China dá sinal verde para a soja brasileira

A China aceitou as novas regras brasileiras para a exportação de soja, o que deve dar fim ao embargo ao produto brasileiro por conta da presença de fungicida. O Brasil se comprometeu a não deixar ultrapassar, nas amostras, o limite de uma semente contaminada com fungicida por quilo de soja. Nos Estados Unidos, por exemplo, a tolerância é de três sementes contaminadas por quilo.

Qualquer amostra acima disso poderá ser vetada pelos chineses, caso a embarcação tenha seguido após a publicação da norma. Para a soja embarcada antes da publicação, os chineses decidirão caso a caso se encaminham o material para limpeza ou aceitam o produto.

A informação foi confirmada pelo ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues. Ele observou, no entanto, que infelizmente haverá uma frustração na expectativa de faturamento para os produtores de soja neste ano. Até maio deste ano houve uma redução de 20% na comercialização de soja em relação ao mesmo período do ano passado. Rodrigues citou como fatores para a queda o embargo chinês, a queda do preço da commodity no mercado internacional e os problemas climáticos no Brasil, como chuva no Nordeste, seca no Sul e ferrugem da soja no Centro-Oeste, que castigaram algumas lavouras. Só a ferrugem provocou prejuízo de US$ 2 bilhões este ano, segundo o ministro.

Segundo Rodrigues, o setor já foi comunicado da decisão do governo chinês de suspender o embargo que, segundo ele, só foi possível graças à firmeza do governo brasileiro em criar regras rigorosas para exportação e o consumo interno e também pela disposição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em intervir na questão, se fosse necessário.

Rodrigues disse ainda que a participação do governador gaúcho, Germano Rigotto, que está na China com a missão do Ministério da Agricultura, também foi muito importante para levantar o embargo.

O ministro disse que todas as 23 empresas que tiveram carregamentos retidos na China voltarão a exportar para o país, desde que o produto atenda ao novo padrão estabelecido pelo Ministério da Agricultura, que permite apenas uma semente para cada quilo de grão. Os dois países assinaram uma nota conjunta para regularizar o conflito e o ministro acredita que não haverá problema com os carregamentos que já seguiram para a China, porque já estão respeitando o novo padrão.

“O pessoal ligado à nossa área técnica está convencido de que dificilmente haverá outro problema com os carregamentos que seguiram antes da edição da nova instrução normativa”, afirmou o ministro.

Rodrigues diz que na nota o governo chinês reconhece o esforço do Brasil para editar regras rígidas para a soja, ainda mais severas do que o padrão internacional, para evitar novo impasse com os chineses. O governo chinês também ressalta que os problemas mencionados não voltarão a ocorrer nos futuros carregamentos se estiveram de acordo com as regras baixadas no dia 11 de junho pelo Brasil. A nota é assinada pelo secretário-executivo do Ministério da Agricultura, Maçao Tadano, e pelo vice-ministro do Ministério da Quarentena chinês, Ge Zhirong.

Empresas do Paraná comemoram decisão

As empresas paranaenses comemoraram ontem o acordo entre Brasil e China, que coloca fim ao embargo à soja brasileira. Desde abril, 23 empresas brasileiras tiveram o produto recusado, por suposta contaminação de sementes tratadas com fungicidas. Entre as empresas, 11 são paranaenses. A estimativa é que cerca de 359 mil toneladas do grão tenham sido refugadas.

“Todo o setor de agronegócios já esperava uma decisão dessas. Isso deve colocar o mercado novamente em situação de normalidade”, comentou o vice-presidente da Cocari Cooperativa Agropecuária e Industrial, localizada em Mandaguari, Vilmar Sebold. A cooperativa foi uma das que tiveram a soja recusada pela China. No início de maio, embarcou cerca de 2 mil toneladas do grão àquele país. Segundo Sebold, a decisão traz alívio não apenas para as 23 empresas que tiveram o produto embargado, mas para o País num todo. “Até então, não existia regra clara sobre o comércio entre o Brasil e a China. Agora, já existe um padrão internacional que, tenho certeza, o produtor brasileiro irá cumprir porque é tecnicamente qualificado.” Sebold define o embargo como um ?acidente de percurso.? “No caso da soja do Paraná, acredito que houve assédio comercial em função dos preços”, apontou. Para ele, no entanto, dificilmente o preço da soja voltará a subir com o fim do embargo. “A queda se deve especialmente à expectativa de supersafra nos Estados Unidos”, explicou.

