Corte no juro não chegou ao financiamento

São Paulo  – A queda de 2,5 pontos percentuais na taxa básica de juro, promovida em agosto pelo Banco Central, não foi repassada integralmente pelos bancos aos financiamentos destinados a pessoas físicas e empresas. A taxa média para o consumidor caiu apenas 0,09 ponto percentual na comparação com julho e foi de 8,23% ao mês em agosto, o equivalente a 158,33% ao ano. Para as empresas o juro recuou 0,18 ponto percentual no período, caindo para 4,86% (76,73% ao ano).

Segundo cálculo da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac), para que o repasse fosse integral as taxas mensais teriam de ser reduzidas em 0,20 ponto percentual em todas as modalidades. Somente no juro do cheque especial os bancos foram além da diminuição do BC: a taxa caiu 0,28% ponto percentual em agosto, passando de 9,64% para 9,36% ao mês (192,62% ao ano).

Entre junho e agosto, o Banco Central (BC) derrubou o juro básico de 26,5% para 22% ao ano – uma queda de 4,5 pontos percentuais. A pesquisa da Anefac mostra que o juro médio ao consumidor foi reduzido um pouco mais, de 164,7% para 158,33% ao ano -6,4 pontos de queda. Mas ainda há muita gordura a ser queimada e a ousadia da autoridade monetária não encontrou resposta no mercado. Ao contrário.

A maior surpresa de agosto foi no empréstimo pessoal. Os bancos, no lugar de baixarem, subiram as taxas, e a média passou de 6,22% para 6,29% ao mês (107,93% ao ano), com alta de 0,07 ponto percentual. As financeiras acompanharam e o juro cobrado por elas passou de 12,82% ao mês em julho para 12,87% em agosto (327,51%) -alta de 0,05 ponto percentual.

Nos financiamentos para compra de bens (principalmente automóveis), a taxa cobrada pelos bancos caiu apenas 0,09 ponto percentual, de 3,89% para 3,8% ao mês (56,45% ao ano). Administradoras de cartões de crédito e lojistas também reduziram suas taxas em proporção menor do que a queda da Selic, o juro básico do BC. A taxa mensal de cartão de crédito passou de 10,65% para 10,52% ao mês (107,93% ao ano) – 0,13 ponto percentual a menos. No comércio, embora os lojistas tenham aplaudido a decisão do governo, o consumidor também não pôde usufruir muito. A taxa do setor recuou apenas 0,16 ponto percentual, de 6,67% para 6,51% ao mês (113,15% ao ano).

– Tecnicamente, não há motivo para o juro não acompanhar a redução da Selic. O custo do dinheiro caiu e o ganho não foi repassado – afirma Miguel de Oliveira, presidente da Anefac e responsável pela pesquisa.

Para o economista, a explicação está no aumento da demanda por crédito e num possível temor das instituições financeiras em relação à inadimplência futura. Pesquisa divulgada nesta sexta-feira pela Serasa mostra que o estoque de inadimplência não cresceu de janeiro a julho e foi recorde o número de pessoas que saldaram dívidas em atraso.

Entidades do comércio, como a Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomercio), têm cobrado do Banco Central medidas que forcem os bancos a reduzirem o chamado “spread” – a diferença entre o custo de captação (taxas pagas a aplicadores) e dos empréstimos. O governo já convidou o setor a se engajar no esforço de reativar a economia, mas não acenou com ações concretas. A taxa Selic está em 22% ao ano, mas o juro cobrado dos consumidores chega a 158,33% ao ano -uma variação de 619,68%.

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