Brasil está de olho no bolo iraquiano

São Paulo

– Empresas brasileiras com capacidade técnica e experiência no mercado internacional se preparam para participar da reconstrução do Iraque, se os Estados Unidos abrirem espaço para outros países, sob a coordenação da Organização das Nações Unidas (ONU). “Não vai ser fácil, porque, ao repartir o bolo, os americanos deverão dar preferência às suas companhias”, prevê o empresário Maurice Costin, diretor do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Fiesp.

O deputado Delfim Netto (PP-SP), que visitou Saddam Hussein em Bagdá em 1982, quando era ministro do Planejamento, aconselha os interessados a se organizarem, com suporte do governo, para entrarem no jogo. “Deverá ser complicado, mas quem não estiver no processo não entra”, adverte o deputado.

“Estamos atentos às oportunidades e somos parceiros de grandes empresas do setor”, disse o diretor da área internacional da Petrobrás, Nestor Cerveró. Por enquanto, só expectativa, pois não se sabe como será montado o esquema de reconstrução da economia do Iraque nem se será aberto à participação de corporações de países que não fazem parte da coalizão.

A Petrobrás tem uma experiência que pode pesar a seu favor. Foi ela que, com as máquinas e os técnicos da extinta Braspetro, responsável na época por contratos no exterior, descobriu em 1977 os poços de Majnoon, a maior província de petróleo do Iraque, na região de Basra.

As reservas foram calculados em 7 bilhões de barris, estimativa elevada depois para mais de 20 bilhões de barris. O contrato assinado em 1972 com a Iraq National Oil Company previa um investimento de US$ 1,4 bilhão, sendo de US$ 1 bilhão a parcela a ser financiada pela empresa brasileira, que seria reembolsada com petróleo. Em 1980, a Braspetro saiu do Iraque e os poços de Majnoon passaram a ser explorados por uma empresa francesa.

Enquanto durou o contrato, a Petrobrás serviu de ponte para a exportação de produtos brasileiros. Com o dinheiro do petróleo importado do Iraque, a empresa pagou cerca de 170 mil automóveis Passat que a Volkswagen vendeu a Bagdá e parte dos serviços executados pela Construtora Mendes Júnior, que fez três projetos gigantes no país, uma ferrovia, uma rodovia e um canal de irrigação.

“Se tiver oportunidade, a Mendes Jr. vai se habilitar para trabalhar de novo no Iraque”, diz Gleiber Faria, que passou seis anos no Iraque coordenando os canteiros de obras. “Temos know-how e sabemos quem é quem no país”, diz Faria, apostando na experiência. Os projetos executados pela Mendes Jr. custaram mais de US$ 2 bilhões, US$ 1,8 bilhão apenas na construção da ferrovia que liga Bagdá à fronteira da Síria, numa extensão de 553 quilômetros.

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