acordo com dados divulgados ontem pelo IBGE, em setembro as vendas do comércio caíram 2,72% em relação a igual mês de 2002, praticamente a metade da taxa verificada em agosto, quando houve retração de 5,81% nas vendas.

A queda também é a menor desde fevereiro, quando a taxa foi negativa em 1,6%. Em março, por exemplo, as vendas tinham recuado 11,35% em relação ao mesmo mês do ano passado.

O resultado de setembro reduz a queda acumulada no ano para 5,18% e, em 12 meses, para 4,25%. Além disso, mostra que o mercado interno começa a reagir com os reajustes salariais e as medidas de incentivo ao crédito anunciadas pelo governo.

Como o comércio tem mantido a tendência de recuperação nos últimos meses, cresce o número de economistas que já apostam que o Natal deste ano será melhor que o de 2002.

Receita

Mesmo com a retração nas vendas em setembro, houve crescimento de 14,47% nas receitas nominais (sem descontar a inflação) sobre setembro de 2002. No acumulado do ano, as receitas de vendas apresentam expansão de 14,54% e, em 12 meses, alta de 13,43%.

Ou seja, a queda no volume de vendas mostra que os trabalhadores estão comprando menos mas gastando mais devido ao repique da inflação no periódo.

Trimestre

No acumulado de julho a setembro, as vendas estão negativas em 4,35%, menor índice verificado entre os trimestres deste ano.

Juros estão em baixa

Pesquisa da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac) mostrou que os juros praticados pelo comércio e as taxas do cheque especial são os menores desde janeiro de 1995, quando começou a série histórica. No comércio, houve uma queda de 2,06% nos juros, para 6,19% ao mês (105,59% ao ano), em outubro deste ano. Os juros do cheque especial atingiram 8,83% ao mês e 176,05% ao ano.

O empréstimo pessoal praticado pelas financeiras tem a maior taxa, de 12,93% ao mês (330,24% ao ano). Já os juros do cartão de crédito são os menores desde maio de 2001 (10,33% ao mês, e 225,33% ao ano).

Selic

A redução da taxa básica de juros (Selic), de um ponto percentual em outubro, para 19% ao ano, resultou na queda das taxas das operações de crédito tanto para pessoa física como jurídica, no mês passado, explicou a Anefac.

Considerando-se todas as taxas de juros praticadas nas operações para pessoa física, houve redução média de 1,35%, passando de 8,13% ao mês em setembro para 8,02% ao mês em outubro (152,38% ao ano). Na pessoa jurídica, as taxas tiveram uma redução de 0,21%, passando de 4,71% em setembro para 4,70% em outubro (73,52% ao ano).

Alencar faz recomendações

Belo Horizonte

(AE) – O vice-presidente da República, José Alencar, recomendou ontem que os consumidores não comprem a prazo neste fim de ano “para evitar que haja uma transferência da renda para o sistema financeiro”. Alencar participou da abertura do seminário “Relações Brasil-China: Um Salto Necessário” e voltou a criticar as taxas de juros cobradas pelos bancos e outras instituições financeiras.

“Eu tenho de dizer isso, infelizmente. Eu gostaria de dizer o contrário: comprem, comprem, comprem. O Brasil precisa consumir muito. Para promover o desenvolvimento, tem de haver consumo. Mas, para haver consumo, tem de haver um consumo com capacidade para evitar que haja uma transferência da renda para o sistema financeiro”, disse o vice-presidente.

Ele pediu que os consumidores comprem à vista e sugeriu que somente no caso de um gasto “essencial” à compra seja feita a prazo. “Temos de nos libertar desse regime de juros e toda a sociedade pode colaborar nisso, resistindo”, destacou. “Uma pessoa que vai a um banco e paga 8% ao mês, 6% ao mês, 5, 4, 3% ao mês de juros, ela não sabe em que está se metendo”, disse Alencar.

Voltar ao topo