Chuva artificial pode ajudar contra estiagem

A forte estiagem que atingiu especialmente o Sul do País e provocou prejuízos de mais de R$ 5 bilhões à agricultura brasileira poderia ter sido amenizada através de uma maneira bem menos onerosa. A solução seria o projeto nucleação ou, em outras palavras, a chuva artificial. A bandeira é defendida pelo sócio-proprietário e gerente da IPE (Indústria Paranaense de Estrutura) Aeronaves, João Carlos Boscardin. Segundo ele, o investimento de uma brigada com dez aeronaves e outros custos como combustível e pessoal somariam no máximo R$ 6 milhões – o que representaria apenas 0,12% dos prejuízos estimados com a seca este ano.

?Não foi apenas o valor monetário que o País perdeu. Foi também a credibilidade, a redução nas exportações?, apontou Boscardin. ?É um problema em toda a cadeia, um efeito dominó?. Desde que a falta de chuva começou a preocupar os agricultores – e as cifras dos prejuízos passaram a aumentar vertiginosamente -, Boscardin começou a estudar soluções para o problema. Encontrou em um projeto elaborado em 1984 em Alagoas -quando a estiagem prolongada atingiu a região canavieira daquele estado – a base para tentar contornar a falta de chuva.

A solução, explicou, seria utilizar um avião para semear gotas de água dentro das nuvens e assim criar chuvas artificiais. O avião decolaria, entraria na nuvem e semearia as gotas d?água. Dentro da nuvem, cada gota pulverizada atrairia de um milhão a dez milhões de gotículas de vapor. As gotas cresceriam, subiriam na nuvem empurrada pelo vento e, quando atingissem de dois a cinco milímetros de diâmetro ficariam pesadas demais e cairiam em forma de chuva.

No estudo realizado em Alagoas, o índice de sucesso foi de 70%. Para Boscardin, na região Sul o índice de sucesso pode ser ainda maior. ?No Sul, por causa das frentes e da posição geográfica, há mais cúmulos (nuvens aptas para a técnica)?, explicou. Ele lembrou ainda que o objetivo da nucleação não é acabar com a estiagem, mas amenizar os efeitos da seca.

Investimentos

Segundo Boscardin, o projeto poderia ser implementado através da formação de uma brigada composta por dez aeronaves. Um avião, segundo ele, é capaz de cobrir uma área de 40 mil hectares, e dez cobririam 400 mil hectares. O investimento inicial estimado é de R$ 6 milhões – R$ 600 mil por aeronave -, mais R$ 120 mil em outros veículos e equipamentos. O trabalho humano seria desempenhado por dez pilotos com experiência em vôo por instrumento, dez auxiliares de campo, um auxiliar mecânico, dois engenheiros agrônomos, dois técnicos agrícolas, um meteorologista, que custariam aproximadamente R$ 94 mil por mês. Além disso, a operação por hora de vôo é estimada em R$ 350,00.

?O que pretendemos demonstrar é que o custo de um avião com tecnologia nacional é ínfimo perto do prejuízo causado por uma estiagem?, afirmou. ?Perdemos muito por não contarmos com equipamentos dessa natureza?, lamentou. Segundo ele, outra vantagem do avião é que ele poderia ser facilmente adaptado para a função agrícola e atuar no combate à ferrugem asiática, por exemplo, ou na pulverização. Em Santa Catarina, a mesma aeronave poderia ser utilizada ainda para dissipar a formação do granizo, que prejudica a lavoura. Entre os possíveis interessados pelo projeto estão fundações, governo e órgãos militares, afirmou Boscardin. ?O que a gente pretende é despertar o interesse para que apóiem este trabalho?, arrematou.

Indústria desenvolveu tecnologia

A Ipe Aeronaves foi fundada há 32 anos, em Curitiba, com o objetivo de desenvolver aeronaves leves com tecnologia própria, e a custos inferiores às importadas. Ao longo desse período, fabricou cerca de 300 aeronaves – a maioria planadores. Em 2000, a empresa verificou a necessidade do mercado norte-americano por aviões de modelo similar ao IPE 06. Foram três anos de estudos até chegar ao protótipo e iniciar a linha de produção no ano passado. Uma das unidades está em exposição no Museu Oscar Niemeyer, no Centro Cívico.

Mas a Ipe Aeronaves está de olho também em outro mercado: a aviação agrícola. ?Querendo ou não o Brasil é um país agrícola. Só há mil unidades na aviação agrícola, enquanto o necessário seriam 10 mil?, afirmou João Carlos Boscardin. Segundo ele, a produção da Embraer – 80 por ano – só é capaz de repor a pequena frota. Conforme estudo elaborado por Boscardin, seriam necessários cerca de US$ 2 milhões (quase R$ 6 milhões) para a produção inicial de dez aviões agrícolas. Em dez anos, com a produção aumentando sucessivamente até atingir 48 unidades por ano, o lucro líquido é estimado em US$ 16 milhões. O custo de produção seria de US$ 109 mil por unidade, e o preço final, US$ 180 mil – valor abaixo do que é fornecido pela Embraer (aproximadamente US$ 250 mil). (LS)

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