Comércio eletrônico projeta crescimento

Dois ramos em franco crescimento, e um tirando um pouco o pé do acelerador. É como estão as perspectivas do comércio popular e dos pequenos e médios varejistas da internet e, por outro lado, do mercado de luxo. Análises de especialistas, opiniões de empresários e pesquisas apontam resultados e tendências – a curto e médio prazo – nesse sentido.

Não é novidade que o consumo na internet é cada vez maior. Só no primeiro trimestre deste ano o comércio eletrônico movimentou R$ 2,3 bilhões – 25% a mais do que no ano passado -, segundo dados da consultoria e-bit, divulgados este mês.

Porém, o segmento tem apontado para outras tendências nos últimos meses: os grandes varejistas, como Americanas.com, Saraiva, Submarino e Fnac, estão perdendo mercado para pequenas e médias empresas de e-commerce.

O último levantamento da e-bit apontou que, na comparação do primeiro trimestre deste ano com o mesmo período do ano passado, os dez maiores varejistas do País perderam 6,45% de participação. Já o grupo que engloba os pequenos e médios comerciantes da internet ganhou 1,62% do mercado.

Exemplo disso ocorreu no Dia das Mães. Com metas otimistas para a data, empresários afirmam que venderam no mínimo de acordo com o previsto. A alta segmentação das lojas foi um dos fatores mais importantes, segundo eles.

O diretor do site Giuliana Flores, Clovis Souza, conta que vendeu 35% a mais que no ano passado, superando – “e muito”, segundo ele – as expectativas. “Tendo em vista a crise, nossas vendas foram excelentes”, afirma, contando que os produtos mais procurados foram tulipas e rosas.

Outro executivo, o diretor da loja virtual PortCasa, Natan Sztamfater, conta que, já em abril, devido ao Dia das Mães, as metas de vendas foram superadas em 32%, com faturamento de aproximadamente R$ 500 mil.

Ele acredita que o site, especializado em cama, mesa e banho, recebeu mais visitas porque o consumidor que usa internet está pesquisando mais, devido à crise. Nessa época, segundo ele, o movimento aumenta porque as visitas são principalmente dos filhos. “É um público mais jovem, em que a penetração da internet é maior”, conclui.

Este ano, porém, Sztamfater aponta que o perfil dos consumidores – de cada 10 compradores do site, nove são mulheres -mudou um pouco. “Os homens nos procuraram 50% a mais em relação ao ano inteiro. Durante o ano, a idade média das consumidoras é de 40 anos. Nesta data, em especial, a média foi de 33 anos”, revela.

Mercado popular é cada vez mais lucrativo

O maior acesso à informação das classes C, D e E, somado a estratégias mercadológicas mais direcionadas das empresas estão mudando a cara do mercado conhecido como “popular”, tornando o negócio cada vez mais lucrativo.

Em resumo, é essa a visão do professor de Marketing Isaak Soares, do Unicuritiba. “Antes da crise, o Brasil teve um período de pujança, em que o padrão de renda das classes mais baixas aumentou”, explica. No período citado pelo professor, 12% dos pertencentes às classes D e E passaram para a classe C.

“O consumo é uma forma de conforto. E com as pessoas com um pouco mais de renda e a mídia expondo produtos a elas, essas camadas passaram a consumir”, afirma. A novidade, para ele, é que o consumo passou a ser de tipos de produtos que antes eram direcionados às classes A e B.

Assim, as empresas passaram a concentrar esforços para viabilizar os sonhos de consumo dessa parte da população, que ele lembra que corresponde a 71% do mercado brasileiro. “É maior que o Produto Interno Bruto da Argentina e Chile juntos”, informa.

A maior valorização do corpo é um exemplo que Soares dá ao apontar tendências a médio prazo para o consumo popular. “Antes, por exemplo, suplementos alimentares eram vendidos em lojas especializadas. Hoje já ficam na entrada de farmácias”, lembra.

O professor acredita que, hoje, basta as empresas começarem a oferecer produtos direcionados às classes mais bai,xas, que o comércio que atende o setor vai vender. “Isso não fica só na classe média”, aponta.

Soares explica que os produtos direcionados não necessariamente precisam ser de qualidade inferior. Para ele, quantidades menores e embalagens mais simples já podem tornar vários produtos acessíveis às classes mais baixas.

Uma mostra disso está em produtos locais, que focam no consumidor de baixa renda, e conhecem muito bem o perfil do público para o qual estão vendendo. A outra saída que ele aponta, quando o preço é um empecilho, é oferecer crédito. “Se tiver, o cliente estará disposto a consumir”, afirma.

Comércio de produtos de luxo sente o peso da crise

Se as perspectivas de crescimento do comércio popular são altas na visão de especialistas, as do comércio de luxo ficaram um tanto mais moderadas, depois da crise. Uma pesquisa da consultoria Gfk Brasil, divulgada este mês, recentemente aponta que, apesar de ter crescido em 2008, o segmento deve diminuir o ritmo em 2009, no Brasil.

Ano passado, o setor teve faturamento de US$ 5,99 bilhões e cresceu 12,5% em relação a 2007. Este ano, a previsão é de que cresça 8% e fature US$ 6,45 bilhões.

A pesquisa, realizada no final de 2008 e início de 2009 com empresas do segmento e também com consumidores, também apontou um otimismo dos empresários em relação à crise, mas com uma pitada de cautela.

Enquanto apenas 14% dos pesquisados acredita que seu negócio será muito afetado pela crise em 2009, 34% afirmaram que não sofrerão impacto. A falta de crédito preocupa apenas 15% dos empresários, que acreditam que serão muito afetados pelo problema. Para 46% deles, a questão não afetará os negócios.

Na prática, porém, o otimismo não é suficiente para gerar metas maiores e mais investimentos: a maioria (64%) dos empresários informou que deve investir, mas em menor velocidade, contra 30% que pretendem aumentá-la.

Ainda de acordo com a pesquisa, a maior parte (46%) das empresas também alterou para baixo suas metas, devido à crise. Por outro lado, 22% revisaram para cima.

O restante (32%) não fez nenhuma alteração. Assim, os investimentos do setor, que passaram de US$ 770 milhões em 2007 para US$ 950 milhões em 2008, devem chegar a US$ 830 milhões em 2009.

Apesar do fantasma da crise rondando o segmento, não é exatamente esse o problema que mais preocupa. O principal empecilho para os negócios, segundo eles – e a exemplo das outras duas pesquisas feitas nos anos anteriores -, é a tributação elevada. Os empresários que apontaram a questão foram 62% do total. Os recursos humanos também foram mencionados, por 11% dos pesquisados.