Cotas russas indefinidas preocupam suinocultores

Quando finalmente conseguiram equilibrar as contas, depois de uma crise prolongada iniciada em 2001, os suinocultores paranaenses agora estão preocupados com outro problema: a indefinição das cotas de importação da Rússia, principal mercado comprador de carne suína brasileira.

“As perspectivas para janeiro e fevereiro de 2004 não são muito animadoras”, diz o presidente da Associação Paranaense de Suinocultores (APS), Irineu Wessler. “Como as cotas da Rússia ainda não estão definidas – e há comentários de que vão reduzir as importações brasileiras em 50% – possivelmente não teremos embarque nesses meses.”

Em 2003, o Brasil exportou 415 mil toneladas de suínos para a Rússia. Santa Catarina é o principal estado exportador, respondendo por mais da metade desse volume. O Paraná contribuiu com 28% do volume exportado. “Para o ano que vem, a previsão de exportação brasileira para a Rússia é de 200 mil toneladas”, informa Wessler. “Essa quantidade que iria para a Rússia fica no mercado interno, que está retraído por causa da situação financeira”, aponta.

Na avaliação do presidente da APS, o primeiro semestre foi “bastante complicado” para o setor. A partir da metade do ano, os suinocultores voltaram a ter equilíbrio nos custos de produção e comercialização. “A partir de setembro, os preços começaram a subir e a margem ficou em torno de 10% até outubro. Depois as cotações voltaram a cair”, relata Wessler. “Foi um ano que deu para ganhar um pouco na suinocultura, mas não o suficiente para cobrir os prejuízos do ano anterior”.

O custo de produção suína está em torno de R$ 1,75 o quilo, variando conforme o tipo de manejo utilizado. O preço de venda dos produtores está entre R$ 1,80 a R$ 1,85.

Porém o presidente da APS acredita que a melhora do preço pago aos produtores, que foi repassada ao preço final da carne suína, acabou prejudicando as vendas. “O consumidor talvez encontre outros produtos com preço mais em conta, mas vamos aguardar os últimos dias do ano, quando a demanda é bem maior, por causa do hábito do povo brasileiro em consumir carne suína”.

Perspectivas

Para compensar a diminuição das exportações para a Rússia, os produtores já estão buscando novos mercados. “Esperamos concluir algumas negociações em janeiro, mas até conseguir embarcar é um processo bastante burocrático”, assinala Wessler, destacando a competitividade da carne nacional. “Hoje nenhum país do mundo produz suíno tão barato quanto o Brasil”. Segundo projeção do Instituto Cepa, o Paraná alcançará em 2004 a condição de maior produtor de suínos do Brasil, com estimativa de abater 6,2 milhões de cabeças – 118 mil a mais do que neste ano. O pesquisador Jurandi Soares Machado, do Instituto Cepa, atribui essa expansão aos investimentos realizados pelas cooperativas na suinocultura. Para Santa Catarina e Rio Grande do Sul, o Instituto Cepa projeta redução na produção, o que já está acontecendo em 2003.

Mesmo com a expectativa de crescimento, Wessler diz que o momento é de cautela. “Para o suinocultor, não há motivo de euforia, de aumentar o plantel. É preciso trabalhar com os pés no chão e aguardar algumas definições. O preço dos insumos (milho e farelo de soja) deve se manter nesse preço, conseqüentemente o custo de produção não vai baixar”. O presidente da APS salienta que o número de produtores envolvidos na atividade caiu de 12,5 mil para 8,2 mil nos últimos três anos. “Muitos não suportaram a crise, principalmente os autônomos, e acabaram saindo do mercado”, conta. Hoje, 70% dos suinocultores do Paraná estão ligados às integrações. “Para se manter, é preciso ter uma estrutura maior.”

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