Para o vice-presidente da Cooperativa Mista Agropecuária do Brasil (Coopermibra) – que também teve a soja embargada – Valdomiro Bognar, o impasse criado entre Brasil e China serviu para conscientizar produtores e cooperativas. “As cooperativas deveriam ser mais rigorosas na hora de receber o produto e orientar melhor os agricultores”, apontou Bognar. Com relação aos produtores, ele acredita que estão cientes do problema. “O produtor está mais consciente de que jamais pode misturar semente contaminada ao produto que acabou de colher, porque isso traz prejuízos para si mesmo.”

Prejuízos

Segundo o vice-presidente da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar) e vice-presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), Luiz Roberto Baggio, é difícil precisar os prejuízos com a soja brasileira que foi embargada. “Alguns falam em US$ 1 bilhão, mas é complicado falar em valores por enquanto”, afirmou. Segundo ele, um dos prejuízos mais aparentes é com relação ao preço da soja, que teria caído de R$ 52,00 a saca para abaixo de R$ 40,00. “A China foi um dos motivos para a variação de preço. Sendo retirado o embargo, o preço deve parar de cair”, apontou.

Das 62 mil toneladas de soja que partiram de um navio do Porto de Paranaguá em direção à China, quase 17 mil eram de cooperativas. Além da Cocari e da Coopermibra, havia carga da Coamo, Cooperativa Agroindustrial Lar e Cooperativa Agropecuária Castrolanda. Outras empresas paranaenses que tiveram a soja suspensa são: Bunge Alimentos S.A, Allicorp Trading e Comércio Exterior S.A., Fertimourão Agrícola, Lavoura Indústria Comércio Oeste, Peron Ferrari Comércio de Cereais e Sementes Guerra. A safra de soja paranaense 2003/2004 é de aproximadamente 9,9 milhões de toneladas.

Preços caíram após o veto chinês

O fim do embargo chinês à soja brasileira acontece após uma forte queda nos preços da commodity – causada, entre outros fatores, pelo próprio veto chinês ao produto brasileiro – e não eliminará as perdas acumuladas pelos produtores nacionais com a barreira imposta desde abril. Projeções do Ministério da Agricultura e de associações ligadas aos produtores estimam que as perdas tenham superado US$ 1 bilhão.

Segundo a Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais) o cálculo de US$ 1 bilhão leva em conta principalmente a queda no preço da soja no período -que recuou de US$ 320 para US$ 260 a tonelada. Cerca de 17 mil toneladas de soja já foram rejeitadas desde abril.

Um número exato do prejuízo, no entanto, ainda não pode ser calculado. Além das variações do preço da soja no mercado internacional, entra na conta o valor pago pelas diárias dos navios que estão atracados na China com produtos brasileiros.

São pelo menos seis navios, cada um pagando US$ 45 mil por dia para permanecerem atracados nos portos chineses. Nos casos dos navios que ultrapassaram o prazo máximo para desembarque, são cobrados US$ 50 mil adicionais.

A Anec (Associação Nacional dos Exportadores de Cereais) informa que, por enquanto, o que existe é apenas um acordo e até agora não há informação se toda a soja barrada será desembarcada. Além disso, de acordo com o governo gaúcho, ainda não há data para a retomada das importações chinesas.

Na manhã de ontem, o governo do Rio Grande do Sul, o Estado mais prejudicado com o impasse, informou que a China aceitou as novas regras do governo do Brasil para a exportação de soja. Isso pode dar fim ao embargo ao produto brasileiro.

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