Calçadistas, cansados, não reclamam do câmbio

Cansados de pedir mudanças na política monetária para conter a valorização do real ante o dólar, lideranças empresariais do setor calçadista passaram hoje a reorientar o discurso para a necessidade de as indústrias mudarem seus produtos. ?Reposicionamento é o caminho a ser seguido pelas empresas?, anunciou o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Élcio Jacometti, durante a abertura da ?Francal 2006?, no Pavilhão de Exposições do Anhembi, em São Paulo.

Apesar de o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, ter manifestado no mesmo evento que o governo federal poderá anunciar, ainda este mês, a divulgação pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva de medidas de ajuste do câmbio para empresas exportadoras, os industriais deram sinais de certa desesperança. ?Por conta da avassaladora concorrência de asiáticos e da valorização da nossa moeda, sofremos acentuada queda no volume de negócios no mercado internacional?, resumiu Jacometti.

Segundo ele, para atingir os mercados externos e manter o faturamento com exportações, a ordem no setor passa a ser a de priorizar a fabricação de produtos de maior valor agregado, com alta tecnologia, design, marcas próprias e fortes, além de contarem com mecanismos próprios para distribuição dos produtos.

Esse ?reposicionamento?, admitiu o líder empresarial, terá como contrapartida a diminuição do volume de produção, o que em última instância significará enxugamento no emprego do setor. ?Demitir colaboradores é a última e derradeira alternativa adotada pelo setor calçadista?, declarou.

Volume

Furlan também reconheceu que a prioridade ao produto de maior custo garantiu a estabilidade do faturamento do setor com as exportações este ano, mas ressalvou que a queda de volume preocupa o governo por influenciar diretamente no nível de emprego do setor.

?No primeiro semestre deste ano, houve queda de 7,9% do volume exportado pelo setor, em comparação ao mesmo período do ano passado, mas o valor das exportações se manteve graças ao empenho e produtividade do setor?, citou o ministro. ?O preço médio do par de calçado ficou em US$ 12,4, o segundo melhor índice de preços da história para o produto. Tivemos ganho com a agregação de valor, mas o emprego no setor é diretamente ligado ao volume de produção?, acrescentou, para demonstrar a apreensão do governo quanto à geração e manutenção de postos de trabalho.

O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, também criticou os efeitos do câmbio sobre a exportação dos calçadistas. ?Infelizmente, nesse momento, esse setor faz parte das indústrias que enfrentam dificuldades. Vivemos hoje dois brasis: o extrativo, da mineração, do petróleo da cana-de-açúcar, do papel e celulose, que vai muito bem; e o da agricultura, da indústria moveleira, têxtil e calçadista, que demandam muito mais mão-de-obra, que vai mal?, opinou.

Voltar ao topo