Custos

Consumidor se assusta com o peso dos impostos

Uma tenda montada em frente ao prédio da Associação Comercial do Paraná, centro de Curitiba, chamava a atenção de quem passava ontem pelo local. Itens da cesta básica, como arroz, feijão, açúcar e leite, além de uma moto, um veículo e até uma urna funerária estavam expostos com plaquinhas que indicavam os preços e o peso dos impostos.

O Feirão de Impostos, que aconteceu pelo terceiro ano consecutivo na capital paranaense, foi realizado paralelamente em outras cem cidades brasileiras, sob a coordenação da Confederação Nacional dos Jovens Empresários.

“O objetivo é educativo, pedagógico. As pessoas precisam saber que os impostos estão embutidos em produtos e serviços do dia-a-dia, como na carne, no feijão, na conta de luz, de água. Muitos acham que imposto é só o imposto de renda, o IPTU, o IPVA”, apontou Adriane Curi, coordenadora do Conselho de Jovens Empresários (CJE) da Associação Comercial do Paraná.

O Feirão de Impostos aconteceu pela primeira vez em Joinville (SC), há cinco anos. Em Curitiba, cerca de cinco mil folhetos foram distribuídos ontem à população.

“Eu sabia que os impostos eram altos, mas não imaginava que fossem tanto. Que governo ladrão!”, desabafou o fisioterapeuta Mário Cesar Gomes. “O problema é que ninguém comenta sobre isso, e os políticos que elegemos são frouxos, não fazem nada para mudar.”

Para Gomes, o que mais chamou a atenção foram os impostos embutidos em itens da cesta básica, como o leite – para uma caixa de um litro que custa R$ 1,53, R$ 0,51 vão para o governo em forma de impostos, ou seja, 33,63%.

No caso do feijão, para um saco de R$ 5,80, R$ 0,89 são impostos, ou seja, 15,34%. Para o açúcar, a carga tributária é um pouco maior: 30,37%. Assim, para um saco de 5 kg que custa R$ 2,25, R$ 1,60 vão para o governo.

Para o bancário João Batista, este é o momento certo de os brasileiros tentarem mudar a situação, nas urnas eleitorais. “Os impostos são altos, e a classe baixa é quem mais paga. Em contrapartida, o governo tem que oferecer mais saúde, segurança, educação.”

O que mais chamou a atenção do bancário foi a carga tributária da motocicleta – quase 65% do preço final de uma moto, estimada em R$ 8.450,00, são impostos. No caso de um veículo, no valor de R$ 32.500,00, R$ 12,2 mil (o que corresponde a 37,55% do total) são tributos.

Um dos campeões de impostos é o perfume importado – um produto que custa R$ 187,00 poderia sair por apenas R$ 81,00 se não fosse a carga tributária de 78,43%.

Nem mesmo no fim da vida, os impostos dão uma trégua: em uma urna funerária simples no valor de R$ 171,00, quase 36% (ou R$ 61,44) vão para o governo.

Outros produtos que têm alta carga tributária são a lata de refrigerante, que poderia custar quase a metade do preço se não fossem os impostos de 45,80%; a cachaça (81,87% de tributos), a carne bovina (17,47%), o molho de tomate (26,05%), o óleo de soja (26,05%), o sabão em pó (40,80%), o detergente (30,37%).

De 1.º de janeiro até sexta-feira, segundo o Impostômetro da Associação Comercial do Paraná, o brasileiro pagou R$ 750,7 bilhões em impostos, somando o que é creditado à União, ao Estado e ao município.

Metade da vida só pagando tributos

O brasileiro que nascer em 2008 trabalhará metade de sua vida para pagar impostos. É o que mostra o levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT). Em 1900, a expectativa de vida do brasileiro
era de 33,4 anos, enquanto a expectativa de pagamento de tributos era de 3,92 anos.

Em 2000, a expectativa de vida subiu para 70,5 anos e a de pagamento de tributos para 23,31 anos. Para este ano, com a expectativa de vida do brasileiro de 72,3 anos, a estimativa é que o pagamento de impostos ‘consuma’ 29,29 anos. Ou sej,a, em 108 anos a expectativa de vida do brasileiro cresceu 116%, enquanto a expectativa de pagamento de tributos aumentou 245%.

O estudo do IBPT mostra ainda que a carga tributária sobre renda, consumo e patrimônio “engole” 148 dias de trabalho do brasileiro. Neste ano, segundo cálculos do IBPT, cada cidadão trabalhou até 27 de maio para pagar impostos, taxas e contribuições.