Brasil e China fecham acordo para satélite

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Presidente chinês Hu Jintao
no Inpe: lucro repartido.

São José dos Campos (AE) – O Ministério da Ciência e Tecnologia confirmou ontem, durante visita do presidente da China, Hu Jintao, ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em São José dos Campos, que os dois países, responsáveis pela criação e operação do satélite CBERS 2, vão vender imagens de sensoriamento remoto, a partir do próximo ano, para outros países. O acordo foi fechado na última sexta-feira (12), mas somente ontem a direção do Inpe revelou que até agora pelo menos dez instituições de países diferentes se mostraram interessadas em comprar as imagens.

Cada adesão, por ano, vai custar US$ 250 mil, o que representa, no mínimo, para o ano que vem, um recurso de US$ 2,5 milhões, a serem repartidos entre Brasil e China. "Para nós é uma vitória ter conseguido que os recursos sejam repartidos pela metade", afirmou o ministro da Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos. Entre os países interessados estão Argentina, Venezuela, México, Itália, África do Sul. "Entre as instituições interessadas estão a Agência Espacial Alemã e a Agência Espacial Européia."

O programa CBERS foi desenvolvido em uma parceria entre Brasil e China com investimentos na ordem de 300 milhões de dólares. O CBERS 1 ficou em órbita por quase quatro anos e o CBERS 2 opera com sucesso até agora.

Para que a distribuição de imagens não seja interrompida, os dois países vão montar o satélite CBERS 2B, uma réplica de baixo custo, já que serão utilizadas pelas remanescentes do CBERS que está em órbita. A participação do Brasil neste projeto será de 30%, com um investimento de aproximadamente US$ 15 bilhões.

A visita do presidente da China a São José dos Campos, a 90 quilômetros da capital, durou cerca de uma hora e meia. Ele chegou por volta das 10h30, assistiu a um filme institucional, assinou – sob aplausos – o livro de autoridades ao Inpe, participou do plantio de uma árvore e seguiu para a Empresa Brasileira de Aeronáutica S.A. (Embraer), onde conheceu duas aeronaves. Da Embraer, o presidente seguiu para São Paulo.

Fronteira

A China superou na América Latina "a última fronteira de mercado" que restava, com a promessa de conceder maior acesso a alguns produtos e de realizar investimentos milionários em obras de infra-estrutura, destacaram empresários envolvidos nos negócios entre ambos os continentes. A viagem do presidente chinês Hu Jintao pela América Latina despertou enormes expectativas, e em alguns casos, os países visitados se viram confrontados pelas demandas expressas pessoalmente pelo governante, que se tornaram difíceis de ser negadas ou adiadas.

Antes de chegar ao Brasil, na quinta-feira passada, Hu disse que queria que este país considerasse Pequim uma "economia de mercado". E o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não teve outra opção que não fosse ceder, mesmo diante da oposição dos empresários, que temem a competição de um país com preços subvencionados, câmbio fixo e mão-de-obra barata.

Lula explicou que aceitou considerar a China uma economia de mercado como uma "demonstração de confiança", que se inclui em seu projeto de "construir uma nova geografia comercial, política e cultural".

Para Charles Tang, presidente da Câmara de Comércio Brasil-China (cerca de 300 empresas, com quatorze oficinas no Brasil e oito na China), o Brasil busca novas alianças "porque os subsídios dos Estados Unidos e da Europa, seus tradicionais parceiros, dificultam a entrada de alguns de seus principais produtos de exportação nesses mercados", como a carne, a soja, o algodão e o aço.

Pequim, por sua vez, trata de superar com o Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, com Bolívia e Chile como associados) "a última fronteira de mercado", dado que Estados Unidos e Europa já estão saturados de produtos "Made in China", disse Tang.

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