Crescimento do PIB deve ser menor que o esperado

São Paulo (AE) – Depois de três meses de governo Lula e dez dias após o começo da guerra entre os Estados Unidos (EUA) e o Iraque, boa parte dos economistas já revisou suas previsões para o crescimento da economia em 2003, e os números não são dos mais animadores. Se na virada do ano havia quem acreditasse numa expansão de 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB), hoje a maioria das apostas se concentra entre 1,5% a 2%. Segundo analistas, o grande obstáculo a um crescimento expressivo é a perspectiva de que os juros básicos terão de ficar elevados por mais tempo, devido à queda lenta da inflação. Uma recuperação mais forte deve ocorrer apenas no segundo semestre. O início do conflito no Oriente Médio ainda não provocou mudanças significativas nas estimativas para a trajetória do PIB.

O economista-chefe do Unibanco, Alexandre Schwartsman, revisou sua previsão de crescimento de 2% para 1,5%. Como a inflação mostra uma resistência mais forte do que a imaginada, o BC deverá manter uma política monetária apertada por mais tempo, afirma. Schwartsman não descarta a hipótese de que a taxa Selic, hoje em 26,5% ao ano, volte a subir antes de iniciar uma trajetória de queda, o que, para ele, só deve ocorrer a partir de setembro. O economista projeta um IPCA de 12,5% para este ano, acima dos 11% que ele estimava no fim de 2002 e muito acima da meta ajustada, de 8,5%. Para ele, os juros médios ficarão em 26, 2% em 2003, acima dos 25,2% projetados no fim do ano.

O economista-chefe da MCM Consultores Associados, Celso Toledo, também reviu para baixo sua previsão de crescimento, de 2,4% para 1,8%, principalmente por causa da expectativa de uma política monetária apertada. A tendência da inflação é de queda, afirma, mas há dúvidas quanto à velocidade. Segundo Toledo, há incertezas em relação ao impacto da inércia sobre a trajetória da inflação. Mas, se não houver um choque externo muito forte, os rumos da política econômica forem mantidos e as reformas, especialmente a da Previdência, caminharem no Congresso, ele acredita que os juros começarão a cair a partir do segundo semestre.

É no segundo semestre que os analistas depositam as esperanças de um crescimento mais forte. No primeiro, a aposta é numa expansão mais contida, como resume o economista-chefe da LCA Consultores, Luís Suzigan. Segundo ele, “o consumo básico sofre com a renda real deprimida, corroída pela alta dos preços e pelo desaquecimento da economia, o que desfavorece as reivindicações por reposição da inflação nos salários. O consumo de bens duráveis, como automóveis, é prejudicado pelo crédito escasso e caro”.

O investimento privado, por sua vez, é inibido pelos juros altos. E, completa Suzigan, a capacidade de investimento público também é muito limitada, uma vez que o governo vem promovendo um esforço fiscal severo. Para Suzigan, “a expectativa de queda da inflação, redução dos juros e a melhora geral das expectativas podem estimular um crescimento mais dinâmico da economia” no segundo semestre. Se a guerra for rápida, ele acredita que o dólar pode cair para cerca de R$ 3,20 em maio e, se isso for acompanhado de uma redução dos preços do petróleo, tende a aliviar os custos sobre a cadeia produtiva e baixar a inflação. A expectativa da maior parte do mercado hoje é de um câmbio médio entre R$ 3,40 e R$ 3,50.

A economista Monica Baer, da MB Associados, também acredita que o segundo semestre deverá ser melhor do que o primeiro. Monica entende que há pouco ou nenhum espaço para o BC cortar juros na primeira metade do ano, e prevê que a média da massa real de renda cairá 1,5% em 2003, depois de ter recuado 3, 3% em 2001 e 1,9% em 2002. Além disso, se ainda não é possível ter certeza em relação ao impacto da guerra sobre a economia global, há o risco de que o comércio mundial seja prejudicado, assim como o fluxo de recursos para países emergentes como o Brasil.

A MB tem a previsão mais conservadora entre as instituições consultadas pela reportagem, estimando um crescimento de 1,1%. Monica diz que poderá revisar a projeção, talvez até para 2%. No entanto, como a demanda doméstica está fortemente contida, ela prefere esperar para mudá-la, lembrando que o consumo interno responde por 60% do PIB. E, afirma, os efeitos da guerra ainda são uma incógnita.

Para os analistas, o setor exportador e a agropecuária é que devem puxar o PIB neste ano, a exemplo do que ocorreu em 2002. Para José Augusto Savasini, sócio da Rosenberg & Associados, “o que for ligado a exportação deverá ter um bom desempenho. Os setores que dependem do consumo doméstico devem sofrer, num cenário de renda em queda e inflação elevada”. A agropecuária também deve ir bem, afirma, principalmente a soja. Em 2002, a agropecuária cresceu 5,79%, enquanto a indústria teve uma expansão de 1,52% e os serviços, de 1,49%.

A Tendências mudou sua projeção de crescimento de 1,5% para 2%, na contramão da maior parte do mercado. Segundo o economista Juan Jensen, embora a política monetária deva ficar mais apertada do que se imaginava, o início positivo do governo Lula reduziu as incertezas em relação à economia do País, melhorando, por exemplo, as perspectivas para o câmbio e para o risco – País. Com isso, acredita ele, o investimento e o consumo podem ser beneficiados.

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