Curitiba registra a menor inflação em doze meses

Curitiba registrou, em maio, a menor inflação dos últimos doze meses, de 0,51%, conforme o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) divulgado ontem pelo Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes). Só perde para a taxa de maio do ano passado (0,47%). Comparado a abril deste ano (0,87%), houve redução de 0,36 ponto percentual. Porém o acumulado nos últimos doze meses (14,65%) é o maior desde o início da pesquisa, em janeiro de 99. Em maio de 2002, o acumulado dos doze meses anteriores era de 6,65%. Nos cinco primeiros meses do ano, o índice teve variação de 5,16% – contra 2,75% em igual período do ano passado.

A inflação de maio para famílias com renda de um a quarenta salários mínimos superou as projeções do Ipardes, que estimava IPC entre 0,2% e 0,3%. “O que surpreendeu foram as altas do arroz, passagens aéreas e excursões não-escolares”, detalhou o economista Gino Schlesinger. Mas a principal influência no IPC foi a gasolina. Com redução de 6,57%, pressionou negativamente o resultado geral em 0,17 ponto percentual. “Se o preço da gasolina tivesse ficado estável, o índice geral seria 0,68%”, comentou o economista do Ipardes.

Além da queda na gasolina, as retrações em álcool combustível (-5,26%) e tarifa de ônibus urbano (-1,63%) deixaram o grupo Transporte e Comunicação (-0,30%) como a maior contribuição negativa para o IPC de maio, apesar da alta de 13,46% nas passagens de avião. Outro grupo com variação negativa foi Artigos de Residência (-0,38%). O principal impacto positivo na inflação curitibana foi o grupo Despesas Pessoais (1,66%), motivado pela elevação de 5,49% nos serviços de empregada doméstica e 9,30% em excursão de turismo.

Alimentos e Bebidas fechou o mês com incremento de 0,06%, pressionado pelos aumentos do leite pasteurizado (4,46%), arroz (12,25%) e batata-inglesa (9,90%). De acordo com a economista Maria Luiza de Castro Veloso, coordenadora do projeto IPC, a alta do leite foi provocada pela entressafra. Já o arroz, explicou, teve problemas de atraso no plantio por causa do clima, quebra de safra e menor produção do Mercosul. “Como os estoques do governo brasileiro estavam zerados, os produtores com estoque aproveitaram para aumentar o preço”, observou.

Entre as quedas, figuraram: tomate (39,10%), laranja pêra (15,28%), tangerina (38,41%) e frango inteiro resfriado (3,11%). Também houve aumento nos grupos: Habitação (0,51%), Vestuário (1,24%) e Saúde e Cuidados Pessoais (1,67%).

Desce

Para junho, os técnicos do Ipardes estimam inflação próxima de zero. “A tendência é voltar ao patamar antes da desvalorização cambial que antecedeu as eleições”, avalia Schlesinger. “Não há notícia de nenhum impacto maior de tarifas. Vestuário e Alimentos e Bebidas tendem a reduzir as altas, podendo registrar deflação. Além disso, há perspectiva de queda de 4 a 5% na gasolina, e a redução da tarifa de ônibus, que só repercutiu pela metade em maio”, citou. Schlesinger acredita que a redução da taxa de juros Selic será lenta. “A principal preocupação do governo é com a inflação e ele tem sinalizado que pretende manter a taxa de juros elevada para evitar qualquer tipo de pressão inflacionária.”

Sindicato critica distribuidoras

Já é possível encontrar o litro da gasolina por R$ 1,78 em Curitiba, mas o presidente do Sindicombustíveis/PR (Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis e Derivados do Paraná), Roberto Fregonese, sustenta que esse valor é “impossível de ser praticado”, uma vez que o preço de realização do combustível na refinaria mais impostos é de R$ 1,71, sem considerar custos e margem de lucro da distribuição e da revenda. “O mercado não flui livremente em Curitiba, pois sempre sofre interferência ou da fraude ou das companhias distribuidoras”, declara Fregonese.

“Temos hoje uma tendência muito forte de algumas companhias distribuidoras tentarem impor sua vontade no mercado de Curitiba, embora possam perder dinheiro com a nítida ação de tentar eliminar a concorrência”, afirma. “É uma forma de asfixiarem o mercado. Como não são empresas regionais, mas que atuam no País e no mundo, é indiferente se o market share der positivo ou negativo numa região, porque para o consumidor ganhar aqui, alguém perde em outro lugar”. Algumas companhias estão vendendo o litro aos postos por R$ 1,69. “Isso é dumping, abuso de poder econômico”, denuncia Fregonese.

De acordo com ele, os empresários do setor em Curitiba trabalham no vermelho. “Constatamos que posto não quebra, muda de dono. Para a companhia, tanto faz se tiver o Roberto ou o Olavo, porque ela vai continuar fazendo volume. Para mostrar que tem um market share melhor, elas sacrificam o revendedor e o consumidor”, comenta. “Se o posto não atende a distribuidora, perde movimento. Recuperar o cliente é mais difícil, por isso todos acabam acompanhando.”

A ANP designou uma força-tarefa para averiguar a qualidade da gasolina em Curitiba. Segundo informações extra-oficiais, o nível de adulteração do combustível no Paraná estaria próximo de 30% -contra 22,3% apurados pela ANP em abril, o mais alto índice do País.

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