Com US$ 2 trilhões em reservas, China vai às compras

Destino preferencial de investimentos estrangeiros diretos entre os mercados emergentes, a China começa a inverter o jogo e se firmar como grande investidora em outros países.

Com dinheiro em caixa no momento em que as fontes de financiamento secam em todo o mundo e apetite insaciável por matérias-primas e energia, Pequim aproveita a queda de preços dos ativos internacionais e vai às compras.

O alvo são empresas de recursos naturais, que atendam as necessidades do crescimento chinês nas próximas décadas. Mas a tendência é que o leque se amplie e inclua grandes marcas globais de bens de consumo e companhias detentoras de alta tecnologia.

“Estamos vendo apenas o começo da internacionalização das empresas chinesas. Elas têm recursos, as reservas estão subindo de maneira ininterrupta e o yuan está em trajetória de valorização”, disse ao Estado o professor Friedrich Wu, da Nanyang Technological University, de Cingapura, que já publicou vários trabalhos sobre o assunto.

A emergência da China como grande compradora no mercado internacional começou no ano passado, quando seus investimentos no exterior aumentaram 110%, para US$ 55,9 bilhões.

O valor supera o recorde de US$ 45 bilhões em investimentos estrangeiros recebidos pelo Brasil em 2008 e é 800% superior ao que as empresas brasileiras destinaram a negócios no exterior em 2007.

Enquanto os investimentos chineses dispararam no ano passado, os dos países desenvolvidos recuaram, em razão da mais grave crise econômica das últimas sete décadas. Líderes do ranking, os Estados Unidos reduziram seus negócios em 18%, para US$ 312 bilhões.

A China manteve o mesmo ritmo de janeiro a setembro de 2009, quando investiu em outros países US$ 33 bilhões, 1% a mais que em igual período do ano passado.

Sua recente agressividade é sustentada por estatais com dinheiro em caixa e o maior volume de reservas internacionais, que atingiram em setembro US$ 2,27 trilhões, valor maior que todo o PIB brasileiro.